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​Universitários se unem em defesa de mais acessibilidade na Ufes

Primeiro ato do Coletivo Neurodivergentes será na próxima quarta, no Restaurante Universitário

Leonardo Sá

O Coletivo Neurodivergentes Ufes foi criado em agosto deste ano para militar em defesa dos direitos de neuroatípicos e Pessoas com Deficiência (PCDs). O primeiro ato político do grupo está marcado para a próxima quarta-feira (22), às 10h, em frente ao Restaurante Universitário (RU) do campus de Goiabeiras, em Vitória, em defesa de mais acessibilidade no restaurante.

As reivindicações pautadas para o ato incluem: entrada preferencial para quem é assistido pelos programas de inclusão acadêmica e acessibilidade, com criação de cartão específico; liberação para pessoas desse grupo fazerem marmitas; disponibilização de abafadores de som para neurodivergentes; disponibilização de responsável por abrir a porta para pessoas com deficiência física; e reabertura do “RUzinho”.

Os termos “neurodivergente” e “neuroatípico” são usados para identificar quem possui desenvolvimento ou funcionamento neurológico diferente do padrão esperado pela sociedade em geral. Isso inclui pessoas com transtornos e distúrbios diversos, como autismo, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), borderline e bipolaridade.

De acordo com a estudante de Artes Plásticas Maria Eduarda Queiroz, uma das idealizadoras do Coletivo Neurodivergentes Ufes, o grupo de WhatsApp do coletivo tem 89 pessoas atualmente. Ela relata que a criação da organização foi motivada pelo fato de haver várias pessoas neurodivergentes e PCDs na Ufes, mas sem uma militância unida em torno da inclusão desses públicos na sociedade.

Divulgação

“Tivemos inspiração em coletivos negros e trans, que são minorias, assim como nós, e serviram de apoio para construir a nossa luta, que é difícil todos os dias. Nós observamos que eles conseguiam se unir, mas nós, neurodivergentes, ficávamos meio à parte. Então, eu tive a ideia dessa criação para podermos nos ajudar, militar, conseguir divulgar informações sobre leis de acessibilidade e outras pautas”, explica Maria Eduarda, que está no espectro autista e tem TDAH.

Ela acrescenta que além da falta de acessibilidade do RU, neurodivergentes se queixam da não utilização de metodologias inclusivas por parte de professores. Há também um nível alto de evasão da universidade nesse grupo, pelas dificuldades enfrentadas com interação social e a solidão decorrente da falta de pertencimento.

“Tem pessoas que não conseguem fazer trabalho em grupo ou prova escrita, e mesmo assim, não há metodologias inclusivas de muitos professores. Seria bom se houvesse adaptações para educação especial, mas muitos professores mais antigos não tiveram isso na sua formação e alguns não têm interesse. Há uma falta de tato de certos profissionais”, critica.

RU em questão

Na postagem de convocação para o ato no Restaurante Universitário, o Coletivo Neurodivergente Ufes destaca os principais desafios para quem é neuroatípico dentro da universidade: “O RU não é um local acessível. Quem tem alta sensibilidade a sons, texturas em alimentos, temperatura, e/ou locais claustrofóbicos sofre, e muito! Muitos de nós não conseguimos nos alimentar lá por causa disso!”.

O coletivo também denuncia que a Ufes passa uma falsa imagem de acessível. “Nós, do Coletivo Neurodivergente da Ufes, não compactuamos com o que vem sendo feito com as pessoas neurodivergentes e PCDs dentro dos ambientes da universidade. O fato de uma instituição federal se portar como ‘acessível’, mesmo perante as diversas exclusões veladas que sofremos durante o dia na universidade é inadmissível, e é por isso que nos cansamos de nos silenciar perante a falta de acessibilidade dentro da Ufes”, destaca.

Desde a retomada das aulas presenciais, em 2022, tem sido frequente a realização de protestos contra as condições do Restaurante Universitário da Ufes. Nos primeiros meses, estudantes tinham que agendar a refeição com 24 horas de antecedência. Além disso, alunos chegaram até mesmo a encontrar larvas na comida servida.

A ação mais recente do movimento estudantil se deu no primeiro semestre deste ano, quando houve uma ocupação da Reitoria e fechamento dos portões da universidade. Na ocasião, a administração universitária fechou o RU após convocação de protesto contra as ameaças de processos administrativos direcionados a estudantes que pulam a roleta, o que motivou a revolta dos alunos. 

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