Vice-governador, no comando do partido há quase dois meses, promove articulação que passa por Casagrande
A filiação ao MDB do ex-prefeito de Baixo Guandu Neto Barros, ainda no PCdoB, que deve ser confirmada em breve, será a primeira ação concreta do presidente da comissão provisória do partido no Espírito Santo, o vice-governador Ricardo Ferraço, no posto há quase dois meses, em articulação que passa pelo governador Renato Casagrande (PSB). Nesse cenário, os atos da ex-senadora Rose de Freitas, especialmente as filiações apontadas como irregulares, além de condutas tidas como má gestão, permanecem inalteradas.
Esses movimentos, confirmados nos bastidores políticos, visam isolar o grupo do ex-deputado federal Lelo Coimbra e, indiretamente, o ex-governador Paulo Hartung (sem partido), com quem Lelo tem ligações históricas. As conversas de Neto Barros para definir a escolha da sigla partidária que viabilize sua pré-candidatura à prefeitura de Baixo Guandu têm o direcionamento de Casagrande, segundo ele próprio afirmou em entrevista a Século Diário nessa terça-feira (28), sem especificar a legenda, decisão que só tomará “com o time, mais adiante”.
Nos meios políticos, no entanto, a filiação dele já estaria definida, para insatisfação de emedebistas históricos do grupo de Lelo, formado por remanescentes apoiadores de Hartung. “Parece que as negociações estão sendo feitas em nível local”, comenta um integrante do grupo, que ressalta ser a crítica não é ao nome do Neto, mas à forma como tem sido processado. De outro lado, estranha que o ex-governador tenha sido um dos palestrantes do seminário “FUG Cidades”, promovido pelo MDB nacional nessa terça-feira (28), em Brasília.
Hartung falou sobre “Sustentabilidade, COP 30 e o desenvolvimento do país”, tema recorrente de suas palestras proferidas em âmbito nacional, que movem seus seguidores no Espírito Santo, que encheram as plataformas da internet com a entrevista dada ao canal de TV da Fucape Business School, onde falou sobre a falta de lideranças no Brasil atual e, mais enfático, abordou a questão climática.
Hoje na presidência executiva do Instituto das Árvores (Ibá), o ex-governador foi o convidado do presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, de São Paulo. Nos meios políticos, ele é visto como permanente ameaça à hegemonia do governador Renato Casagrande no contexto estadual, fato que se ligaria aos movimentos de isolamento de Lelo Coimbra, com um discreto aval da direção nacional do partido.
Esse contexto já estava esboçado na disputa pelo comando do MDB, em setembro deste ano, entre os grupos da ex-senadora Rose de Freitas e o de Lelo Coimbra, cuja votação terminou empatada, sendo necessária a interferência de Baleia Rossi. Como resultado, Ricardo Ferraço foi pinçado como presidente da comissão provisória, depois de entendimento entre Casagrande e a Nacional.
Nesses quase dois meses, o novo presidente do partido manteve as filiações feitas por Rose, objeto de denúncias e de ações judiciais movidas pelo grupo de Lelo, por considerá-las irregulares perante o regimento interno da legenda. Para alguns emedebistas, “o presidente Baleia Rossi rifou os companheiros do Espírito Santo, entregando o partido a Casagrande. Fosse um país sério, Casagrande já teria enfrentado um processo de infidelidade junto ao PSB, pois declara real interesse no fortalecimento do MDB”.