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O segredo da vida

Se não jogar hoje você já ganhou na loteria

Nada sabemos dos trâmites legais que determinaram nossa viagem para a terra – um dia a mais ou um dia a menos? Ao nascermos, o guardião dos portões de saída nos dá u’a mochila: a única bagagem de mão para nossa viagem: – pesada para uns, leve para outros… o peso varia e não temos uma balança para conferir – afinal, somos apenas um zigoto – o minúsculo grão onde a vida começa. Nessa mochila ficam armazenados os dias que teremos para passar na terra: muitos para uns, poucos para outros.

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Dei sorte, minha mochila veio bem carregada, e acho que ainda tem bastante estoque. Sou uma teimosa otimista. À medida que o os anos vão passando, a mochila vai esvaziando – cada vez mais leve – vai-se um dia hoje, vai-se outro dia hoje… os hojes se repetem com a precisão de um relógio maluco. A mochila vai ficando leve e de repente… não tem mais dias disponíveis. A quem prestaremos contas dos dias que gastamos?

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Talvez um auditor fiscal onipresente esteja registrando no livro da vida nossa quota diária – os dias desperdiçados vão para a coluna do débito, os dias bem vividos vão para a coluna do crédito. Só Deus julgará o balanço final. Talvez o destino, esse mago inconstante, seja o cantador no jogo do bingo: um imenso globo girando enquanto marcamos nossa cartela, torcendo pelo número que vai cair na próxima rodada. Bingo! Ganhei mais um dia!

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Temos ainda o biscoito da sorte, que todos acham que são chineses, mas nasceram em Quioto, no Japão. De lá migraram para a Califórnia, e ficaram populares nos restaurantes de comida oriental, mas na China ninguém come. Essa singela combinação de farinha de trigo, clara de ovo, açúcar, gotinhas de baunilha e óleo de gergelim pode esconder em seu gracioso âmago o segredo da vida – Viva o hoje, apague o ontem e não exija demais do amanhã. As mensagens são sempre positivas, afinal, o nome é biscoito da sorte. Se não jogar hoje, você ganhou um real na loteria. Ou muitos.

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Em tempos de furacões e terremotos, inundações e fakes news, guerras alimentadas pelo ódio racial e cultural, fome na África e levas de desterrados abandonando seus berços ancestrais a vagar por um mundo escasso de compaixão, cada vez que abrimos os olhos ao nascer do sol é uma vitória. Mesmo se as más notícias dominam o noticiário e os vizinhos não trocam bons-dias, tivemos a dádiva de encontrar mais um dia nas nossas mochilas.

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Como ocupamos esses dias que recebemos? Plantando árvores cujos frutos vão alimentar os que vierem depois de nós? Árvores de galhos fartos, deitando sombras na estrada que outros vão percorrer? Nem todos puderam ajudar a construir um mundo melhor, mas se não atrapalharam já valeu a pena. Se ri mais do que chorei, se plantei e alguém colheu, se não ofendi nem machuquei ninguém, então hoje tive um bom dia. Iniciando um novo ano, meus votos de que ainda haja muitos dias disputando espaço na sua mochila.

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