Os moradores de Engenharia, no Território do Bem, em Vitória, participarão, neste sábado (21), da audiência pública “Reconhecimento do Bairro Engenharia”, às 16h, na praça da comunidade. O debate foi solicitado pelos moradores ao vereador André Moreira (Psol). A principal pauta é a necessidade de fazer com que o local volte a ser um bairro. Mas outras demandas também serão discutidas, como relacionadas à infraestrutura e à violência policial.
O estudante de Direito Carlos Jayme Gomes de Oliveira, um dos articuladores da audiência pública, explica que Engenharia era um bairro, mas foi anexado a Itararé, também no Território do Bem, há mais de 10 anos. Entretanto, os moradores reivindicam a reversão desse processo. “A gente tem nossa própria identidade, nossa própria cultura”, defende.
Também há na pauta a questão da infraestrutura urbana, cuja precariedade, inclusive, tem dificultado acesso a diversos direitos. A falta de iluminação no trajeto que leva os moradores ao Projeto Caminhando Juntos (Cajun) é um dos problemas apontados por Jayme, já que acaba se tornando perigoso transitar no local. Além disso, há queixas em relação ao trabalho da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), que fez encanação nas ruas, mas as deixou esburacadas e desniveladas.
Os moradores também reclamam da falta de acessibilidade, principalmente por se tratar de uma região com muitos idosos. Jayme afirma que são muitas escadarias, o que impossibilita transitar com cadeira de rodas. Outros problemas que fazem parte do cotidiano da comunidade são as constantes falta d’água e a violência das ações policiais.
Uma das ações policiais violentas que ganharam repercussão no Território do Bem recentemente, aconteceu inclusive em Engenharia, sendo denunciada pelas vítimas à Corregedoria. A Polícia Militar (PM) invadiu a casa da família da estudante Marislene da Silva Feu de Oliveira, no último sábado (14). A ação, relatou Marislene, aconteceu após seu marido, o porteiro Rodrigo Fernandes Santos, ir até a janela de casa ao ouvir gritos em uma residência próxima. Os PMs, então, ordenaram que ele saísse da janela. Diante da recusa, os policiais adentraram a casa e agrediram os moradores fisicamente, motivando a formalização da denúncia.
Marislene informa que os gritos ouvidos foram por causa de uma ação da PM dentro de outra casa. Ao entrarem na sua residência, aponta, os policiais colocaram uma arma em sua cabeça, na de sua mãe e na de seu filho de oito anos. Além disso, Rodrigo foi espancado com chutes e socos após as luzes da casa serem apagadas pela polícia. A violência sobrou até mesmo para o cachorro de estimação da família, que conforme consta na denúncia, é da raça American Bully e levou um tiro de bala de borracha após latir para os PMs.
A estudante gravou a ação da PM na sua casa, mas ao tentar defender seu cachorro, afirma ter tido o equipamento retirado de suas mãos e o material gravado apagado por um dos policiais. Contudo, ela conseguiu recuperar os vídeos na lixeira. A estudante relata, ainda, que sua avó, de mais de 80 anos, passou mal, mas não teve ajuda dos policiais para ser socorrida, cabendo a ela entrar em contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).