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No escurinho do cinema

O que acontece lá dentro que as pessoas saem com uma aparência feliz, rindo ou chorando?

Gasto mais tempo procurando um filme que possa me agradar na Netflix do que as duas horas necessárias para ver o filme finalmente escolhido. Mudo para o Prime, depois para o HBO, depois…a noite se gasta na busca insana, procura-se um bom filme desesperadamente. Vou dormir pois amanhece. Nenhum filme ou filmes demais? Sou muito exigente ou não se fazem mais filmes como antigamente?

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No único cinema da minha alegre juventude, passava um filme por semana. A gente ia, não importando que filme estava passando. Se fosse bom, sorte da plateia, todos saindo do cinema rindo ou chorando. Se não fosse, ninguém ia embora no meio da sessão. Mais das vezes, o filme era tão antigo que os artistas já tinham engordado. Mais das vezes o filme vinha de volta, mas valia a pena ver de novo, afinal o preço do ingresso não era de assustar o pipoqueiro.

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Quando criança minha mãe morava no interior, sem escola primária. Foi estudar em Cachoeiro, morando na casa de uma tia. O trajeto casa-escola passava pelo cinema, e ela morria de curiosidade – o que é cinema? O que acontece lá dentro que as pessoas saem com uma aparência feliz, rindo ou chorando? Dizem que a curiosidade matou o gato: mamãe não resistiu e entrou na sessão da tarde – pagou ingresso só para dar uma olhadinha.

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Chegou em casa cinco minutos atrasada – e foi mandada de volta para o interior – sem escola. Nem todas as lágrimas de todos os filmes dramáticos da Bete Davis moveram a tia. Na idade adulta, era fã de Charles Boyer, francês, e Greta Garbo, a divina sueca. Hoje temos ao alcance do controle remoto todos os indicados para o próximo Oscar e todos os filmes antigos que minha mãe não viu. Remasterizados, eles anunciam.

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O primeiro filme que vi foi uma projeção no coreto da cidade, com as crianças sentadas no chão, uniformizadas – saia vermelha pregueada, blusa branca. Cenário: um galinheiro cheio de galinhas suculentas. Bad guy: Uma raposa esfomeada, que usava muitos truques para pegar uma delas. Mas nada funcionava: as galinhas nunca deixavam o galinheiro.

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Um dia a raposa encontra uns cacos de vidro no lixo, arranja umas latas de tinta e pinta os cacos de azul com estrelas amarelas. Joga os cacos no galinheiro, gritando: O céu está desabando! Desesperadas, as galinhas saem correndo e a raposa papa todas elas. Imoral da história, no primeiro filme que vi, o mau-caráter levou a melhor. Sem drops de anis.

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