Nem as previsões mais otimistas poderiam estimar que a manifestação desta quinta-feira (20) fosse capaz de levar mais de 100 mil pessoas às ruas da Capital capixaba. O número impressiona e comprova a capacidade de mobilização das redes sociais. Os manifestantes, na sua maioria estudantes, se concentraram na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) às 17 horas. Por volta das 18h30, uma descomunal massa humana, que representa praticamente um terço da população de Vitória, se movia pela Reta da Penha com destino ao Tribunal de Justiça do Estado, onde, mais tarde, aconteceria um grande tumulto com atos de vandalismo.
No início da marcha, ainda na Reta da Penha, o clima era de paz. Jovens, na sua maioria, mas também pessoas de todas idades e até famílias inteiras, exibiam um semblante que misturava alegria e orgulho. Orgulho de fazer parte de um movimento que entra para a história da jovem democracia brasileira.
Quem não estava na marcha, acenava das janelas dos prédios em apoio aos manifestantes, que gritavam palavras de ordens e exibiam cartazes com os principais pontos da pauta e mensagens bem-humoradas de protesto.
Por volta das 19 horas, os manifestantes se dividiram. Um grupo se dirigiu para a Assembleia Legislativa e outro, maior, rumou para a praça de pedágio da Terceira Ponte, que liga Vitória a Vila Velha. Neste momento, as ações isoladas de vândalos começaram a destoar da proposta pacífica que dominava o protesto até àquele momento.
Na frente da Assembleia, os manifestantes suplicavam para que o pequeno grupo de baderneiros parasse com a ação violenta. Os vândalos, ensandecidos, ignoravam os apelos e lançavam pedras e rojões contra a fachada do prédio da Assembleia..
Uma multidão, cumprindo o trajeto combinado do protesto, seguiu para o Tribunal de Justiça do Estado, local em que o grupo faria a concentração final da manifestação e entregaria uma pauta de reivindicações ao presidente do TJES, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, que já havia se comprometido, previamente, em receber uma comissão do movimento.
Por volta das 20 horas, o presidente do Tribunal recebeu a pauta dos manifestantes e em seguida deixou o prédio já sob um clima de tensão. Vândalos já faziam ataques a fachada do prédio do Tribunal e chegaram a atirar garrafas contra o desembargador, que teve que deixar o local às pressas. Os manifestantes voltaram a pedir paz. Alguns, preocupados com a ação violenta dos desordeiros, chegaram a tentar conter os vândalos, mas pararam para não gerar mais violência.
A partir desse momento, a situação saiu do controle. O pequeno grupo de baderneiros iniciou uma ação violenta que deixou a fachada do prédio do TJES danificada. A polícia foi acionada e, com certa demora, começou, aos poucos, controlar a situação. Os baderneiros ainda destruíram e saquearam lojas comerciais e restaurantes no centro comercial do Pelourinho, nas imediações do TJES, na Enseada do Suá.
Depois dos ataques ao prédio do Tribunal, os vândalos iniciaram um novo ato violento na praça de pedágio da Terceira Ponte. As cabines do pedágio foram completamente destruídas e a tropa de choque do Batalhão da PM teve trabalho para conter a ação truculenta dos depredadores.
Somente por volta das 22h30 o BME conseguiu dominar a situação na praça de pedágio. Logo em seguida, a manifestação começou a se dispersar.
Os manifestantes, satisfeitos com o histórico movimento que levou mais de 100 mil às ruas, não conseguiram esconder o desolamento. Muitos lamentavam os atos violentos do pequeno grupo que tentou macular o caráter pacífico do protesto.