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Horta comunitária em Vitória é ameaçada por obra de macrodrenagem

Comunidade de Santa Tereza se mobiliza contra projeto da gestão de Lorenzo Pazolini

Ruca

A Horta Comunitária do bairro Santa Tereza, em Vitória, poderá ser gravemente prejudicada por uma obra de macrodrenagem que a gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) pretende realizar no local. O projeto foi apresentado aos moradores na semana passada pela empresa que realizará a obra, com a presença do líder do Governo, vereador Duda Brasil (União), e tem sido contestado pela comunidade por meio de denúncias ao Ministério Público do Estado (MPES) e a fóruns de movimentos sociais.

Nesse fim de semana, a Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca), que apoia a iniciativa comunitária, denunciou a situação em nota pública. “Os moradores foram surpreendidos com uma empresa que diz ter autorização da prefeitura para usar o local como reservatório de água, num projeto que deixaria um espaço restrito e inadequado para a horta e incluiria ainda o corte de várias árvores centenárias que existem no local, que faz parte de uma área de proteção ambiental – além de estarmos num momento de grave crise climática”, destaca.

A nota destaca que “a Horta Comunitária de Santa Tereza hoje é uma das referências no Estado, realizando plantio, compostagem, criação de abelhas nativas e outras atividades”. Apesar disso, continua, “a gestão do prefeito Lorenzo Pazolini, ao invés de apoiar as várias iniciativas existentes de hortas comunitárias no município, decidiu criar um projeto próprio para ‘inaugurar’ hortas sem diálogo algum com o movimento agroecológico.”

Os primeiros plantios da Horta Comunitária de Santa Tereza se deram em 2021, e hoje ela atende 35 famílias com alimentação saudável e plantas medicinais. A horta foi criada no espaço de 51 mil metros quadrados de uma antiga estação da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), que estava desativada há mais de dez anos e foi cedida à comunidade em 2018, após uma mobilização que data de 2006.

Antes de passar para as mãos da comunidade, o espaço gerava mau cheiro e era usado para todo tipo de crimes e violações. Atualmente, além da Horta Comunitária, são realizados diversas iniciativas da comunidade na parte construída, que conta com cinco salas, incluindo eventos e ações de apoio a famílias em situação de vulnerabilidade.

No ano passado, os responsáveis pela Horta Comunitária permitiram que houvesse uma escavação da Prefeitura de Vitória visando captação de água, que supostamente atenderia o bairro Joana D’arc. Há cerca de um mês, porém, uma assistente social e uma engenheira visitaram o local e disseram que o espaço receberia as obras de macrodrenagem, gerando apreensão nos moradores.

De acordo com eles, o projeto prevê que fique apenas um pequeno espaço de oito metros quadrados para a horta, e que seja feito o corte de árvores centenárias, como um pé de fruta-pão muito utilizado pela comunidade. “De 51 mil metros quadrados, eles só querem nos ceder oito metros quadrados. E ainda querem nos colocar no pior lado, onde só tem pedras”, afirma Viviane Rodrigues, coordenadora do projeto de hortas comunitárias na região de Santa Tereza. A empresa é identificada como “Contrato Serviço”.

“Nos disseram que a obra é para acabar com os alagamentos na região. Mas o que precisa ser feito aqui são muros de arrimo e obras para diminuir os riscos, e não acabar com espécies nativas da mata atlântica. Estou desesperada só de imaginar arrancando aquelas árvores. Falaram que não podem deixar passar uma obra de R$ 140 milhões que vai trazer desenvolvimento, mas sabemos que tudo isso é mentira”, protesta.

Defesa do projeto

O vereador Duda Brasil relata que “se colocou à disposição da comunidade para ser a ponte entre eles e a gestão, dialogando para viabilizar a construção do reservatório do Bairro Santa Tereza, que fará parte do sistema de macrodrenagem da Grande Santo Antônio”.

Também afirma que a comunidade não será prejudicada, porque será “reservado o espaço para cultivo e uma casa de apoio”. Duda Brasil também defende a obra, que, segundo ele, “vai beneficiar milhares de pessoas, em 12 comunidades, que hoje temem a chuva e/ou a maré alta.”

“O reservatório de Santa Tereza não será o único. Os bairros de Inhanguetá e Grande Vitória também vão ter reservatórios. A função desses espaços é represar a água da chuva, bombeando direto para a maré o excedente, sem ter o risco de alagamentos, hoje existente. Especificamente em Santa Tereza, o reservatório vai represar a água que vem das comunidades mais altas e evitar que bairros da chamada ‘baixada’ sofram com enchentes. A obra para todo sistema ainda prevê a construção de três estações de bombeamento, alguns quilômetros de galerias e três reservatórios”, completa.


Nota


A Prefeitura de Vitória informa que o terreno em questão é de propriedade do município e será usado para construir uma obra pública “que beneficiará moradores dos bairros Mário Cypreste, Santo Antônio, Inhanguetá, Estrelinha, Grande Vitória, Universitário e Santa Tereza”. No local, será construído um dos dois reservatórios de contenção de águas das chuvas do sistema de macrodrenagem da Grande Santo Antônio.

O investimento é de R$ 139 milhões, com recursos próprios, e “tem como objetivo minimizar o risco de alagamentos em 18 bacias de drenagem da região, frutos de ocupações irregulares sobre manguezais aterrados a partir do final da década dos anos 80 até o início dos anos 2000”. A gestão, igualmente, afirma que “o projeto da horta comunitária não acabará, sendo reservado, no projeto, o espaço para cultivo e uma casa de apoio”.

As intervenções, em andamento desde abril deste ano, acrescenta, são: dois reservatórios de contenção (Santa Tereza e Inhanguetá); duas estações de bombeamento (Mário Cypreste e Universitário) e 4 km de galerias em 16 ruas. O objetivo é possibilitar, ainda a mobilidade urbana mesmo em dias de chuvas fortes, integrar soluções de drenagem com a paisagem e utilitários urbanos e promover saúde e bem-estar social. A obra será concluída em 20 meses, com mais seis meses de operação assistida.

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