Ex-presidente depôs por cerca de 35 minutos e disse que uma mensagem recebida do senador “era coisa de maluco”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou em seu segundo depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira (12), que se reuniu com o senador Marcos do Val (Podemos) e com o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), em dezembro de 2022, mas negou a participação em um suposto plano para gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, como parte de um golpe de estado. “Nada foi falado sobre equipamento de escuta ou gravação”, argumentou.
No depoimento, disse ter recebido uma mensagem de Marcos do Val, após a reunião, onde o senador encaminha um print de mensagem originalmente enviada ao ministro, dizendo que o presidente não estaria fazendo nada errado, mas que Daniel Silveira estaria tentando convencê-lo a prosseguir na execução de um plano. Por essa razão, “o declarante respondeu “coisa de maluco”, pois não havia entendido a mensagem”.
A investigação apura o envolvimento do ex-presidente em um plano golpista denunciado pelo senador em fevereiro deste ano, com acusações a Bolsonaro e Daniel Silveira de organizarem uma reunião, ainda no governo passado, para propor ao senador a sua participação.
O plano consistia em uma tentativa de gravar uma conversa com Moraes para obter provas que pudessem levar à anulação do resultado das eleições presidenciais de 2022. As investigações foram determinadas pelo ministro, em decorrência de declarações do senador, que depois apresentou várias versões sobre um golpe de estado.
O ex-presidente chegou à sede da Polícia Federal por volta das 14 horas e entrou pela garagem nos fundos do prédio, sem falar com a imprensa. Após o depoimento, que durou cerca de 35 minutos, declarou: “Nada foi tratado, não tinha nenhum plano, naquela reunião de aproximadamente 20 minutos, para alguém gravar o Alexandre de Moraes. Por que eu ia articular alguma coisa com o senador? O que tratou a reunião? Nada”, disse.
Na época, o senador detalhou a proposta com intenção golpista, mas primeiro disse que foi coagido. Depois, tentou livrar Bolsonaro. Após ouvir depoimentos de Do Val, a PF constatou que ele apresentou quatro versões antagônicas sobre o fato, o que demonstrou a necessidade da realização de diligências para o seu completo esclarecimento e para a apuração dos crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo.
No mês passado, Do Val foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) que realizou ação de busca e apreensão em suas residências em Vitória e no gabinete funcional em Brasília. O parlamentar também teve suas redes sociais suspensas. A ação foi autorizada por Alexandre de Moraes. O senador é investigado pelos crimes de divulgação de documento confidencial, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O caso tem relação com as investigações sobre os atos golpistas do 8 de janeiro.