Mais na Coluna: subsecretaria em Cariacica; João Bananeira; lançamento de livro; religiões de matriz africana
A semana foi de troca de secretários na pasta de Cultura nas cidades de Vitória e Cariacica, na região metropolitana. Luciano Gagno deixou o cargo de primeiro escalão na gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) para ser assessor especial na secretaria de Governo, comandada por Aridelmo Teixeira. Alvarito Mendes Filho, em Cariacica, não passa, até o momento, a ocupar outra função dentro da administração de Euclério Sampaio (União).
Em Vitória, é a segunda vez que Gagno deixa a secretaria. A primeira foi em 2022, quando o gestor ficou cerca de um mês afastado após negar apoio para a parada do orgulho LGBTQIA+ alegando que essa comunidade não tem espaço na gestão municipal, o que acarretou em um Boletim de Ocorrência (BO) feito por Deborah Sabará, do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), organizador do evento.
O BO infelizmente não deu em nada e foi só a poeira baixar que ele retornou ao comando da Cultura. Mas dessa vez sua saída parece ser pra valer, pois além de já ter assumido outro cargo, circula nos bastidores que a pasta será entregue ao PP, como forma de articulação dos futuros apoios para a reeleição de Lorenzo Pazolini. No caso de Cariacica, a cidade, que vive uma dança das cadeiras no que diz respeito ao secretariado na pasta de Cultura, vai para o terceiro gestor, sem contar o interino que assumiu durante pouquíssimo tempo entre as gestões de Nina Santos e Alvarito.
Novos secretários
Em Vitória ainda não há definição de um nome. Por enquanto, o advogado Thiago Benenzoli assume interinamente, mas tudo indica que o PP irá indicar o vereador de seu partido e presidente da comissão de Cultura, Anderson Goggi. Em Cariacica, o novo secretário é Paulo Roberto de Oliveira, o Paulo Foto, vereador licenciado que estava à frente da secretaria de Esportes, aliado de Sandro Locutor, ex-vereador do município e ex-deputado estadual. Sandro, assim como Goggi, é do PP. Nos bastidores, cogita-se seu nome para vice-prefeito na chapa com Euclério em 2024.
Momento delicado
O troca troca de secretários causa preocupação principalmente em um contexto no qual é preciso implementar políticas que foram conquistadas com muita mobilização da classe artística, como as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Soma-se a isso a realização da Conferência Municipal de Cultura, que em ambos municípios ainda não tem data marcada.
O que vem pela frente?
No caso de Vitória, talvez, quem sabe, com a nomeação de Anderson Goggi as coisas possam fluir melhor do que em Cariacica, pois apesar de não ser da área da Cultura ele preside a comissão na Câmara e está por dentro dos debates do segmento, apesar de não acompanhar as atividades do Conselho. Se não está, deveria. Em Cariacica, além de não ser da área, o novo gestor não tem envolvimento com ela em outras atividades. Talvez possa surpreender. É aguardar para ver no que vai dar.
Subsecretaria
As mudanças em Cariacica não se limitaram à nomeação do novo secretário. Leny Correia Ferreira foi exonerada da subsecretaria municipal de Cultura, que foi assumida por Marlon Stefanini Monteiro Silva, do grupo Pele Morena. Quem conhece o trabalho de Marlon sabe que seu talento para a música é inegável. A coluna espera que isso também se reflita nas atividades de gestão na Secretaria de Cultura.
João Bananeira
Já que o assunto é Cariacica, na quarta-feira (2) foi publicada no Diário Oficial a lei que cria o Dia do João Bananeira, em homenagem ao personagem do congo de máscaras de Roda d’Água. A data será comemorada sempre no primeiro dia útil após as comemorações do congo de máscaras, que acontece no feriado de Nossa Senhora da Penha.
Resistência
Para quem não se recorda, em 2018 o vereador bolsonarista Sérgio Camilo se referiu de forma depreciativa ao personagem, dizendo não haver necessidade de “um homem vestido de árvore nas escolas”, fazendo referência à propagação da cultura popular nas unidades de ensino, além de se posicionar contra a lei municipal de incentivo à cultura, que leva o nome do mascarado. Portanto, toda e qualquer iniciativa de valorização do João Bananeira é válida para fortalecer a cultura popular e deixá-la mais resistente aos ataques dos inimigos da cultura, que pode não estar tão fervorosos neste momento, mas podem vir a reemergir. Entretanto, é preciso que a data seja mais um impulsionador de atividades de preservação e projeção do congo de máscaras. Vale lembrar também que as falas do vereador ajudaram no tombamento do personagem como patrimônio imaterial do município na gestão do ex-prefeito Juninho (Cidadania).
Lançamento
A escritora Deane Monteiro lança no próximo sábado (12) os livros Eva e Não Preciso de Maçãs, Preciso Gritar. O lançamento será das 15h às 17h, no Centro de Memória, na Prainha de Vila Velha. A autora classifica as obras como auto ficcionais, que, de acordo com ela, são histórias que trazem elementos da sua vida “com uma pitada de ficção”. Uma curiosidade, contada por ela à coluna, é que ambos foram escritos de madrugada, em momentos de insônia causados pela troca de remédios tomados por ela para tratamento da Síndrome de Burnout. Os livros podem ser adquiridos no dia do lançamento e no instagram da Editora Narratiana.
Enredo
Em Eva, Deane traz a história de uma mulher nordestina, casta, muito religiosa, devota de Nossa Senhora de Fátima e muito desejada pelos homens da região. Se sentindo contrariados com as escolhas feitas por ela, eles começaram a manchar a imagem de Eva pela cidade, menosprezando as atividades para as quais se dedicava, como a religião. A personagem, então, resolve viver sua vida em outro lugar. Filha de nordestinos, Deane relata que ouvia uma história semelhante de seus pais, ocorrida no local onde moravam.
Enredo II
No livro Não Preciso de Maçãs, Preciso Gritar, a escritora traz uma personagem de mais de 40 anos, a quem não deu nome e que pode ser qualquer mulher que “transborda”, ou seja, sobrecarregada, sufocada. A personagem sai sem destino e encontra três mulheres que a levam ao encontro de sua tia, já falecida, que a ensinou que, ao se sentir “transbordada”, deveria comer maçãs. Contudo, ela conclui que não é disso que precisa, mas de gritar. A partir daí é iniciado um ritual com mulheres para libertá-la do que a impedia de fazer isso.
Mapeamento
A Prefeitura Municipal de Vila Velha deu o pontapé inicial para o projeto Sagrada Ancestralidade, que trata do mapeamento das casas de religiões de matriz africana da cidade. A iniciativa será desenvolvida pelo Museu Vivo da Barra do Jucu em parceria com o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) e o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (Fonsan Potma). Por meio do mapeamento a gestão municipal busca conhecer a realidade e as necessidades desses povos para formulação de políticas públicas, inclusive as de combate à intolerância religiosa.
Até a próxima coluna!
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