Manifestações na Terceira Ponte e Praça do Papa ficaram no passado, envoltas em denúncias de corrupção e de atentado à democracia
Dos movimentos bolsonaristas de 2021 e 2022, com centenas de pessoas nas ruas, ao cenário atual, observa-se um esfriamento em relação à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ameaçado de prisão, como assinalam os últimos acontecimentos. A situação dele é extremamente desconfortável. No meio de escândalos que incluem esquema de venda de joias da União a golpe contra o Estado Democrático de Direito, para derrubar um governo legalmente eleito e se manter no poder, ele tenta parar o afastamento de apoiadores, que ocorre Brasil afora.
No Espírito Santo, dos que se beneficiaram com a onda bolsonarista e vestiram a camisa, muitos se distanciam e já trabalham na construção de novos blocos da direita descolados do “mito”. Eleito com a bandeira contra a corrupção, desde o início do governo se viu envolto com denúncias de rachadinhas, que trouxe ao público o operador Fabrício Queiroz e os depósitos bancários na conta da então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Para citar como exemplo, dos cinco deputados estaduais, que em 2020, em plena pandemia da Covid-19, invadiram o Hospital Dório Silva, na Serra, seguindo ordens do então presidente, hoje todos atuam em campos distanciados do bolsonarismo, que tomam forma sem o antigo líder, mantendo, no entanto, a ideologia de direita e extrema direita.
Lorenzo Pazolini (Republicanos), atual prefeito de Vitória, Vandinho Leite, presidente estadual do PSDB, e Danilo Bahiense (PL), deputados estaduais, e os ex-deputados Torino Marques (PL) e Carlos Von (Avante), derrotados ao tentar a reeleição. Todos estão soltos do “bolsonarismo raiz” e alguns mais próximos do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O prefeito Pazolini se une ao ex-deputado Erick Musso, presidente estadual do Republicanos, com estreitas ligações com a direção nacional do partido, por meio do articulador Roberto Carneiro, levado para comandar o partido em São Paulo, onde começa a tomar forma uma nova direita mais descolada de Bolsonaro, tendo à frente o governador Tarcísio de Freitas.
Nesse cenário, a se confirmar o assento de figuras do partido Republicanos em ministério do presidente Lula, que pode acontecer ainda nesta semana, um novo cenário reforçará as alterações vigorosas já em curso nas articulações para as eleições de 2024 e 2026, com largo espectro nos estados. As articulações em torno da reeleição de Pazolini é um exemplo do afastamento desses movimentos da direita, construídos sem a figura de Bolsonaro.
Nesse campo, em Vitória, já há um racha, com visíveis ganhos para Pazolini e perda para o deputado Capitão Assumção (PL), também pré-candidato a prefeito. O militar sai isolado com reduzidas chances de aumentar o capital político, apesar dos mais de 90 mil votos que garantiram seu retorno à Assembleia em 2022. Discursos inflamados na Assembleia, hoje, só com ele e os novatos Lucas Polese e Callegari, todos do PL, partido de Bolsonaro. Os restantes, apesar de conservadores e de direita, mantêm certa discrição.
Esse mesmo cenário pode ser observado em camadas do público evangélico, base forte de Jair Bolsonaro. Muitos se sentem enganados e apontam para discurso distorcidos de lideranças nas congregações religiosas. Nesse quadro, as manifestações político/religiosas, como a Marcha para Jesus, perdem a força e a ameaça de prisão não é suficiente para erguer bandeiras a seu favor, como nas manifestações de 2021 e 2022, quando milhares de pessoas encheram a Terceira Ponte e a Praça do Papa. Tudo isso ficou no passado, envolto em denúncias de corrupção e de atentado à democracia.