Penso, logo existo! Disse séculos atrás o filósofo francês René Descartes, para diferenciar o humano do animal, através do uso da razão. E desde então, pensamos que pensamos, mas, geralmente, agimos sem pensar nas consequências ou temos medo de conhecer a realidade, pois assim teríamos que “forçosamente” mudar o comportamento.
Nos negócios e nas finanças pessoais não há diferença. É igualmente difícil se dispor a conhecer a realidade dos fatos e mais difícil ainda reconhecer e encarar a situação quando descontrolada. Aceitar os erros e a reconhecê-los, entender que precisa mudar… Geralmente surgem perguntas do tipo: – Onde? – Quando e como eu errei? E constatações como: Eram tantos e tão bons os projetos profissionais e/ou pessoais, que fica difícil reconhecer que ocorreram falhas no percurso. Tantos projetos, empenho, suor, tantas noites perdidas e abdicações que reforçam a dificuldade de compreensão quando a situação sai do controle.
Em tais situações, observamos equivocadas interpretações aos fatos, como: má sorte, alteração e/ou instabilidade na economia ou atribuída à responsabilidade de terceiros, o que não ajuda no processo reflexivo, necessário para a promoção da mudança comportamental.
Pode haver força de trabalho, empenho e dedicação, visão, mas nem sempre estão acompanhados por um planejamento e uma análise de viabilidade. Existem também aqueles que “atiram” para todos os lados. Podem estar perdidos, e na ânsia de se descobrirem, abrem várias “frentes de negócio”, mas se esquecem que precisarão de pessoas que “comprem” os seus sonhos, ou mesmo que atuem nestas frentes, enquanto ele sonha, e se aventura em novos negócios.
Também pode existir entusiasmo, empenho, mas por outro lado, faltar disciplina, humildade, respeito ao usar o dinheiro e atitudes preventivas que garantam a sustentabilidade do empreendimento. Minimamente há necessidade de capital inicial e de capital de giro para abrir essas frentes, o que na “ousadia” pode acabar se transformando em “faca de dois gumes”, uma apontada para frente, possibilitando a abertura de novos caminhos, e outra, apontada para o próprio peito, sinalizando para a ameaça da derrota.
Segundo o Departamento de Registro do Comércio – DNRC, em 2012 foram constituídos no Brasil mais de 530 mil novos negócios, enquanto mais de 210 mil encerraram suas atividades. Muitos desses encerramentos podem retratar intenções movidas à precipitação, sem um planejamento formal.
O que reforça que pensar, pesquisar, planejar, orçar, implantar, acompanhar, avaliar e adequar, são atitudes intrinsecamente ligadas e que uma sem a outra abre a possibilidade de insucesso, que geralmente leva ao descontrole financeiro, e que acaba levando ao adoecimento individual, familiar e coletivo, além do desgaste nas relações pessoais e familiares.
Há desafios crescentes que acompanham o dinheiro e o sucesso, intenção sem ação é ilusão e ação sem planejamento também é.
Ivana Medeiros Zon é assistente social, especialista em Saúde Pública e em Estratégia Saúde da Família. Autora do Projeto Saúde Financeira na família: uma abordagem social, com foco em educação financeira.
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