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‘Difusão da cultura científica ajudar a evitar distorções como o terraplanismo’

Núcleo de Cosmologia e Astrofísica da Ufes realiza evento em Matilde, com atividades abertas à comunidade

Divulgação

A ciência está ao alcance de todos e a disseminação do conhecimento científico é fundamental para elevar a consciência humana e evitar distorções como o terraplanismo, que tomou força no Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

A reflexão surge no bojo do Inverno Astrofísico 2023, evento do Núcleo de Astrofísica e Cosmologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Cosmo-Ufes), que este ano acontece na estação ferroviária de Matilde, distrito de Alfredo Chaves, na região serrana, a cerca de 95 km de Vitória.

O Inverno Astrofísico é uma escola científica voltada para estudantes de graduação e pós-graduação em Física e áreas afins, que tenham interesse em se especializar em temas como gravitação, cosmologia e astrofísica. Realizado desde 2018, tem como objetivo proporcionar um ambiente propício para discussões e aprendizado, que seja descontraído e favoreça a interação palestrante-aluno.

A programação inclui minicursos e palestras que serão ministrados por professores da Ufes, juntamente com convidados de universidades e centros de pesquisa que são referência em astrofísica no Brasil, como a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

Dentre os assuntos que serão abordados estão: ondas gravitacionais, gravitação, modelos de inflação, gravitação quântica, física solar, equilíbrio das estrelas, perturbações de densidade do universo, buracos de minhoca, estrelas de nêutrons, estrutura causal e estabilidade de buracos negros.

Há também uma série de atividades abertas para a comunidade local, como exibições de filmes e visualizações do céu com telescópio. Essa aproximação com a sociedade leiga é uma constante nas atividades do Cosmo-Ufes e de outros setores da Ufes vinculados à Física e à Astronomia, como o Planetário.

“Faz parte de uma série de atividades do núcleo, que é dedicado à pesquisa e extensão. A ideia é sempre tentar fazer atividades com telescópio, palestras, para difundir a cultura científica. É uma forma de, entre outras coisas, evitar que distorções como o terraplanismo não se propaguem mais, pois as pessoas passam a entender porque a ciência faz afirmações e como é o processo de conhecimento científico”, argumenta o professor Júlio César Fabris, membro do comitê científico do Inverno Astrofísico.

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Em outros eventos anuais e bianuais essa interação também ocorre, como é o caso do Verão Quântico (realizado nos anos ímpares) e da Escola José Plínio de Cosmologia (anos pares). “São eventos internacionais de ‘pesquisa pura e dura’, que dão visibilidade às pesquisas desenvolvidas no Espírito Santo e que inserem o Estado no circuito científico internacional. São voltados ao público universitário, mas sempre realizamos atividades abertas também”, conta.

Sustentabilidade

No caso do Inverno Astrofísico 2023, o professor explica que, exatamente devido a esse olhar para a sociedade em geral, o evento tem um foco importante em ciência básica – e um dos temas de destaque é o das ondas gravitacionais, um dos aspectos da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, mais discutidos atualmente -, mas também envolve aspectos que têm interesses mais amplos, como as mudanças climáticas e sustentabilidade.

“Astrobiologia e exoplanetas [planetas que estão fora do Sistema Solar] são temáticas voltadas a compreender a origem da vida e a existência da vida em outros sistemas planetários. Isso provoca debates sobre por que a vida surgiu na Terra, o que obviamente gera discussões sobre as condições necessárias para se manter a vida no nosso planeta”, exemplifica Fabris.

Na primeira noite na estação ferroviária de Matilde, haverá uma palestra sobre os satélites lançados para a observação do espaço e do cosmos. “Tanto os lançados mais recentemente, quanto os mais antigos. São formas de entender como a ciência produz o conhecimento e porque as afirmações científicas não são arbitrárias, mas partem de estudos profundos”.

Outra importante atividade aberta à comunidade é a exibição do filme 2001 – uma Odisseia no espaço, um clássico da ficção científica de Stanley Kubric, lançado em 1968. “Vamos fazer uma exibição pública seguida de debate entre os presentes”.

O professor Junior Diniz Toniato, também membro do Comitê Organizador do Inverno Astrofísico, acrescenta uma outra função importante dos eventos científicos e suas pontes com a sociedade, que é disseminar o conhecimento produzido no Espírito Santo, na Ufes, e mostrar que a ciência está acessível a todos. “Qualquer um que se interesse, pode seguir a carreira científica”, convida. “Mesmo em eventos mais avançados, a gente sempre leva para dentro da comunidade local algum diálogo, alguma ponte. Porque não importa quão complicado é a ciência produzida, ela pode ser acessível às pessoas, o é importante é a forma como ela é comunicada”, pondera.

Um olhar especial é direcionado às crianças e jovens. “O nosso núcleo busca atender escolas de ensino médio no interior do Espírito Santo e estimular o caminho do conhecimento, para que os jovens possam ter contato com a ciência, se vejam estimulados a continuarem seus estudos depois do ensino médio, queiram ingressar no ensino superior. Mesmo que depois eles se decidam por profissões de outras áreas, como Medicina ou Direito, mas a gente na Astrofísica faz a nossa parte levando a nossa ciência para eles”.

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Também repercutindo a provocação feita no título da matéria, Junior Toniato entende que a insurgência de movimentos com o terraplanismo em pleno Século XXI são em parte resultado de problemas estruturais na educação básica. “Nossos jovens e crianças não estão fazendo conexões entre o conteúdo aprendido na escola e o dia a dia deles. A gente aprende que a Terra é redonda desde muito cedo, isso é experimentalmente ensinado desde o ensino fundamental”, pontua, dando como exemplos a observação de eclipses e da mudança das sombras de objetos ao longo do dia. “São experiências que evidenciam os fortes indícios de que a Terra é redonda, de forma relativamente simples”.

Premiação

Ao final do evento, o melhor trabalho apresentado por um estudante de graduação receberá o prêmio Antônio Brasil Batista. Outros três trabalhos de alunos de graduação que se destacarem serão contemplados com menções honrosas.

O prêmio recebeu esse nome em homenagem ao professor da Ufes e um dos fundadores do Cosmo-Ufes na década de 1970, Antônio Brasil Batista. Tendo sido um entusiasta da criação da Escola Inverno Astrofísico, Batista formou um dos primeiros grupos de pesquisa em cosmologia e gravitação no país, que se tornou referência no cenário científico brasileiro. Ele permaneceu ativo em pesquisa, extensão, ensino e orientação acadêmica até o seu falecimento em 2020, aos 81 anos de idade.

O Cosmo-Ufes é um núcleo vinculado ao Departamento de Física do Centro de Ciências Exatas (CCE) da Ufes e envolve professores, estudantes de graduação e pós-graduação com a finalidade de ensinar, pesquisar e divulgar trabalhos científicos nas áreas de astrofísica, cosmologia e gravitação. O núcleo propicia o diálogo dos estudantes da Ufes com os de outras universidades e fomenta a troca de saberes.

Mais informações sobre o Inverso Astrofísico, acesse aqui

Sobre o Cosmo-Ufes, acesse aqui

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