Obras são resultado de projeto que envolveu diferentes gerações do Sapê do Norte
As oficinas envolveram participantes de diferentes idades. Em todos os filmes, o principal dispositivo usado para despertar as memórias e tecer de um modo coletivo o roteiro foi o gesto de escrever à mão uma carta para uma pessoa querida presente, distante ou já falecida. Quem não tinha condições de escrever, ditava sua mensagem para alguém. As cartas despertaram lembranças e sentimentos, trouxeram à tona o que é importante para cada um e o que os une como comunidade, o que permitiu entrelaçar múltiplas visões e ideias, iluminando o caminho para a construção das imagens e sons das obras captados através de câmeras celulares pelos próprios quilombolas e pela equipe do IMA.
As rodas de conversa seguidas de gravações aconteceram este ano. Após a apresentação no circuito, os médias-metragens serão inscritos em mostras e festivais, buscando ampliar os espaços de visibilidade dos conteúdos produzidos pelos quilombolas. A ação foi contemplada pelo edital Seleção de Projetos Culturais Setoriais de Audiovisual no Estado do Espírito Santo.
Cinema de Griô nasceu da inspiração de outro projeto do Instituto Marlin Azul, o Cine Quilombola, realizado em 2021, quando cada comunidade construiu seu filme-carta para dialogar com outras comunidades por meio de correspondências audiovisuais. Produziu os seguintes documentários: Do Lado de Cá, da Comunidade Quilombola de Graúna (Itapemirim); Vamos em Batalha, de Cacimbinha e Boa Esperança (Presidente Kennedy); Era Caminho Deles, da comunidade de Pedra Branca (Vargem Alta); e Ninguém Canta Igual Eu Canto, da Comunidade Quilombola de Monte Alegre (Cachoeiro de Itapemirim).
Documentários
O Vento não tem Morada reúne vivências de três grupos: Comunidade Quilombola Porto de São Benedito, Comunidade Quilombola Porto Grande e a Comunidade Quilombola de Santana. As famílias vizinhas e amigas se juntaram, se visitaram para contar e ouvir histórias sobre o jeito de ser e viver do lugar, as alegrias, as dores, as formas de lidar com os sofrimentos, os laços de pertencimento e a passagem das tradições entre avós e netos.
O atravessamento das gerações, o elo entre os mais velhos e os mais novos e o registro dos traços culturais, como as práticas populares, em especial o Jongo, formam a inspiração para o média-metragem. Patrimônio Imaterial Brasileiro, o jongo é uma dança de roda de origem africana semelhante a um batuque ou samba, acompanhado pelo som de tambores e cantorias, praticado nos quintais, muito comum em regiões rurais, uma forma de louvação aos antepassados.
A força, a luta e a resistência para enfrentar e superar as perdas e para defender o território perpassam o documentário Abre Caminho feito com a Comunidade Quilombola do Angelim II. O pequeno povoamento rural é formado por agricultores familiares comprometidos com práticas agroecológicas de cultivo de alimentos para a proteção e preservação das águas e do solo contra a ação da monocultura defendida por grandes empresas na região. A obra também destaca o entrelaçamento de gerações.
Jangolá celebra a potência feminina na defesa da terra, das tradições, das crenças e da identidade afrodescendente da Comunidade Quilombola do Linharinho, localizada no caminho para Itaúnas. O lugar guarda o conhecimento, a sabedoria e os rituais de matrizes africanas, sendo, muitas vezes, alvo de perseguições, do preconceito e da intolerância religiosa. O filme percorre os quintais para reverenciar o culto à memória e às raízes ancestrais e revelar o esforço de mulheres na preservação e na transmissão de saberes e fazeres herdados das matriarcas.
Serviço
Lançamento dos médias-metragens do projeto Cinema de Griô: O Vento não tem Morada, Jangolá e Abre Caminho
– Data: 11 de dezembro (segunda-feira)
Horário: 19h
Local: Praça da Igreja de São Sebastião – Itaúnas
– Data: 12 de dezembro (terça-feira)
Horário: 19h
Local: Praça da Igreja de Santo Antônio – Novo Horizonte
– Data: 13 de dezembro (quarta-feira)
Horário: 19h
Local: Campo de Futebol do Linharinho