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TRE vai aos povos indígenas para aumentar número de eleitores nas aldeias

Indígenas de Aracruz apontaram dificuldades na hora de votar, por falta de urnas e títulos para os jovens

O Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) iniciou, nessa sexta-feira (10), o projeto “Cidadania e Participação Política” em comunidades originárias, com visitas a duas localidades do município de Aracruz, norte do Estado, com representantes Guarani e Tupinikim. A iniciativa visa ampliar o conhecimento dessas comunidades de elementos básicos para exercer o direito de votar, a menos de um ano das eleições municipais de 2024. 

Uma das dificuldades, como aponta Marcelo Guarani, cacique da Tekoá Ka’agwy Porã (Aldeia Nova Esperança), é o deslocamento na hora de votar. “Uma aldeia tem que sair para votar em outra por falta de urnas. Seria mais interessante a gente ter mais urnas na comunidade. As aldeias Olho D’Àgua e Amarelos, que são próximas, se juntariam para votar em uma urna aqui na Nova Esperança”, comenta.

Ele considera importante a ação do projeto, para garantir o voto dos povos originários. “A troca de informações poderá atender nossos anseios”, destaca. 

A transferência de títulos eleitorais de indígenas que se mudam para o Espírito Santo, vindos de outros estados, e o voto dos jovens também foram questões apresentadas durante a reunião. Segundo Marcelo Guarani, será necessário um esforço para possibilitar o título eleitoral nas comunidades.

“Nós precisamos é de orientação, porque esse sistema não é da nossa cultura, porém, eu acho que se os indígenas se unirem e se juntarem, teriam condições de eleger entre dois a três vereadores no município [Aracruz]”, afirma, e destaca que é preciso aprender a cobrar das pessoas que pedem votos as promessas feitas na campanha.

“Como isso não faz parte da nossa cultura, é preciso que os profissionais venham nos orientar. Afinal somos nativos desse País, temos direitos e precisamos ser respeitados, porque fazemos parte desse país desde o início, desde antes da colonização já existia o nosso sistema de vida, mas veio outro sistema que nos obriga ter documento para poder solicitar as coisas”, acrescenta.

Ele destaca que tem muita gente que, depois de se eleger, não faz nada. “A gente tem que se precaver para não cair nas mentiras. Por que não os próprios índios se organizarem para trabalhar em prol das comunidades e até mesmo do município?”, questiona.

A cacique Marcela, da comunidade Tupinikim Irajá, abordou em sua fala com os visitantes, o voto feminino LGBTQIA+ nas comunidades originárias e a busca por representatividade. “Precisamos reconhecer os direitos e mostrar que não existe uma hierarquia que nos separe”, enfatizou.

Segundo o TRE-ES, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 revelam o registro de 4,4 mil indígenas no Espírito Santo. No entanto, constam no cadastro eleitoral apenas 1,5 mil aptos a votar.

O primeiro encontro dos representantes da Justiça Eleitoral com os indígenas ocorreu na comunidade Guarani Nova Esperança, com as presenças dos caciques Marcelo; Joksly, de Amarelos; Jonas do Rosário, de Areal; e Peru, de Piraquê-Açu.

O segundo, na comunidade Tupinikim Pau-Brasil, com a participação dos caciques Valdeir, com o vice-cacique Lindomar, de Pau-brasil; Nelson, de Três Palmeiras; Vilmar, de Caieiras; do presidente da associação da terra indígena Comboios, Jocinaldo Coutinho; e da cacique Marcela, de Irajá e única mulher cacique do Espírito Santo.

Nas duas comunidades, o presidente do TRE-ES, desembargador José Paulo Calmon Nogueira da Gama, destacou que o encontro tem como objetivo “melhorar a interlocução do Tribunal com as comunidades originárias. Queremos ser facilitadores para que os povos Guarani e Tupinikim possam ir às urnas, para que possam votar e ser votados. Trouxemos toda a nossa estrutura para entender as suas demandas e saber como podemos melhorar nossa presença”.

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