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Manifestação pedirá fim da violência policial contra população negra

Protesto, que será realizado em vários estados, sairá de Itararé em direção ao Quartel da Polícia Militar, em Maruípe

O Espírito Santo não ficará de fora da manifestação do Dia Nacional de Lutas dos Movimentos Negros Pelo Fim da Violência Racista da Polícia. No Estado, a Unidade Negra Capixaba fará um protesto nesta quinta-feira (24), a partir das 16h, na Praça de Itararé, no Território do Bem, em Vitória, de onde os manifestantes partirão em direção ao Quartel da Polícia Militar, em Maruípe. A data para o protesto foi escolhida por marcar a morte do abolicionista e advogado Luiz Gama.

A militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e vice-presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), Jacyara Paiva, afirma que a mobilização busca “desnaturalizar as mortes de negros e negras no Brasil”. Ela considera que “somente em uma sociedade muito doente isso acontece e as pessoas seguem a vida como se nada tivesse acontecido. Não aguentamos mais ser vítimas de genocídio, as mães pretas não aguentam mais chorar a morte de seus filhos”, enfatiza.

A escolha dos pontos de partida e de chegada da manifestação foi pelo fato de o Território do Bem sofrer constantes ações da PM, que normalmente culminam em pessoas feridas e vítimas fatais. “Precisamos de políticas públicas, não de bala, de morte, de mais sangue derramado”, diz Jacyara.

Ela recorda que, “somente na semana passada, foram cinco mortos”, referindo-se às ações policiais realizadas no Morro do Macaco, em Vitória. Segundo as autoridades policiais, as mortes ocorreram em confronto com a polícia, que intensificou a presença na região. “A marcha é de toda a sociedade, que deve sinalizar um novo pacto civilizatório que valorize a vida do povo negro no Brasil”, defende.

Nesta semana, outro caso veio à tona. Dessa vez, a vítima foi um jovem de 17 anos, morador de Maria Ortiz, em Vitória, que passeava com seu cachorro próximo ao manguezal do bairro por volta das 19h do último dia 10 de agosto. Ao ver duas lanternas em movimento dentro do manguezal, o rapaz proferiu uma saudação comum na região e gritou “caranguejeiros!”. A resposta, no entanto, foi de violência por parte dos dois policiais que o jovem confundiu com marisqueiros, conforme relata o vereador André Moreira (Psol), que encaminhou denúncia, feita originalmente pela mãe da vítima, para várias entidades estaduais.
“Os policiais deram tapas no rosto do adolescente, enforcaram-no, apontaram uma arma de fogo para a cabeça dele enquanto estava ajoelhado. Disseram que ele ‘tinha sorte por não levar spray de pimenta na cara’ e perguntaram a ele se alguma coisa havia acontecido ali, como forma de intimidá-lo e impedir eventual denúncia dos fatos perante outras autoridades. O rapaz respondeu que não, indicando que nada havia acontecido e, portanto, não haveria o que ser relatado a outras pessoas”, aponta a denúncia.

A manifestação desta quinta-feira será a segunda em menos de uma semana com o objetivo de denunciar as ações da PM na região. No último sábado (19), a Paróquia Santa Teresa de Calcutá realizou a Romaria das Famílias pela Paz, que saiu da praça de Itararé rumo à comunidade católica São Miguel, na parte alta. Os participantes pediram paz para o Território do Bem e lembraram das recentes ações policiais no Morro do Macaco, que assim como o Território do Bem, faz parte da região da Grande Maruípe.

No próximo dia 7 de setembro, a 29º edição do Grito dos Excluídos levará diversas denúncias para as ruas. Uma das principais também será a violência das forças de segurança pública nas periferias. 


Anuário
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 aponta que, no Brasil, o perfil étnico-racial das vítimas de mortes violentas intencionais é majoritariamente negro, somando 76,5%.
“São o principal grupo vitimado pela violência independente da ocorrência registrada, mas chegam a 83,1% das vítimas de intervenções policiais. Mesmo entre os latrocínios, que são os roubos seguidos de morte, a vitimização de pessoas negras é maior do que a participação proporcional delas na composição demográfica da população brasileira. Se esse é um dado já conhecido, chama atenção que não exista um debate mais amplo sobre suas origens, causas e possibilidades de redução. É um debate que ainda é tabu e interditado entre os tomadores de decisão nas organizações de segurança pública”, diz o Anuário, que não traz dados de recorte racial nas unidades federativas.

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