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Semelhante é a diversidade

O que importa é sermos iguais ou diferentes?

Desde cedo, a humanidade busca a identidade entre as pessoas como forma de construir a justiça. As sentenças: “somos todos iguais”, “nenhum é melhor que o outro”, “somos feitos à imagem e semelhança de Deus”, dentre muitas outras, estiveram sempre a serviço da construção de uma identidade para a raça humana. Contudo, o mundo é movido pelas diferenças, seja por meio da meritocracia, lastros familiares, socioeconômicos, políticos, religiosos, ideológicos e culturais em geral.

Por outro lado, aprendemos com a ciência que a evolução se inicia sempre com a negação, a dita falseabilidade que podemos encontrar em Karl Popper. Afinal, se nos firmamos em verdades absolutas, falta espaço para pesquisa.

Para um exercício de contextualização com a vida social, um passeio rápido pela história da humanidade deixa claro a necessidade de considerar a provisoriedade como elemento constante. Embora pareça um paradoxo: o provisório é que é constante.

Desde a antiguidade criamos teorias, das mais primárias (e não, por isso, simples), como a origem e transformação ou não das coisas, analisadas pelos filósofos da Phisis lá no Século VII a.C., até às novas teorias da física quântica na busca, toda humana, pela compreensão do mundo, sempre em movimento e nunca em conclusão final.

Assim sendo, para conseguirmos viver em harmonia e, no mínimo tolerarmo-nos uns aos outros, o fundamental é a consciência, aceitação e, se possível, apreço pela diferença, o que não deveria ser um exercício tão difícil, afinal, igual eu já tenho a mim mesmo e, se quiser abrir meu campo de visão, o diferente é essencial.

É claro que considerar a importância da diferença não se trata de aparências ou superficialidades, muito mais que isso, trata-se do aprofundamento da razão, não em sua lógica natural, mas em todos os aspectos e significações mais profundos e radicais da vida.

Para não me estender muito, quero focar nas questões religiosas, por serem as de maior paixão nas discussões, embora nesse momento histórico da política brasileira, esta última tem se imiscuído na religião e provocado ainda mais confusão de entendimentos e fanatismo.

A religião, como clara consequência da cultura, torna-se sempre a base de compreensão e aceitação do mundo pelas pessoas e também de suas condutas. Contudo, mesmo aquelas que conseguem compreender o chamado ecumenismo, cultivam a certeza de estarem na religião certa, pelo que exclui as outras.

Para o bom exercício da compreensão, da necessidade e beleza da diferença, é preciso muito mais que tolerância. É preciso que a humanidade reconheça que vive na escuridão do conhecimento das raízes de sua existência e assim possa, pelo menos, considerar a possibilidade de estar enganada em parte ou até mesmo no todo de sua compreensão, se dando abertura para as outras formas de visão.

Afinal, o que mais importa na convivência humana, frente à diversidade, é a consideração do alcance, sempre provisório, das verdades conquistadas ou construídas – Foucault – e o avanço do conhecimento, sempre condicionado ao seu tempo, e assim garantir uma saída de emergência frente à novas luzes.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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