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Nova agenda

A sessão do Senado na manhã dessa sexta-feira (21) refletiu a perplexidade da classe política em relação às manifestações populares que ganharam o Brasil na noite anterior. Enquanto Walter Pinheiro (PMDB-AL) defendia a retirada da polêmica PEC 37/11 da pauta, Pedro Simon (PMDB-SP) criticava a convocação do PT para que os militantes participassem da marcha e cobrava um pronunciamento da presidente Dilma Rousseff. Mais radical, Cristovam Buarque (PDT-DF) pregava assembleia constituinte e fim dos partidos no Brasil.
 
Os senadores bradavam no plenário da Casa, Dilma reunia ministros para avaliar os rumos do Brasil, ainda sem entender o que estava acontecendo nas ruas. E no Espírito Santo, um silêncio ensurdecedor das autoridades revelava a falta de preparo para lidar com a situação. 
 
Aliás, desde os primeiros protestos por reajuste na passagem dos ônibus, ainda no governo Paulo Hartung, o Palácio Anchieta já deixava claro que o diálogo com o poder público se daria somente com bala de borracha e gás lacrimogêneo. 
 
Parado no Congresso está o projeto de Reforma Política, que discute entre outros pontos o financiamento público de campanha, a representatividade e regimentos únicos para as duas Casas. Se essa agenda vai acalmar os ânimos da população revoltada, não é mais possível saber mais. O fato é que os poderes públicos não podem ficar em silêncio diante do crescente levante popular. 
 
A aceleração da Reforma Política de forma, séria e profunda, acabaria com os remendos às vésperas de pleitos eleitorais, com resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como a questão da ficha limpa, que causou expectativa em 2010, mas acabou não resultando na retirada de políticos com problemas na justiça das disputas. O próprio TSE liberou o retorno dos impugnados às casas legislativas. 
 
A questão do financiamento é outro ponto discutível. Escondida atrás do discurso de que a população não vai aceitar que as campanhas sejam feitas com dinheiro público, a classe política mantém sua relação estreita com os financiadores de campanha e depois cobram a interlocução dentro do poder. O resultado dessa relação é o naufrágio da CPI do Pó Preto na Assembleia, por exemplo. 
 
Por outro lado, falta conscientização dos manifestantes. Ao comparar estádios de futebol à situação precária de escolas de ensino fundamental, por exemplo, é preciso saber direcional os disparos. Quem é responsável pelo gerenciamento da Educação infantil e básica são os municípios e o Estado (no caso do ensino médio). É preciso cobrar então do prefeito e o governador. 
 
Por isso, o momento é de cuidado. Algumas vozes em meio a tantas que se misturam na pluralidade do “vem pra rua” têm intenções muito diferentes da mudança que a maioria acredita participar. Sem conseguir controlar o movimento, uma imprensa golpista simpatiza com manifestantes, o que deixa a pulga atrás da orelha. 
 
Enquanto silenciam, lideranças políticas se fecham em seus gabinetes e estudam como capitalizar com o clamor das ruas. Ou o movimento toma conta de si mesmo ou no esvaziamento que provavelmente será causado pelos atos de radicalismo haverá espertalhões ocupando espaço e com objetivos nada democráticos. 

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