Pescadores sentam com mesas e cadeiras no leito e pedem medidas urgentes, inclusive sobre as comportas da Suzano
O café da manhã da diretoria da Associação de Pescadores de Barra do Riacho, no norte do Estado, nesta sexta-feira (8), foi sobre o leito do rio Riacho. Para mostrar o estado grave de assoreamento do principal corpo hídrico de toda a região, os pescadores colocaram mesas e cadeiras, cujos pés submergiram poucos centímetros. Também caminharam, atravessando o leito de norte a sul, em pontos que outrora passavam todos os barcos pesqueiros da comunidade.
“Nossa pauta hoje é salvar o rio Riacho”, afirma o presidente da Associação, Alexandre Barbosa. Em postagens nas redes sociais, a entidade pede que autoridades municipais e estaduais visitem a foz do rio para conhecerem de perto o drama e tomem as medidas urgentes que forem possíveis. “Fazemos um convite para nosso governador Renato Casagrande [PSB], nosso deputado Helder Salomão [PT], Luiz Coutinho [PP], nosso prefeito, que são pessoas que ajudamos a eleger”, elenca, citando também a aproximação da vereadora Etienne Coutinho (Cidadania) da pauta.
O rio Riacho, reforça Alexandre, é um ente fundamental para a região, muito além dos pescadores. “É muito importante para nós, e também para a nossa comunidade e para a cadeia alimentar de várias espécies que dependem desse rio para se reproduzir, se alimentar”.
É fato que a seca atual, que tem adiado por um período angustiante a estação chuvosa que já devia ter chegado, tem causado limitações a diversas atividades. Em anos anteriores de grande seca, por exemplo, os agricultores familiares eram desproporcionalmente impactados, com restrições duras de irrigação. Uma mobilização intensa dos agricultores de Santa Maria de Jetibá, na região serrana, conseguiu aprovar uma lei que incluiu a irrigação entre os usos prioritários para a Barragem do Rio Bonito, alteração que foi legalmente concluída nesta quinta-feira (7), com publicação da Resolução nº 4/2023 da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh).
Atualmente, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito Santo (Sindaema/ES) questiona por que a população, responsável por uma fatia pequena do consumo total, é quem mais sofre com racionamento de água nessas situações, enquanto outros setores nas cidades são privilegiados.
“A AGERH orienta, em resolução, para as prefeituras proibirem e punirem atividades que desperdiçam água, como lavar vidraças, carros, calçadas, pisos e muros com o uso de mangueiras e regar gramados e jardins. Concordamos que a economia no consumo de água é necessária, inclusive nas atividades domésticas. Mas a população é a que menos consome água, chegando a menos de 10% do total que é consumido. E as empresas? O que elas estão fazendo? O quanto elas consomem de água? Quem irá cobrar delas?”, questionou o sindicato, na última sexta-feira (1).
A situação dos pescadores artesanais de Barra do Riacho também demanda um olhar abrangente sobre a situação, pois há tempos eles denunciam o controle das águas do rio Riacho por parte da Suzano Papel e Celulose. No inverno de 2022, a situação foi motivo de manifestações populares, que suscitaram a atuação da Defensoria Pública Estadual, por meio de um levantamento sobre as condicionantes socioambientais da Suzano – em relação ao canal Caboclo Bernardo e outros empreendimentos – e demais empresas que possuem impacto sobre a comunidade pesqueira. O procedimento segue apurando as informações, afirma o defensor Rafael Portella.
Enquanto isso, Alexandre Barbosa observa que a Suzano parece ter modificado um pouco seu comportamento em relação às comportas, mas não é o suficiente. “A empresa tem mantido as comportas mais abertas desde aquelas manifestações. Mas nesse período mais seco, a gente vê o rio nessa situação, muito grave”.