Vereadora Karla Coser defende uma polícia mais humanizada e o desenvolvimento de programas
“Essa é uma tentativa mentirosa de colocar a esquerda contra a polícia”, disse a vereadora Karla Coser (PT) nesta terça-feira (27), ao responder aos ataques desferidos por integrantes do campo conservador na Câmara de Vitória. Karla acabara de ler um manifesto de instituições do Território do Bem, na qual apontam equívocos do secretário de Segurança, coronel Alexandre Ramalho, no trato da violência no Espírito Santo, relacionada ao tiroteio ocorrido na madrugada desse sábado e domingo (24 e 25), resultando em três pessoas mortas.
Para Karla, a denúncia como a que acabara de ler representa a defesa dos bons policiais, de uma polícia mais humanizada, que age com responsabilidade. E citou a ausência de programas para as áreas de educação e saúde destinados às regiões periféricas, destacado gestões passadas, como as de Vitor Buaiz e João Coser, ambos do PT.
“Eu estou falando sobre segurança pública, mas já que o vereador Davi Esmael [PSD] veio tocar em um ponto de política eleitoral, eu digo por quê: o projeto político passado teve uma extensa campanha de fake news que vinha ocorrendo durante anos contra o Partido dos Trabalhadores, que foi intensificada na campanha de 2020 contra o hoje deputado João Coser, meu pai. Foi isso o que fez, em grande parte, a gestão Pazolini [Republicanos] ganhar as eleições”, disse Karla.
A vereadora explica porque leu a carta e sobre a morte do Carlos Eduardo Cabral de Oliveira, que tinha 16 anos e foi asfixiado e espancado até a morte. “Li a carta porque ela retrata a dor da periferia que só quer ter acesso e oportunidade como o resto da cidade e aí o vereador do vídeo teve a audácia de dizer que a morte do jovem foi por ausência de Deus! Ausência de Deus, vereador?”.
Ela mesma responde: “ou ausência de políticas públicas que ofereçam para a nossa juventude lazer, educação, saúde e emprego?! Também não adianta tentar colar a narrativa de que a esquerda é contra a polícia. Não somos. Nós queremos uma polícia humana, e isso não significa subir os morros com livros como alguns gostam de ‘debochar’ por aí. Queremos, sim, equipamentos qualificados para esses profissionais, mas a gente entende que a polícia precisa ser responsabilizada quando ela se excede”.
O documento lido por Karla critica a o posicionamento de Ramalho, que tenta jogar a responsabilidade da “violência ao tráfico de drogas, à ausência de leis rígidas e às famílias empobrecidas, sem analisar a responsabilidade do Estado e dos agentes de segurança no fornecimento das armas de fogo usadas pelos agentes do tráfico”. Ao questionar a vereadora, Davi Esmael, Luiz Emanuel (Republicanos) e Anderson Goggi (PP) desviaram os ataques para o campo político, citando o PT e o Psol como defensores de traficantes.
Anderson Goggi creditou ao “medo das urnas” as críticas de Karla ao sistema de segurança pública, que criminaliza as populações dos morros da cidade, apontando o coronel Ramalho como pré-candidato à Prefeitura de Vitória em 2024, que poderá concorrer com o deputado estadual João Coser. Nos meios políticos, no entanto, o coronel é visto como potencial concorrente em Vila Velha.
Davi Esmael chegou a afirmar que os partidos de esquerda defendem os “direitos dos manos”, em um trocadilho com direitos humanos, prática que não faz parte da visão de política pública do vereador. “O agente de segurança passa a ser culpado pela vereadora Karla Coser”, disse, distorcendo a colocação dela, e enfatizou que, “se necessário, o tráfico deve ser combatido com fuzil e com um míssil de Israel”.
Ao lado de Karla, o vereador André Moreira (Psol), cujo partido também foi atacado, relembrou a execução por um policial militar do jovem Carlos Eduardo Rebouças, em maio deste ano, em Pedro Canário (norte do Estado), em “plena luz do dia”. O assassinato ocorreu quando a vítima já estava com as mãos amarradas, encostada a um muro. O vereador pergunta: “Será que se não tivesse a gravação, não se afirmaria que foi o tráfico?”.