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Jogo de cartas marcadas

A presidente Dilma ouviu a voz das ruas e, tendo concluído que o povo deu um cartão amarelo ao governo, lançou na mesa cinco cartas propondo a governadores, prefeitos e parlamentares as seguintes medidas:
 
 
1 – Aprimorar a responsabilidade fiscal, ou seja, gastar bem o dinheiro público, pois as contas do governo federal começam a ficar apertadas, o que reduz o campo para investimentos   
 
 
2 – Promover uma reforma política via plebiscito constitucional; considerar a corrupção como crime hediondo
 
 
3 – Contratação de médicos (estrangeiros, se for o caso) para atender em cidades do interior, evitando o transporte de doentes para as capitais, onde se concentram os especialistas
 
 
4 – Mais investimentos em transporte público, incluindo a construção de metrôs
 
 
5 – Destinação de 100% dos royalties do pré-sal para a educação
 
 
São óbvias manifestações de intenção que exigem articulação política e busca de consenso, até agora obtida por meio da distribuição de cargos públicos, de conchavos, de concessões a partidos fisiológicos e outros expedientes da má política 
 
 
Para fechar a canastra, a presidenta poderia ter lançado na mesa duas cartas:  
 
 
6 – Transformar os estádios em escolas, investindo mais em esportes em busca de craques, contra o fantasma do crack e outras drogas
 
 
7 – Livrar-se roleta do financiamento da dívida pública que consome mais de R$ 200 bilhões por ano  
 
 
Ninguém diz, mas as manifestações dos últimos dias têm fundo eleitoral. Embretada, a presidenta deu a volta por cima no primeiro round, mas nada é definitivo. O que está nas ruas é a campanha presidencial de 2014.    
 
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
 
“A política dentro dos partidos é relevante, mas não se faz política apenas dentro dos partidos. A política se faz, também, por reações espontâneas nas ruas, que, posteriormente, vão se articulando. O próprio PT surgiu assim. Ou alguém vai dizer que as mobilizações dos sindicatos na década de 70, lideradas pelo ex-Presidente Lula, não foram políticas porque não tinham partido?”
 
 
Jorge Souto Maior, professor de Direito do Trabalho na USP 

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