Declarações do senador abordam tramas contra a democracia que, se confirmadas, podem resultar em prisão
As fantasiosas narrativas do senador Marcos do Val (Podemos) nas redes sociais, para marcar a figura de super-herói e reforçar uma questionada passagem dele como instrutor da Swatt [Táticas e Armas Especiais, na sigla em inglês], é que serão confrontadas com o material apreendido nos três endereços alvos de busca e apreensão da Polícia Federal nesta quinta-feira (15), em Brasília e Espírito Santo. O depoimento será marcado depois da perícia nos celulares e computadores apreendidos na operação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais.
Apesar de parecer coisa de adolescentes, o comportamento do senador, de 52 anos completados no dia da operação da PF, envolve tramas reais e perigosas contra a democracia, incluindo golpe de Estado e obstrução da Justiça, que, se confirmadas, poderão levá-lo à perda de mandato e condenação à prisão.
Segundo o Código Penal, para esses crimes a pena varia de três a oito anos de reclusão, mais multa, “sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.
Até então desconhecido instrutor de segurança, como ele se autointitula, Marcos do Val ganhou notoriedade a partir de 2018, elegendo-se senador da República pelo PPS, seu partido na época, levantado pelo então candidato ao governo Renato Casagrande (PSB). Obteve 863.3 mil votos (24,08%), desbancando o senador bolsonarista Magno Malta (PL) e o atual vice-governador, Ricardo Ferraço (PSDB), candidatos à reeleição.
Eleito, logo abandonou o partido e juntou-se ao grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), juntando-se com ala da extrema direita, ao lado do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB), do Rio de Janeiro, que está preso. O ex-deputado será ouvido no processo de Marcos do Val.
Essa decisão foi tomada depois que a Polícia Federal identificou conversas entre Silveira e o senador, reforçando a suspeita de que os dois, juntamente com outros bolsonaristas, tramavam sabotar investigações sobre o atos de 8 de janeiro e fazer ataques ao STF, entre outras instituições, a fim de desviar as responsabilidades nos atos golpistas em Brasília.
Das fantasias do senador, a mais emblemática é relacionada à Swatt, marca que ele carrega em um broche na lapela diariamente e que ilustra seu perfil do Twitter. Na imagem, ele abre o paletó para mostrar um uniforme com operações militares por baixo da camisa. Tipo super-herói, da produtora cinematográfica Marvel, que gerou uma resposta debochada do ministro da Justiça, Flavio Dino, ao ser inquirido no Senado.
“Se o senhor é da Swatt, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece? Capitão América, Homem Aranha…”, disse o ministro, reforçando a polêmica que tem base no fato de não existir uma instituição formal com esse nome nos Estados Unidos. A denominação é usada para identificar batalhões de operações especiais das forças de segurança de algumas cidades.
Ameaçado de perder o mandato e com as contas nas redes bloqueadas, Marcos do Val já encontra dificuldade de manter seu nome em evidência. Nos seus perfis, aparece “Conta retirada” ou “@marcosdoval foi retirada no Brasil em resposta a uma determinação legal”. Já no Instagram, “não está disponível”.