Além de manter as três escolas cívico-militares atuais, a gestão de Euclério Sampaio (União), em Cariacica, pretende expandir o modelo para outras unidades de ensino. Prova disso é a aprovação, na sessão dessa segunda-feira (17), do Projeto de Lei (PL) 045/2023, que “instituiu a criação e transformação de unidades de ensino em escolas cívico-militares na rede pública de ensino fundamental do município”. A matéria, aprovada por unanimidade, não encontra apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Rede Pública do Espírito Santo (Sindiupes), que aponta ainda falta de diálogo da gestão municipal.
O PL foi apresentado na última sexta-feira (14) e tramitou em regime de urgência. De acordo com o diretor de Meio Ambiente e Educação no Campo do Sindiupes, Rogério Cipriano Moreira, a proposta foi aprovada sem audiência pública com amplo debate e participação das entidades que compõem o Conselho Municipal de Educação de Cariacica (Comec). “Lamentavelmente, a Câmara Municipal se furta ao debate com a categoria e a população do município. Por diversas vezes procuramos o diálogo com a Comissão de Educação e a Presidência da Câmara, e não obtivemos respostas”, enfatiza.
Rogério destaca que o Sindiupes acredita que a prefeitura, com apoio da Câmara, do sindicato, da comunidade escolar e de representantes da sociedade civil, “teria condições de realizar um amplo debate em torno de outras propostas, criando condições, oferecendo uma educação de qualidade, laica, com formação voltada para o espírito público-profissional e prática da ética e da cidadania”.
Ele aponta que o Sindiupes defende um modelo que acredita contrapor o das escolas cívico-militares, com “envolvimento cada vez maior da família e dos governos junto à escola, fazendo a comunidade escolar sentir-se de fato protagonista do saber junto aos professores, ao corpo técnico e todos funcionários de escolas, como o caminho para melhorar significativamente o ensino-aprendizagem, pois a formação e o compromisso educacional nos remete a trabalhar diversos temas: ética, cidadania, disciplina, responsabilidade, valores, costumes, tradições”, enumera.
Conforme consta na lei, o cargo de diretor da unidade de ensino transformada em escola cívico-militar será designado pelo chefe do executivo. O Sindiupes contesta, afirmando que “a gestão da escola pública, acessível e de qualidade se faz por meio dos dirigentes escolares escolhidos através do voto, que produz uma sintonia positiva junto à comunidade escolar, o que permite um desempenho mais eficaz no ato de ensino-aprendizagem”.
Na justificativa do projeto, a gestão municipal afirma que “a Educação do município de Cariacica contribui no desenvolvimento de valores para cada indivíduo, tais como disciplina, respeito à hierarquia, compromisso com o estudo, o respeito às leis, aos direitos e deveres do cidadão e da religião, contemplado em todas unidades de ensino”. Entretanto, destaca que para além disso as escolas cívico-militares preconizam “o civismo e o patriotismo, ambos com foco em bons resultados do processo de ensino aprendizagem numa perspectiva de Escolas Sustentáveis, tendo como referência a Educação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.
A transformação da unidade de ensino em escola cívico- militar, conforme consta no projeto, “acontecerá mediante análise técnica da Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal”. Além disso, “deverá seguir as orientações com base no Projeto Político Pedagógico, no Regimento Interno Comum das Escolas e Manual de Conduta da Unidade de Ensino para consolidação da Gestão Administrativa, Financeira, Pedagógica e Disciplinar”.
São apontados como alguns dos objetivos do modelo defendido
‘ser um lugar de produção de conhecimentos por meio de interações sociais, ofertar aulas de Ética e Cidadania com viés interdisciplinar, melhorar os Indicadores de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), aumentar o índice de aprovação entre os estudantes e reduzir os índices de violência na unidade de ensino e a criminalidade na comunidade escolar”.
Fim do Pecim
O PL foi enviado à Câmara após o Governo Lula (PT) encaminhar ofício aos secretários estaduais de Educação para comunicar o encerramento do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares (Pecim), bandeira política de Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após avaliação de uma equipe da Secretaria de Educação Básica, dos ministérios da Educação (MEC) e da Defesa (MD). O anúncio foi comemorado por profissionais da Educação.
Antes do envio, a gestão de Euclério Sampaio já havia afirmado que manteria as três escolas cívico- militares em funcionamento no município. Duas são de ensino regular: Terfina Rocha Ferreira, em Itacibá, e Afonso Schwab, em Jardim América. A outra, Coronel PM Orlady Rocha Filho, em Itanguá, é integral. As gestões de Arnaldinho Borgo (Pode), em Vila Velha; e a de Wanderson Bueno (Podemos), em Viana, também tomaram a mesma decisão.