Lorenzo Pazolini anunciou lançamento do edital para reconstrução do equipamento, que deve ser inaugurado em 2024
A notícia da reconstrução do Restaurante Popular na Ilha de Santa Maria, em Vitória, foi bem recebida por entidades da sociedade civil, mas não sem críticas à demora para se tomar essa iniciativa, o que fez com que a Capital passasse toda a pandemia da Covid-19 sem uma política de segurança alimentar e nutricional. Conforme anunciou o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), nesse domingo (18), o edital para reconstrução será lançado nesta quarta-feira (21), às 11h, no prédio da prefeitura.
Jaqueline Moreira de Araújo, que atua voluntariamente na secretaria executiva do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea), já que desde o início do mandato a gestão municipal não contratou ninguém para cumprir essa função, afirma que, diante das reiteradas reivindicações do colegiado pela reconstrução, a administração já havia informado que a reabertura estava prevista para 2024. “Está tudo sendo feito dentro dos prazos, do tempo que estabeleceram, mas não dentro do tempo da fome, que não espera”, enfatiza.
Ela relata que a reconstrução foi debatida mensalmente em 2021, quando foi feito um termo de referência junto com a Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional da prefeitura. O colegiado fez algumas observações quanto ao funcionamento e defendeu que o valor da refeição deveria ser de no máximo R$ 2,00, além de garantir a gratuidade para pessoas em situação de rua, mas a gestão, afirma, chegou a cogitar preço de mercado, por volta de R$ 14,00.
Outras pontuações feitas pelo Comsea foram de que o atendimento deveria ser universal, mas a prefeitura defendeu a utilização de recorte social, e que no almoço deveriam ser servidas 2,5 mil refeições, mas conforme afirmou Pazolini em suas redes sociais, serão 1,6 mil no almoço e 500 no jantar. O Comsea não chegou a pontuar uma quantidade para essa refeição.
A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória também vem há tempos defendendo a reabertura do equipamento, que considera uma importante política de segurança alimentar e nutricional para as pessoas em situação de rua. O coordenador da Pastoral, Júlio César Pagotto, acredita que, com a possibilidade de obter refeições diárias, esse grupo terá mais chances de buscar alternativas para melhorar a qualidade de vida.
Ele relata que buscar comida é uma das tarefas que mais tomam tempo das pessoas em situação de rua, pois elas têm que mendigar ou procurar. O agente de pastoral crê que, com o restaurante, elas poderão ter mais tempo para se dedicar a atividades como estudo e outras que o ajudem, por exemplo, a se inserir no mercado de trabalho e arranjar uma moradia. Além disso, destaca, o próprio fato de sentir fome faz com que elas não tenham condições de buscar possibilidades de uma vida melhor.
Entretanto, Júlio lamenta que o restaurante tenha ficado fechado durante a pandemia, apesar das inúmeras mobilizações da sociedade civil pela sua reabertura. “Por que só agora? A fome se agravou na pandemia. Por que efetivar isso só no último ano de mandato, e não no início?”, questiona.
A representante do Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória no Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, Ana Petronetto, acredita que o tardar da reconstrução é uma atitude “eleitoreira”.
Ela aponta que a gestão municipal precarizou diversos serviços, inclusive os da área de segurança alimentar e nutricional, e exonerou profissionais considerados competentes para colocar no lugar pessoas sem a mesma qualificação. “Não fez nenhuma questão de resgatar antes, empurrou com a barriga até agora. A eleição vem aí, ele vai querer reconstruir, inaugurar bem perto da eleição”, destaca.
O Restaurante Popular foi criado em 2005, durante o governo de João Coser (PT), quando Ana Petronetto estava à frente da pasta de Assistência Social, no bojo da implementação de políticas federais para segurança alimentar.