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O negócio da violência

A economia que cresce, sob o povo que padece

A violência urbana no Brasil, em termos de número de mortes, não se distancia das guerras que têm ocupado a mídia nos últimos dias. Da mesma forma que o combate naquelas guerras rende muita grana, a “nossa” também tem grande importância na economia e manutenção do status-quo da elite dominante.

Seria cômico se não fosse trágico, mas no que diz respeito à administração pública, já dizia o velho Maquiavel, o jogo de interesses está sempre à frente da necessidade da população, e mais ainda, do que é justo ou mesmo razoável. Vamos refletir sobre algumas questões já desgastadas no dia a dia dos telejornais e noticiários policiais em geral.

O Estado mantém essa ridícula guerra às drogas se fazendo o herói que salva a população dos malvados, mas não conseguindo sucesso no front, por Ele criado, entra no caldeirão da mídia para fazer da violência o espetáculo de todo dia. Evidenciando o aparato da segurança, grandes investimentos em armas, equipamentos, treinamentos táticos, etc. num movimento sempre crescente e inovador, porém, sem os resultados práticos esperados pela população, ao invés de reduzir, contribui para o aumento da violência. Afinal, violência para combater o crime também é violência.

As drogas estão em toda a sociedade e seu uso é voluntário. As pessoas livres optam por usar determinada droga e, se ela está na lista alvo do Estado, essas pessoas precisam adquiri-las clandestinamente, por consequência, seus fornecedores passam a ser os inimigos do Estado na tal guerra que a sociedade paga, participa e sofre as consequências. Entretanto, essas consequências também têm sua utilidade, seu partido, sua oposição, os que ganham e os que perdem com ela.

Se olharmos com atenção, perceberemos que existe um grupo de privilegiados que vende tudo que a guerra precisa e estão sempre muito bem. Nesse tudo, é preciso incluir também a mão de obra qualificada para o front, mas não aquela do confronto que gera vítimas dos dois lados, e sim os cargos mais altos e bem remunerados como os juízes, promotores, delegados e oficiais, que com raras exceções, são os filhos das elites. Por outro lado, a população, principalmente a mais carente, paga um preço altíssimo como pagam os civis nas guerras, talvez essa seja sua pior consequência: a morte de jovens, mães enlutadas, cidadania desrespeitada, etc.

Fica tudo muito insano, o mesmo Território do Bem passa a Complexo da Penha na produção do espetáculo da violência. A audiência e a evidência dos heróis, “fazendo sua parte” ao prender, está sempre acompanhada de um discurso que ajuda a incrementar a consequência política, no direcionamento da opinião pública para bandeiras de radicalização cada vez maior com o crime.

Como exemplos temos: a luta recorrente pela redução da maioridade penal, o confronto com o regime de progressão de pena e as saidinhas, a exigência de mais condenações e maiores penas…tudo na contramão das ações tomadas por países que conseguem redução do aprisionamento e melhores índices de ressocialização. Discurso raso, fácil e vendável, gerador de aplausos, e que ainda podem se transformar em votos.

Por fim, tudo termina no jogo de interesses, como as elites estão no comando, temos sempre a hipocrisia social ditando as regras de seus interesses e o povo sendo levado por eles.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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