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Contagem regressiva para a maior mobilização política feminina da América Latina

ES levará 800 mulheres para a 7ª edição do evento, em Brasília, que este ano é chamado de “marcha da esperança”

José Cruz/Agência Brasil

Da “marcha da resistência” para a “marcha da esperança”. Na próxima segunda-feira (14), cerca de 800 mulheres capixabas, em 14 caravanas oriundas de norte a sul do Estado, seguirão rumo a Brasília para integrar uma multidão de mais de 100 mil mulheres, na realização da 7ª Marcha das Margaridas, nos dias 15 e 16 de agosto. Realizada há vinte anos a cada quatro anos, o tema desta edição é “Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”.

A expectativa é de que a pauta de reivindicações, que será entregue ao presidente Lula (PT) e diversos ministros, tenha uma resposta objetiva de encaminhamentos durante a Marcha.

“A pauta foi elaborada a partir de uma escuta em rodas de conversa com as mulheres no Brasil inteiro. A gente espera que resulte em políticas públicas afirmativas, que façam a diferença na vida das mulheres”, afirma Fabiana Delucca, diretora da Secretaria de Mulheres, Formação e Organização Sindical da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Espírito Santo (Fetaes) e coordenadora da Regional Sudeste da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidades que organizam a Marcha, respectivamente em âmbitos estadual e nacional, com apoio de quase vinte organizações nacionais e internacionais.

Um ato político realizado nesse sábado (5), durante a Feira da Agricultura Familiar e 5ª Feira Estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais (Femtru), marcou a mobilização capixaba para a Marcha. “Dos 320 expositores, 90% eram mulheres. Foi uma feira muito bonita, que mostrou a importância da mulher trabalhadora rural”, pontua Fabiana Delucca.

A diretora da Fetaes ressalta que a representatividade capixaba será diversificada na Marcha. “Temos vinte ônibus, que sairão de todas as outras regiões do Estado. Nós construímos coletivamente as caravanas com os movimentos sociais”, explica, citando o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos Atingidos por Barragens (MAB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de organizações indígenas e quilombolas. Representatividade e diversidade que inclui as mulheres da região metropolitana que praticam ou não agricultura urbana. “Trabalhadoras em geral, porque a pauta das margaridas tem uma luta muito grande contra a violência contra a mulher”.

Divulgação/Fetaes

Ela lembra ainda que a última marcha, de 2019, não fez entrega de pauta de reivindicações. “Era um governo que não dialogava com os trabalhadores nem com as mulheres, muito pelo contrário, fazia muita incidência de violência contra as mulheres. Então, dialogamos com a sociedade naquele ano. Foi um período de disseminação de muita violência, estavam todos com medo”.

A mudança no cenário político transformou totalmente o tom do evento de 2023, ressalta. “Foi a marcha da resistência, essa é a marcha da esperança. Agora temos um governo que tem dado todas as possibilidades para as mulheres, que entende que as mulheres têm uma importância fundamental para o desenvolvimento do país”. Ainda assim, o machismo estrutural se mantém na sociedade, por isso a necessidade da grande mobilização. “Precisamos lutar para desenvolver liberdade e autonomia para as mulheres. É muito desafiador”, afirma.

A programação na capital federal envolve várias ações de formação, oficinas, atividades culturais e painéis. Os temas, relacionados aos “desafios que as mulheres ainda vivem no cenário atual, de violência, de busca de autonomia e liberdade, de apoio para a produção agroecológica”. Entre as apresentações culturais à noite, estará um grupo capixaba de cultura pomerana.

Pauta nacional

A Pauta da Marcha das Margaridas foi entregue ao governo federal, durante evento com a participação de 13 ministras e ministros de Estado, no Palácio do Planalto, no dia 21 de junho. O evento contou com a presença de 13 ministras e ministros de Estado, diversas/os parlamentares, Diretoria da CONTAG, Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais da CONTAG, representantes de movimentos sociais e convidadas em geral. No mesmo dia foi entregue a Pauta voltada ao Legislativo para o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira.

A pauta traz propostas organizadas em 13 eixos temáticos: Democracia participativa e soberania popular; Poder e participação política das mulheres; Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo; Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade; Proteção da Natureza com justiça ambiental e climática; Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética; Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios; Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns; Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional; Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda; Saúde, Previdência e Assistência Social pública, universal e solidária; Educação Pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo; e Universalização do acesso à internet e inclusão digital.

Sementes de Margarida Alves

A Marcha tem como força inspiradora a luta de Margarida Maria Alves, uma mulher trabalhadora rural nordestina e líder sindical, que rompendo com padrões tradicionais de gênero ocupou, por 12 anos, a Presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.

Por lutar pelo direito à terra, pela reforma agrária, por educação, por igualdade e por defender direitos trabalhistas e vida digna para trabalhadoras e trabalhadores rurais, Margarida Alves foi cruelmente assassinada na porta da sua casa, no dia 12 de agosto de 1983.

Seu nome se tornou um símbolo nacional de força e coragem cultivado pelas mulheres e homens do campo, da floresta e das águas. É em nome dessa luta que a cada quatro anos, no mês de agosto, milhares de Margaridas de todos os cantos do País marcham em Brasília, num clamor por justiça, igualdade e paz no campo e na cidade.

“De Margarida nos tornamos sementes. Em agosto, vamos realizar a 7ª Marcha das Margaridas”, anunciou Mazé Morais, que disse ainda que, nesse ano, são 23 anos de realização da Marcha e 40 anos do assassinato de Margarida Alves. “Nós nos guiamos pelos princípios do feminismo anticapitalista, antirracista e antipatriarcal. Um feminismo que valoriza a vida, vinculado à defesa da agroecologia, dos territórios, dos bens comuns e da soberania e autodeterminação dos povos”.

Serviço

Marcha das Margaridas 2023

15 e 16 de agosto de 2023

Dia 15 (o dia todo): Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, Brasília/DF

Dia 16, às 7 horas: Marcha (Saída do Pavilhão do Parque da Cidade em direção à Esplanada dos Ministérios)

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