Documentário reúne moradores com memórias do rio limpo com um ‘grito’ por providência imediata
Um grito pela mobilização da sociedade e iniciativa do poder público pela recuperação do rio Marinho. Essa pode ser uma síntese do objetivo do documentário Marinho, com direção e produção de Farid Sad, que será lançado na próxima segunda-feira (5) no Cine Metrópolis, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O filme foi produzido de forma totalmente independente, com recursos próprios e trabalho voluntário de toda a equipe, movida pelo sonho de ajudar a realizar as mudanças que o rio precisa para voltar a ser balneável, honrando sua história de belezas, farturas e afetos.
“É uma jornada cinematográfica que destaca a importância do rio Marinho para o desenvolvimento econômico da Grande Vitória e seu impacto nas comunidades locais, através de uma combinação de narrativas envolventes e animações cativantes”, descreve o diretor e produtor.
Formado em Engenharia Sanitária Ambiental no Instituto Federal do Estado (Ifes), ele afirma ter consciência de que já existe tecnologia e dinheiro disponível para recuperar o rio Marinho e o que falta para que isso aconteça é a mobilização da sociedade para pressionar os gestores públicos. “A ideia é fazer barulho para que chegue ao maior número possível de pessoas e àqueles com o poder de caneta e decisão. Para que que mude a realidade desse rio”.
As medidas necessárias, elenca, começam com o fim do lançamento de esgotos e resíduos, o que requer obra de engenheira sanitária, e passa também por urbanização das margens e educação ambiental.
O problema, avalia, é que “esgotamento sanitário não dá voto”, então, ações essenciais como essa ficam, quando muito, só no discurso. “O abastecimento de água para a população dá voto. Água chegando limpa na torneira gera voto. Mas esgoto é escondido e não dá voto. A política no nosso país é de quatro em quatro anos. Qual é o plano de saneamento no Brasil? Não existe. O saneamento está no discurso, mas a prefeitura está mais preocupada em macrodrenagem, para parar os alagamentos, que é quando as pessoas se lembram que existem rios urbanos”, aponta.
“Dinheiro tem! Não são coisas caras de fazer. Tudo simples, barato, toda tecnologia disponível. No final das contas é vontade política. Por isso fazer o filme aos trancos e barrancos para fazer barulho enquanto sociedade e chamar atenção do poder público”, reforça.
O filme é inspirado no livro “Lembranças do Rio Marinho”, escrito pelo mestre em Arquitetura e Urbanismo, Juliano Motta Silva, e apresenta relatos comoventes de capixabas que testemunharam o rio quando ainda servia de sustento para famílias da região.
“Quando criança eu brincava em volta do rio Marinho, ele já era um valão, mas sempre ouvi as histórias de quando ele era limpo. Quando li o livro do Juliano, vi que tinha que fazer um filme sobre isso”, conta. “O livro é fantástico, o rio Marinho teve a primeira transposição de água do Brasil em 1712! As pessoas não sabem dessa história”, exclama.
O roteiro apresenta figuras notáveis, como Dona Ignacinha e Seu Joaquim, moradores de Cobilândia, cujas histórias revelam a profunda conexão emocional com o rio e o sonho de vê-lo restaurado. Suas experiências e lembranças enriquecem a produção, fornecendo uma visão íntima de como o rio Marinho moldou a vida das pessoas ao seu redor.
Durante o lançamento, será feita uma homenagem a S. Joaquim, que faleceu nessa quarta-feira (31). “O filho deve estar presente. Foi um dia muito difícil para a gente. Eu sentia o S. Joaquim como um avô para mim. Mas que bom que o entrevistamos, imortalizamos a história dele”.
Além dos relatos de moradores, Marinho apresenta comentários do historiador Fernando Achiamé sobre o contexto histórico da época, além da perspectiva de especialistas técnicos que discutem tanto a viabilidade como a importância da recuperação do rio, como as professoras Mariângela Dutra e Raquel Borges. “Suas contribuições fornecem uma base sólida para compreender como e por que é possível restaurar o equilíbrio ecológico e socioeconômico do rio Marinho”, ressalta Farid Sad.
O produtor conta que diversos órgãos estaduais e municipais, além do Ifes e Ufes, confirmaram presença no lançamento. “A gente espera que eles realmente conheçam o filme, se sensibilizem e façam o que tem que ser feito”, afirma.
“É um sonho ver esse rio recuperado. O filme é um grito nosso, da sociedade! A ideia é explicar o que precisa ser feito para se questionar: então por que não estamos fazendo?”, provoca. “Quem sabe o rio Marinho não seja o pioneiro a realizar essa vontade da população de recuperar os rios urbanos?”, profetiza.
Serviço
Lançamento do documentário Marinho
Quando: 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, às 19h
Onde: Cine Metrópolis, no campus de Goiabeiras da Ufes.
Entrada: Gratuita
Pedido de reserva de vaga para o lançamento e informações sobre o documentário e futuras exibições podem ser feitas no Instagram da produtora Kambaku.