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A Filosofia

O homo sapiens avaliando seu dom de pensar

A história ocidental do surgimento da filosofia na Grécia, datada entre o Século VII e VI a.C., trata da necessidade e tentativa do ser humano ocidental explicar o mundo ao seu redor. Uma inquietação, frente ao desconhecimento, que traz a filosofia como ferramenta de busca da compreensão.

A partir de Sócrates (Séc. IV a.C.) a investigação, antes voltada à busca da origem das coisas, a “arché”, é direcionada também à educação, política e ética. Nesse momento se estabelece que o homem vive para o desenvolvimento de virtudes e nasce o “homem bom”.

Com a chegada do cristianismo e a ascensão do poder da igreja sobre as pessoas, inclusive de suas vidas íntimas, de alguma forma a filosofia também foi subjugada. Passou a ser um instrumento de justificação da fé, num malabarismo reflexivo destacado principalmente com Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) e Tomás de Aquino (São Tomás de Aquino). As influências desse longo período da idade média chegam também à modernidade, com a “deusa razão” cartesiana.

Podemos entender a modernidade como início da libertação da filosofia. René Descartes, ao colocar o pensamento como prova irrefutável da existência e estabelecer o método para universalização das ciências, mesmo ainda com medo do poder da igreja, começa a derrubar verdades dogmáticas e passa a localizar a ciência no posto de detentora da “verdade”.

Bem, o desmoronamento dos dogmas da igreja, minando as crenças, atira ao deserto as certezas de “ser”. Passamos a nos enxergar como “sendo”, incompletos, em construção, ainda sem respostas às perguntas radicais.

Ao mesmo tempo que podemos considerar toda esta trajetória do pensamento ocidental uma evolução, não dá para negar a condição humana frente aos acontecimentos. A modernidade também traz consigo a angústia da falta de propósito para a vida, muito bem retratado por Albert Camus em O Mito de Síssifo e a filosofia do absurdo.

Este ser solitário e desamparado, em busca da significação de seus dias, vaga pelas novas mídias e suas redes sociais cheias de mestres e gurus do bem viver. Ali de tudo aparece, de reflexões profundas lastreadas em grandes pensadores clássicos e contemporâneos, até “iluminados” mudando a forma geométrica do planeta.

Esta reflexão nos questiona se a filosofia tem um papel no desenvolvimento do pensamento humano, além daquele que instiga a movimentação da ciência para a busca de respostas. Se a filosofia é como a coruja de minerva e seu voou contemplativo ao entardecer ou se é mesmo o hábito de buscar, com os dados da realidade obtidos com segurança pela ciência, pensar no curso da vida, na significância desses dados para sua melhor compreensão, com o objetivo de: compreendendo melhor o mundo, melhorar nossa vida.

Que seja “instrumental” ou simplesmente contemplativa, a atitude filosófica sempre trará vida melhor ao estudante/praticante, mesmo que não mude a realidade, mesmo que revele o desamparo com “o crepúsculo dos ídolos”. Põe o ser humano em seu lugar próprio, fora da caverna enganadora das sombras de verdade. A busca elimina a inquietação do desconhecimento e traz o ser pensante para o desafio de sua própria natureza a exercitar o seu dom.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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