Vitória completou 472 anos nessa sexta-feira (8), mas apesar dos quase cinco séculos de história e de ser a Capital do Estado, a programação de aniversário lembrou muito a boa e velha frase dita quando a comemoração vai ser bem simples: “é só um bolinho, para não passar em branco”. Quem viveu os bons tempos do Viradão Vitória, que teve edições realizadas durante o aniversário da cidade, sente saudade de uma época em que havia uma vasta programação, com manifestações artísticas de diversos tipos, com espaço para os artistas locais.
A parte principal da programação é com shows na Praia de Camburi, com a maioria das atrações vindas de outros estados. A escolha da Praia de Camburi, uma das áreas mais elitizadas da cidade, já mostra o caráter excludente da festividade. No mais, tem Festival Mariscada 2023, na Ilha das Caieiras; aconteceram atrações infantis no Tancredão nessa quarta-feira (6), de manhã e à tarde, ou seja, em horários nos quais os responsáveis estão impossibilitados de levar as crianças; parques municipais abertos, mas sem uma programação a ser realizada nesses espaços; e passeio no Capixaba BusTour para os 200 primeiros que se inscreveram nas redes sociais da Prefeitura de Vitória.
Biblioteca Municipal
Para não dizer que o Centro de Vitória foi deixado de lado, teve início nessa segunda-feira (4) o projeto “Viagem Pela Literatura”, da Biblioteca Municipal Adelpho Poli Monjardim, com atividades gratuitas e de classificação indicativa livre. A programação segue até 28 de setembro, com encontro com escritores, contação de histórias, apresentação teatral, banca de troca de livros e clube de leitura.
O Centro merece mais
Importante ter atividades na biblioteca, mas isso não chega nem perto da efervescência de outrora no aniversário da cidade. O Centro de Vitória merece mais. Em 2018, por exemplo, aconteceram atrações abertas ao público na Casa Porto das Artes Plásticas, Casa da Stael, Museu de Arte do Espírito Santo (Maes), Galeria Virgínia Tamanini, Galeria Homero Massena, Má Companhia, Parque Moscoso, Palácio Anchieta, Teatro Carlos Gomes, além de espaços abertos, como a Rua Sete, Avenida Jerônimo Monteiro, Praça Costa Pereira e Praça Oito.
As periferias também
Assim como o Centro merece mais, as periferias também merecem, mas a programação de aniversário da cidade passou bem longe delas. Berço de inúmeras manifestações artísticas e de artistas de talento, as comunidades populares poderiam ser contempladas com uma programação que valorizasse essas potencialidades. Como bem lembrado no Grito dos Excluídos deste ano, uma das fomes e das sedes do povo, principalmente do periférico, é de cultura, mas o que acaba chegando nessa região é, principalmente, a ação das forças de segurança pública.
Aniversário Gospel
Mas pelo menos este ano a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) não repetiu o que fez em 2022, quando elaborou uma programação voltada majoritariamente para o público evangélico, como se ele representasse a totalidade da população de Vitória. A programação teve repercussão negativa nas redes sociais, mas mesmo assim foi mantida.
Está chegando a hora!
As inscrições para os editais estaduais da Lei Paulo Gustavo estão prestes a abrir. Nesta terça-feira (12) haverá a solenidade de lançamento, às 10h, na Casa da Cultura Sônia Cabral, Centro de Vitória. Serão mais de R$ 40 milhões em recursos federais destinados ao Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), voltados para todas as áreas culturais.
Audiovisual
Para o setor audiovisual, os editais da Lei Paulo Gustavo incluem projetos que tenham como objeto desenvolvimento de roteiro, núcleos criativos, produção de curtas, médias e longas metragens, séries e webséries, telefilmes, nos gêneros ficção, documentários, animação, produção de games, videoclipes, etapas de finalização, pós-produção, e outros formatos de produção audiovisual.
Outras áreas
As demais áreas culturais incluem artes visuais, música popular, música erudita, teatro, dança, circo, livro, leitura e literatura, arte digital, artes clássicas, artesanato, dança, cultura hip-hop e funk, expressões artísticas culturais afro-brasileiras, culturas dos povos indígenas, culturas dos povos nômades, culturas populares, capoeira, culturas quilombolas, culturas dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, coletivos culturais não formalizados, carnaval, escolas de samba, blocos e bandas carnavalescos.
Editais Funcultura
Foram reabertas nessa sexta-feira (8) as inscrições do Edital de Seleção de profissionais de todo o Brasil que vão compor as comissões julgadoras de futuros editais nas áreas de Patrimônio Cultural, Literatura e Incentivo à Leitura, Cultura Digital e Diversidade Cultural do Fundo Nacional de Cultura (Funcultura), da Secretaria Estadual de Cultura (Secult). As inscrições podem ser feitas até 27 de setembro, via Mapa Cultural ES. Os profissionais selecionados serão habilitados para fazer parte das Comissões Julgadoras correspondentes à especialidade escolhida, nos futuros Editais a serem publicados pela Secult, até 30 de março de 2025.
Muito merecida!
No último sábado (2), a artista Lia de Itamaracá, considerada a maior voz da ciranda no Brasil, foi homenageada durante a Mostra CineMarias, no Cine Metrópoles. Ao receber o troféu, afirmou estar feliz com a homenagem, a qual falou que é “merecida”. Em uma sociedade que busca apagar os grandes feitos das mulheres, que possamos ser como Lia, que reconhece sua grandiosidade. Esse auto reconhecimento, que para muitos pode parecer sinônimo de antipatia, nada mais é do que resistência e valorização da sabedoria ancestral que carrega. Homenagem pra lá de merecida!
Até a próxima coluna!
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