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Ocupação do Centro pela população periférica

Na Coluna: novo espaço cultural no Centro; “patifaria” e Marcha para Jesus; festival de cinema; e Itaúnas a lápis

Aos pés do morro da Fonte Grande, na rua Graciano Neves, está localizado o mais novo espaço cultural do Centro de Vitória, que se chama Artista Sem (Ser) Cult. Encabeçada pelos produtores culturais Jhon Conceito e Dani Andolphi, a novidade busca a pluralidade, mas com foco maior nos moradores da periferia, que, como destaca Jhon, são artistas. “Sobreviver é arte. Todo mundo que sobrevive na periferia é artista, quem acorda 4h da manhã para pegar o ônibus, trabalhar e voltar para casa, é artista”, afirma.

Divulgação

Em relação ao nome do espaço, Jhon explica que é uma referência ao fato de os artistas periféricos não serem considerados cult e serem vistos como pessoas “que fazem uma arte menor”, além de não terem “pai nem padrinho”. O Artista Sem (Ser) Cult abre de terça a domingo. Nos dias de semana, as atividades iniciam a partir das 18h. Aos finais de semana, às 10h. O local vende livros, quadros e outras expressões artísticas principalmente de artistas periféricos do Espírito Santo e de outros Estados, além de estar disponível para realização de atividades como saraus, rodas de conversa, exposições e apresentações musicais.

Bar

O Artista Sem (Ser) Cult conta, ainda, com um bar, chamado pelos produtores culturais de “bar raiz”, ou seja, “que tem aquele tira gosto que nossos avós comiam”. O cardápio traz críticas às dificuldades de acesso por parte dos artistas periféricos às políticas culturais, com drinks com nomes como “Suplente de Aldir Blanc” e “Não Habilitado na Lei Rouanet”. “As políticas de cultura precisam se desburocratizar. Como exigir MEI [Micro Empreendedor Individual] de um artista de rua, que nem Carteira de Identidade tem?”, questiona Dani Andolphi.

Soma

A abertura de um novo espaço cultural só vem a somar nesse contexto de abandono do Centro e de inúmeros ataques às iniciativas que proporcionam lazer e acesso à cultura de maneira gratuita ou mais acessível financeiramente. Vale lembrar que o Artista Sem (Ser) Cult fica próximo ao Bar da Zilda e na mesma rua do Espaço Thelema, dois locais de referência em termos de resistência de grupos como as comunidades negra, periférica e LGBTQIA+.

Patifaria?

Redes sociais

Por falar em ataques às iniciativas que proporcionam lazer e acesso à cultura de maneira gratuita, não se pode deixar de registrar a fala do vereador de Vila Velha, Devanir Ferreira (Republicanos), na sessão da última segunda-feira (29). Sem nem ao menos explicar o porquê, ele chamou de “patifaria” o último Carnaval de rua em Vitória. De fato, houve patifaria sim, mas por parte da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que limitou o horário dos blocos no Centro, não garantiu infraestrutura, mas apoiou blocos de bairros considerados mais elitizados, como Jardim Camburi.

Marcha para Jesus

O vereador chamou o Carnaval de “patifaria” durante a votação do requerimento de urgência simples de um projeto de sua autoria, que torna a Marcha para Jesus patrimônio imaterial, cultural, religioso e turístico de Vila Velha. Ao justificar sua proposta durante a sessão, afirmou querer valorizar a Marcha para Jesus, porque se a pessoa a frequenta, “é óbvio que quer compromisso com Deus”. Ele disse isso após criticar não somente o Carnaval, mas também a Marcha da Maconha, “com um monte de maconheiro, senão não estariam na Marcha da Maconha”.

Questionável

O compromisso com Deus destacado pelo vereador na Marcha para Jesus foi, inclusive, questionado, e com razão, por lideranças religiosas em julho do ano passado, quando participantes da Marcha fizeram apologia ao armamento e incluíram na programação uma motociata de recepção ao então presidente Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião o presbítero Nilton Emmerick Oliveira, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, criticou o fato de os participantes terem desfilado com uma arma gigante e disse que “a Marcha era para Jesus, mas esqueceram de convidá-lo”.

Instrumentalização da Fé

A mesma ideia foi defendida pelo membro da Rede Nacional de Assessores do Centro de Fé e Política Dom Helder Câmara, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Maurício Abdalla. Com base na Doutrina Social da Igreja Católica, ele afirmou que a Marcha para Jesus do ano passado se tratou da “instrumentalização da fé em função de uma candidatura e de uma agenda armamentista”.

O Carnaval é a opção

Entre a suposta “patifaria” do Carnaval e o pseudo compromisso com Deus na Marcha, a coluna escolhe a primeira opção. Como bem dizia Dom Helder Câmara, “Carnaval é a alegria popular”, “uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida”. E venhamos e convenhamos, nos últimos quatro anos, alegria foi o que menos o povo brasileiro sentiu por causa da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ovacionado na Marcha e que atacou minorias, incentivou o negacionismo durante a pandemia, destruiu políticas culturais e ambientais, sucateou a educação pública federal, e etc!

Festival de Cinema I

O Festival de Cinema de Vitória completa três décadas este ano. Para comemorar, será realizada a Mostra Comemorativa 30 Anos Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 14 a 18 de junho de 2023, no Sesc Glória, Centro de Vitória. O evento contará com uma programação que apresenta um panorama do cinema brasileiro. Na parte da tarde, serão exibidos 20 curtas-metragens, sempre a partir das 15h. Nas exibições noturnas, que tem início às 19h, serão exibidos dois filmes: um longa-metragem e um curta-metragem capixaba.

Festival de Cinema II

A 30ª edição do Festival de Cinema de Vitória será no segundo semestre, de 19 a 24 de setembro, com a safra atual e inédita do cinema brasileiro, além de debates, mesas redondas e outras atividades. Nesses 30 anos, o público pôde conferir gratuitamente aproximadamente dois mil curtas-metragens selecionados, além de mais de 180 longas-metragens, vindos de todas as regiões do Brasil. Foi a partir desse material, que a comissão de seleção escolheu os filmes que fazem parte da Mostra Comemorativa 30 Anos.

Itaúnas a lápis

Divulgação

Foi inaugurada nessa sexta-feira (2) e prossegue até 10 de junho, a exposição Poesia em Preto e Branco, do artista Renato Filho. Nela estão reunidas 20 telas em grafite sobre a “Nova Itaúnas”, registrando em lápis e papel como a famosa vila litorânea de Conceição da Barra se reconstruiu após a antiga ser coberta pelas dunas de areia. A exposição, cuja visitação é gratuita, está no CEU das Artes, em Guanabara, Anchieta, sul do Estado.

Até a próxima coluna!

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