A Comissão de Promoção da Dignidade Humana (CPDH) da Arquidiocese de Vitória manifestou, em nota, repúdio ao posicionamento do deputado estadual Deninho Silva (União) em apoio à operação da Polícia Militar e da Guarda Municipal de Vitória que culminou em troca de tiros na Avenida Leitão da Silva, em meio a civis, na tarde dessa segunda-feira (28). Os tiros foram disparados durante perseguição a um carro, acarretando na morte de um suspeito. Mais três pessoas ficaram feridas, um deles um homem que passava pelo local. Dois criminosos foram presos e um está foragido.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, semelhante a pronunciamento feito no plenário da Assembleia Legislativa, o deputado parabeniza a Ronda Ostensiva Municipal (Romu), Polícia Militar (PM), Guarda Municipal e a Polícia Civil (PC), “que fizeram um trabalho de excelência”. “Menos um vagabundo no meio da sociedade, porque morreu. Pena que tomou tiro de .40, não de canhão, porque vagabundo que atenta contra a autoridade policial tem que levar tiro de canhão, tem que explodir a cabeça dele”, disse.
A nota da CPDH aponta: “Ficamos estarrecidos, porque o referido parlamentar, ao expressar sua satisfação pelo desfecho da ocorrência, afirmou que ‘Graças a Deus que este vagabundo veio a Óbito’. Discordamos do senhor deputado, porque o nosso Deus, não é o Deus da morte, mas o Deus da vida que, encarnado em Jesus afirmou: ‘Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância’ (João 10,10)”. No mesmo tom, tem sido os discursos dos deputados bolsonaristas na Assembleia Legislativa.
A Comissão também manifestou indignação em relação à própria operação, que, “sem levar em consideração que havia naquele momento, muitos carros e pedestres circulando pela região, protagonizaram um tiroteio que, além de ceifar a vida de um dos suspeitos em fuga, colocaram em risco a vida de motoristas e das pessoas que circulavam pela região”.
O veículo utilizado pelos quatro suspeitos era monitorado pela Guarda Municipal e apareceu na Avenida Adalberto Simão Nader, na Mata da Praia. Nesse local teve início a perseguição, que culminou em troca de tiros na Avenida Leitão da Silva. No carro dos suspeitos foram encontradas armas de fogo, granada e colete à prova de balas. O carro perseguido havia sido roubado em junho último, na Praia do Canto, em Vitória. Ele também teria sido usado por atiradores nessa sexta-feira (25), em um homicídio na Ilha do Príncipe, também na Capital.
A operação tem motivado discussões na Assembleia. Nessa quarta-feira (30), as deputadas Camila Valadão (Psol) e Iriny Lopes (PT) voltaram a questionar o modelo de segurança pública adotado no Estado. Camila, que preside a Comissão de Direitos Humanos, defendeu que a preservação da vida vem em primeiro lugar, tanto das dos civis quanto das dos policiais. Iriny questionou os métodos utilizados, de forma geral, pelas forças de segurança e destacou que segurança pública pressupõe uma série de investimentos em várias áreas, como geração de emprego e renda, educação, saúde, cultura e esporte.
Por outro lado, o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos), defendeu a operação dizendo que as forças de segurança “defendem de forma brilhante os capixabas”. Disse, ainda, que elas estão sujeitas a contar com profissionais ruins em seu quadro, como qualquer outra instituição. Marcelo Santos foi apoiado em sua fala pelo governista Tyago Hoffmann (PSB).
O presidente da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), José Rizk Filho, também se pronunciou sobre a operação. Ele exigiu uma apuração e questionou se a operação foi feita de maneira adequada. “Não se trata de criminalizar as forças policiais nem santificar os criminosos, mas preservar a vida dos inocentes que lá estavam. Nós estávamos simplesmente numa das avenidas que mais se movimentam em Vitória, foram ouvidos mais de 70 tiros, houve um advogado de 70 anos que teve seu carro alvejado e um inocente baleado. É preciso investir em inteligência e segurança pública”, cobrou em suas redes sociais.
Diante das críticas de parte da sociedade civil à operação, o secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho, afirmou, em entrevista ao jornal A Gazeta, que “fazer análise no ar-condicionado é mais tranquilo”. A fala também foi criticada por Rizk. “Quem está disposto a ser Secretário de Estado e estar na vida pública precisa aprender a conviver e respeitar as pontuações dos que moram no ES e entidades estando eles no ar-condicionado ou não”, destacou o presidente da OAB/ES, que prossegui sugerindo que o gestor ouças os que estavam na Leitão da Silva, “sendo alvejados em seus carros com ar-condicionado ligado no meio de um tiroteio de praticamente 100 disparos”.
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), com base nas imagens do ocorrido na avenida, afirmou, por meio de nota, considerar a operação “não adequada”. A instituição informou que vai acompanhar as investigações na Corregedoria da Guarda Municipal de Vitória e as apurações de todos órgãos envolvidos.