Ensinavam mil jeitos de achar casamento, segurar namorado escorregadio, trazer de volta marido fujão
As festas juninas se encerram com o dia de São Pedro e deixam saudades – até o ano que vem. Para as coisas boas o tempo demora a passar. Foi-se a metade do ano e nos preparamos para o que ainda vem por aí. O tempo não para e já não se pega o bonde andando. O ser humano, esse desconhecido sem rosto e sem identidade, é persistente: esquece o que não vale a pena lembrar mas espera que tudo melhore daqui a pouco. Ou no mês que vem.
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Enquanto isso, na dança da vida vão rodopiando bons e maus, ricos e pobres, justos e pecadores, políticos e eleitores. Votantes e votados remam no mesmo barco, os primeiros se perguntando por que votei nesse cara, os segundos se perguntando se serão reeleitos nas próximas eleições. No circo ali do lado, o palhaço gargalha – Isso é que é coragem!
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As chamadas festas juninas se esticam pelo mês de julho. Nos forrós animados, mais uma chance de usar o vestido de rendas e babados que nada tem de caipira e custou uma boa nota. A quadrilha é remanescente dos bailes requintados da corte francesa, em um tempo em que a França ditava a moda no Brasil. O americanismo superou, pior pra nós.
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Quando criança em Alegre, as quadrilhas eram marcadas em francês: En avant tour, virou alavantu – todos em frente.. En arriere virou anarriê: Todos para trás. A gente não entendia mas se divertia do mesmo jeito, com vestidos de chita barata e muitos lacinhos de fita; uma rodelinha de ruge nas bochechas já coradas pela vida ao ar livre.
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Já o casamento na roça é coisa nossa: o pai de espingarda na mão, o delegado e o padre. Totalmente machista: o sujeito só se casava porque o pai era bravo. E na mira de uma arma. As rezas e adivinhações, tão comuns nos tempos de antanho, não se usam mais. Caíram em desuso como o fogão de barro branco e picolé de groselha.
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Havia tratados ensinando mil e um jeitos de achar casamento, segurar um namorado escorregadio, trazer de volta marido fujão. Ou saber se a menina sonhadora acharia seu grande amor perdido em algum lugar da imensa floresta humana. Põe água na bacia e deixe no sereno em noite de lua cheia; joga umas cascas de laranja dentro. De manhãzinha, as tiras de casca formariam a primeira letra do nome daquele com quem iria se casar. Não me lembro de nenhuma adivinhação apropriada para o lado masculino.