A semana foi marcada pelo bombardeio de notícias e debates com o tema violência, sempre pelo caminho mais fácil. Mais uma vez, as discussões sobre encarceramento e redução da maioridade penal tomaram posição central da discussão, evitando o diálogo com questões sociais mais profundas e relevantes.
É preciso cuidado com esse discurso. A antecipação do debate eleitoral, o afunilamento com a redução de vagas proporcionais e a profusão de lideranças com peso eleitoral considerável que ameaçam quem tem mandato criam a necessidade de alguns quadros se inserirem no debate, com um discurso fácil e superficial, em busca de reconhecimento do eleitorado.
Em Brasília se discute a reforma do Código Penal e a redução da maioridade penal. Mas é preciso lembrar que a questão da idade é cláusula pétrea, não será mudada pela vontade de um ou grupos políticos. É preciso plebiscito.
Mas a massificação de um discurso de terror por parte dos meios de comunicação e a falta do aprofundamento do debate social vão acabar convencendo a população sobre a mudança, que no fundo não vai resolver o problema da violência, muito pelo contrário, vai aumentar o problema carcerário.
A discussão pelo caminho mais fácil pode até render votos no próximo ano. Pegando onda na carona da violência, a classe política canaliza seus debates nesse tema, enquanto isso os outros problemas se acumulam. É mais fácil pregar alguma coisa pautada na carência da sociedade do que cobrar ações que visem à valorização da vida, da educação, da saúde e da independência financeira da população. É preciso prometer algo, e quanto mais messiânico, melhor.
Basta ver a discussão sobre a universidade estadual. Para parte da classe política, a bolsa concedida para que o estudante possa ingressar no ensino superior, cursando faculdades particulares, é mais interessante. Por quê? Faculdades particulares atendem ao interesse de uma parcela do empresariado, enquanto o ensino público se dedica não só à formação, mas também à pesquisa e à extensão.
Em vez de criar expectativas para que a juventude possa sonhar com um futuro melhor, é preciso jogar a culpa pela omissão do Estado em alguém. Esse alguém já foi escolhido. São os jovens negros e pobres e, quem diria, a família, que não está cumprindo seu papel.
Nessas horas dá mesmo para acreditar na frase de Hubert H. Humphrey de que “Errar é humano. Culpar outra pessoa é política”.