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Ou trocamos os deputados ou nossos pulmões

Podemos dizer que os capixabas vivem um dilema: ou trocam os deputados ou “compram” um bom par de pulmões para aguentar seguir respirando o pó preto da Ponta de Tubarão que é despejado diariamente sobre a Grande Vitória. Como pulmão não vende no shopping, é mais fácil trocar os deputados. A data está próxima: 5 de outubro de 2014.
 
Se o eleitor estiver com dificuldade para escolher os nomes que devem deixar a Assembleia Legislativa no próximo ano, motivos não faltam para fazer uma boa lista. O mais recente é o fiasco da tentativa de instalação da CPI do Pó Preto. 
 
Proposta pelo deputado Gilsinho Lopes (PR), a Comissão Parlamentar de Inquérito, caso vingasse, teria a oportunidade única de pôr a pratos limpos, que são as grandes poluidoras as responsáveis pela péssima qualidade do ar que respiramos, que há mais de quatro décadas vem prejudicando a saúde dos moradores da Grande Vitória que, invariavelmente, sofrem de alguma doença respiratória. 
 
E olha que não foi por falta de empenho de Gilsinho que a CPI não saiu. Na semana passada, o deputado comemorava que havia conquistado 12 assinaturas, dois dias depois esse número caiu para vulneráveis 10 assinaturas – número mínimo para a instalação da CPI. E depois desse fim semana, para seis. 
 
Além de Gilsinho, assinaram Euclério Sampaio (PDT), José Esmeraldo (PR), Marcelo Santos e Hércules Silveira (ambos do PMDB). Aparecida Denadai (PDT), embora de licença médica, se comprometeu a assinar o documento. 
 
Pior do que os contrários à instalação da CPI são os deputados que entraram e saíram pelas portas dos fundos. Caso dos deputados Josias Da Vitória, Luiz Durão (ambos do PDT), Dary Pagung (PRP), Glauber Coelho (PR), Cacau Lorenzoni (PP), Marcos Mansur (PSDB) e Jamir Malini (PTN). Esses dois últimos, nesta segunda-feira (17), voltaram a dar uma ponta de esperança a Gilsinho. Afirmaram que poderiam aderir novamente à CPI. Mas já perderam a credibilidade. Quem garante que não vão mudar novamente de ideia? Inclusive, deveriam ter é vergonha de ameaçar entrar novamente. 
 
De concreto mesmo, o grupo puxado por Gilsinho conta com seis assinaturas, sem perspectiva de conquistar as quatro faltantes. 
 
Como prometera na semana passada, na sessão da Assembleia desta segunda-feira (17), o autor do pedido da CPI pôs os pingos nos is. Ele esclareceu por que a CPI recrudesceu da última semana para cá.
 
Imediatamente após tomar conhecimento do pedido, a Vale mobilizou sua “tropa de choque”. O relações públicas da empresa, Luiz Soresini, ficou encarregado de fazer o “lobby” na Assembleia. Sua missão era dissuadir os “rebeldes” favoráveis à CPI e assegurar que os que não tinham assinado permanecessem fiéis à poluidora. Palavras de Soresini: ''É fácil derrubar uma CPI nesta Casa''. 
 
Outra corrente de pressão veio do Palácio Anchieta. A Casa Civil teria mobilizado o presidente da Comissão de Meio Ambiente, Gildevan Fernandes (PV), só na sigla, para costurar os acordos com os deputados da comissão, que deveriam justamente estar à frente da CPI. Funcionou. Eles acabaram recuando.
 
Gilsinho, no desabafo desta tarde, resumiu a manobra dos deputados que voltaram atrás. “Eram sete colegas (dissidentes) que eu tinha a mais profunda consideração. Eles leram a CPI e entenderam por assinar, não coloquei o revolver na cabeça de ninguém. Mas decidiram retirar o apoio. O que mais me preocupa é o fato que um dos que armaram isso deveria ser um dos mais atentos à questão ambiental. No entanto, nós ficamos a mercê das poluidoras”, disse Gilsinho em clara alusão à articulação rasteira de Gildevan.
 
Não bastasse, o PT, que historicamente deveria ser o partido das causas sociais, apoiou a poluidora sem pestanejar. Comandados por Cláudio Vereza, que respira há décadas o pó preto da Vale na Barra do Jucu, Vila Velha, a bancada de cinco deputados jogou a pá de cal derradeira nas esperanças de Gilsinho. 
 
Para justificar a posição contrária do PT, Vereza se valeu de um argumento estapafúrdio. Disse que seria necessária uma discussão mais ampla sobre o tema e blá, blá, blá…
 
A patuscada dos que assinaram e voltaram atrás, o “lobby” do presidente da Comissão de Meio Ambiente para defender os interesses da poluidora e a posição do PT contrária à história de luta social que originou o partido, são ainda mais reprováveis que a decisão dos deputados que se recusaram logo de cara a assinar o documento que instalaria a CPI. 
 
A posição segue na contramão da saúde da população, mas pelo menos a sociedade sabe com quem está lidando. Quanto aos outros…

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