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​Organizações criticam demora na reconstrução do restaurante popular de Vitória

Lorenzo Pazolini anunciou lançamento do edital para reconstrução do equipamento, que deve ser inaugurado em 2024

A notícia da reconstrução do Restaurante Popular na Ilha de Santa Maria, em Vitória, foi bem recebida por entidades da sociedade civil, mas não sem críticas à demora para se tomar essa iniciativa, o que fez com que a Capital passasse toda a pandemia da Covid-19 sem uma política de segurança alimentar e nutricional. Conforme anunciou o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), nesse domingo (18), o edital para reconstrução será lançado nesta quarta-feira (21), às 11h, no prédio da prefeitura.

Jaqueline Moreira de Araújo, que atua voluntariamente na secretaria executiva do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea), já que desde o início do mandato a gestão municipal não contratou ninguém para cumprir essa função, afirma que, diante das reiteradas reivindicações do colegiado pela reconstrução, a administração já havia informado que a reabertura estava prevista para 2024. “Está tudo sendo feito dentro dos prazos, do tempo que estabeleceram, mas não dentro do tempo da fome, que não espera”, enfatiza.

Fechado desde 2016, na gestão do então prefeito Luciano Rezende (Cidadania), o prédio onde funcionava o equipamento, precisa de reparos em sua estrutura, que não foi desfeita devido a uma ação dos conselhos municipal e estadual de segurança alimentar junto com o Ministério Público Estadual (MPES) e a Defensoria Pública Estadual (DPES).
Divulgação/PMV

Ela relata que a reconstrução foi debatida mensalmente em 2021, quando foi feito um termo de referência junto com a Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional da prefeitura. O colegiado fez algumas observações quanto ao funcionamento e defendeu que o valor da refeição deveria ser de no máximo R$ 2,00, além de garantir a gratuidade para pessoas em situação de rua, mas a gestão, afirma, chegou a cogitar preço de mercado, por volta de R$ 14,00.

Outras pontuações feitas pelo Comsea foram de que o atendimento deveria ser universal, mas a prefeitura defendeu a utilização de recorte social, e que  no almoço deveriam ser servidas 2,5 mil refeições, mas conforme afirmou Pazolini em suas redes sociais, serão 1,6 mil no almoço e 500 no jantar. O Comsea não chegou a pontuar uma quantidade para essa refeição.

A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória também vem há tempos defendendo a reabertura do equipamento, que considera uma importante política de segurança alimentar e nutricional para as pessoas em situação de rua. O coordenador da Pastoral, Júlio César Pagotto, acredita que, com a possibilidade de obter refeições diárias, esse grupo terá mais chances de buscar alternativas para melhorar a qualidade de vida.

Ele relata que buscar comida é uma das tarefas que mais tomam tempo das pessoas em situação de rua, pois elas têm que mendigar ou procurar. O agente de pastoral crê que, com o restaurante, elas poderão ter mais tempo para se dedicar a atividades como estudo e outras que o ajudem, por exemplo, a se inserir no mercado de trabalho e arranjar uma moradia. Além disso, destaca, o próprio fato de sentir fome faz com que elas não tenham condições de buscar possibilidades de uma vida melhor.

Entretanto, Júlio lamenta que o restaurante tenha ficado fechado durante a pandemia, apesar das inúmeras mobilizações da sociedade civil pela sua reabertura. “Por que só agora? A fome se agravou na pandemia. Por que efetivar isso só no último ano de mandato, e não no início?”, questiona.

A representante do Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória no Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, Ana Petronetto, acredita que o tardar da reconstrução é uma atitude “eleitoreira”. 

Ela aponta que a gestão municipal precarizou diversos serviços, inclusive os da área de segurança alimentar e nutricional, e exonerou profissionais considerados competentes para colocar no lugar pessoas sem a mesma qualificação. “Não fez nenhuma questão de resgatar antes, empurrou com a barriga até agora. A eleição vem aí, ele vai querer reconstruir, inaugurar bem perto da eleição”, destaca.

O Restaurante Popular foi criado em 2005, durante o governo de João Coser (PT), quando Ana Petronetto estava à frente da pasta de Assistência Social, no bojo da implementação de políticas federais para segurança alimentar. 

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