O Grupo de Trabalho de Especialistas em Violência nas Escolas, formado pelo Ministério da Educação, divulgou o relatório “Ataques às Escolas no Brasil: Análise do Fenômeno e Recomendações para a Ação Governamental“. O estudo, que reúne dados de 2002 a 2023, aponta que o Espírito Santo registrou dois ataques de violência extrema nas escolas, que deixaram um total de 17 vítimas. O Estado ficou atrás somente do Rio de Janeiro, com três ataques, que resultaram em 27 vítimas, e de São Paulo, com sete ataques, vitimando 31 pessoas.
Os três primeiros colocados protagonizaram alguns dos ataques violentos a escolas de maior proporção nos últimos anos. No caso do Espírito Santo, destaca-se o ocorrido em Aracruz, no norte, em 25 de novembro, quando um adolescente, ex-aluno da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, adentrou a escola armado, atirando, depois fez o mesmo no Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), um colégio privado. Ao todo, quatro pessoas morreram e 12 ficaram feridas.
No Rio de Janeiro, foi o ataque a uma escola do bairro Realengo, na capital, em 2011. Um ex-aluno fez 12 vítimas fatais e mais 12 ficaram feridas após o criminoso disparar vários tiros, tendo como alvo a cabeça das meninas e o corpo dos meninos. Em São Paulo, o caso de grande repercussão foi na cidade de Suzano. O crime, cometido por dois ex-alunos, resultou na morte de cinco alunos e dois funcionários. Tanto em Realengo quanto em Suzano os criminosos cometeram suicídio.
O outro ataque ocorrido no Espírito Santo que consta no relatório foi em agosto do ano passado, quando Henrique Lira Trad, de 18 anos, pulou o muro da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Éber Louzada, em Jardim da Penha, e ameaçou professores e estudantes com uma balestra, deixando uma criança ferida. O jovem, ex-aluno da unidade de ensino, foi contido por policiais militares e também foram encontrados com ele facas, bombas caseiras, flechas e coquetel molotov.
A professora da EEEFM Primo Bitti e integrante do Fórum Antifascista do Espírito Santo, Leilany Santos Moreira, recorda que além dos ataques violentos, também aconteceram algumas tentativas, que foram impedidas. Uma delas foi este ano, em uma escola pública em Guarapari. Um aluno tinha um plano de atacar a escola onde estudava, mas foi impedido pela Polícia Federal (PF). Com o rapaz, foram encontrados material neonazista e armas.
Outro plano frustrado, lembra Leilany, foi em Aracruz, também este ano. Em uma escola particular, um estudante portava desenhos com plano para atacar o colégio.
Segundo o relatório “Ataques às Escolas no Brasil: Análise do Fenômeno e Recomendações para a Ação Governamental”, ocorreram 36 ataques violentos a escolas no país desde 2002, o que resultou na morte de 49 pessoas e 115 feridos. Conforme mostra o documento, o índice tem crescido vertiginosamente nos últimos. Em 2021, foram registrados dois ataques. No ano de 2022, sete. Neste ano, até o momento, 16.
Insegurança
O crescimento, acredita Leilany, tem relação com a política armamentista e o discurso de ódio contra as escolas, os professores e as mulheres, capitaneado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. “Ainda tem parlamentares, inclusive no Espírito Santo, que em vez de fazer projetos para proteger os professores, querem criminalizar, propondo a instalação de câmeras nas escolas para vigiar o trabalho desses profissionais, acusando-os de doutrinadores”, critica.
A professora afirma que o clima que paira nas escolas capixabas é de insegurança. “Nós temos medo de estar nas escolas, mas não por causa dos alunos, e sim, pelo descaso do governo com a educação e dessa caça às bruxas”, diz, acrescentado que o debate sobre a violência nas escolas não vem sendo realizado, o que faz com que os estudantes abordem o assunto, muitas vezes, de forma “equivocada”.
Leilany relata que nos jogos escolares, em uma partida de futsal em Linhares, norte do Estado, o time da EEEFM Primo Bitti perdeu uma partida. Um dos jogadores do time vencedor publicou nas redes que eles haviam vencido a escola onde “aluno mata professor”, o que causou desconforto nos estudantes da escola de Aracruz. “Para quem já está fragilizado como os alunos da Primo Bitti, isso é uma violência muito grande. Pelo comportamento do menino, se vê que apesar de o assunto não estar sendo debatido, ele está na cabeça dos estudantes”, avalia.
Ela também faz críticas à gestão de Renato Casagrande (PSB). A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) elaborou uma cartilha sobre violência nas escolas, mas se, a participação da comunidade escolar em sua construção. Além disso, embora o ano letivo já esteja chegando ao fim, o material ainda não chegou nas unidades de ensino e não há orientação sobre como utilizá-lo.