“Nenhuma morte deve ser comemorada. Sobre um corpo estirado chora uma mãe”. A frase é parte do texto postado em suas redes sociais pela deputada estadual Camila Valadão (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa, um dia depois de vários deputados comemorarem a ação da Polícia Militar no Morro do Macaco, em Vitória, com cinco pessoas mortas. Segundo as autoridades policiais, as mortes ocorreram em confronto com a polícia.
A ação que resultou em cinco mortos e o reforço policial na região, ao contrário do que pode parecer, não trouxe tranquilidade às comunidades que ocupam o maciço central de Vitória, onde se localiza o Morro do Macaco. A apreensão e o medo atingem a todos e se espalha até a região conhecida como Gurigica. Na noite dessa quarta-feira (16), moradora da região, que prefere o anonimato, disse que a presença de tropas policiais transforma esses locais em “campo de guerra”, onde até mesmo os moradores se sentem inseguros, pois são abordados pelos policiais muitas vezes com ameaças.
No texto de sua postagem, Camila Valadão diz que acompanhou “nos últimos dias uma operação policial na região de Tabuazeiro, em Vitória, que culminou na morte de cinco pessoas e ficamos estarrecidas com alguns comentários comemorando essas mortes”. Ela acrescenta: “Por isso defendemos que a ação do Estado no enfrentamento à violência e à criminalidade deve ser sempre pautada na proteção da vida, no tratamento digno das nossas comunidades e nos investimentos sociais”.
A postagem conclui: “Toda nossa solidariedade aos moradores da região de Tabuazeiro e adjacências. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia segue à disposição para acolhimento e atendimento!”.
Os deputados apoiaram a conduta dos policiais militares envolvidos na ação ocorrida na noite de segunda-feira (14), com discursos inflamados e uso de palavras como “vagabundo”. Entre os que se pronunciaram na sessão de terça-feira (15), o deputado Capitão Assumção (PL) criticou reportagem veiculada em uma emissora de televisão capixaba e disse que os mortos no episódio eram traficantes fortemente armados, que reagiram ao cerco policial.
Denninho Silva (União) também considerou que a reportagem veiculada na mídia teria passado uma ideia de que os mortos não eram criminosos, mas pessoas sem envolvimento com ilícitos. Em seu discurso, disse que “vagabundo devia ser morto com tiro de canhão”. Já deputado Coronel Weliton (PTB), agradeceu, em nome da Polícia Militar, o apoio manifestado pelos colegas parlamentares.
O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (Podemos), afirmou que “o Poder Legislativo está do lado da Polícia Militar, porque quando ela está em operação, é o Estado que está em operação. E quando o Estado é alvejado, são as famílias capixabas que são atacadas”. E reforçou que os “criminosos se iludem ao acreditar que têm o domínio de um Estado paralelo e classificou como inadmissível que bandidos possam ameaçar com granada as forças policiais capixabas”.
O texto da deputada Camila Valadão segue na linha contrária aos parlamentares que celebraram a ação da polícia, como também o presidente da Comissão de Segurança da Assembleia, Danilo Bahiense (PL), que parabenizou a ação dos PMs e classificando a operação como “excelente”. Ele disse que a granada em poder dos que foram mortos poderia ter causado grandes perdas no meio policial, caso a ação não tivesse sido rigorosa.