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Convivência pacífica entre fumacê e abelhas avança na Grande Vitória

Principal pedido dos criadores de abelhas sem ferrão é pela aplicação do inseticida entre 19h e 3h

Adailton Gonçalves Pinheiro/Ame-ES

A Situação de Emergência em Saúde Pública decretada no Espírito Santo em relação à Dengue, em função dos recordes de infecção e mortes de capixabas pela doença, tem intensificado o uso de carros fumacê pelas prefeituras, como uma das principais formas de controle dessa arbovirose, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.

A medida, no entanto, apesar de muito popular, especialmente em um ano de eleições municipais, é causa de uma verdadeira tragédia ambiental no tocante às vidas de diversas espécies de insetos, como borboletas, libélulas, joaninhas e abelhas, além de pequenos pássaros. Todos esses animais, quando tocados pelo inseticida lançado peço carro fumacê, durante o voo, morrem intoxicados, muitos deles nem conseguindo chegar em seus ninhos antes de fenecerem, como é o caso das abelhas sem ferrão.

A criação de abelhas nativas – a meliponicultura – está cada vez mais presente em pequenas produções domésticas nas cidades da região metropolitana e interior do Estado e tem no inseticida de combate ao mosquito transmissor da Dengue uma de suas principais ameaças.

A aplicação do inseticida no período entre 19h e 3h tem sido apontada como uma medida fundamental para permitir a convivência pacífica entre o fumacê e as abelhas, conforme avalia a Associação de Meliponicultores do Espírito Santo (Ame-ES). Diálogos nesse sentido têm sido realizados com diversas prefeituras, como a de Vitória e, no norte do Estado, as de Linhares e de Aracruz.

Na Capital, a estratégia tem sido adotada, bem como a proibição de agrotóxicos que contenham neonicotinoide, considerado o mais letal para abelhas. “Em Vitória temos um ‘acordo de cavalheiros’ que vem funcionando razoavelmente bem, com alguns poucos casos de incongruência. Mas nossa busca é que essas aplicações sejam estabelecidas de forma obrigatória, quer seja por uma resolução ou até por uma lei, fazendo com que os terceirizados possam realmente cumprir os horários estabelecidos. O acordo prevê a aplicação entre 19h e 3h, porém há relatos de que às vezes o carro passa fora desses horários”, relata o presidente da Ame-ES, Adailton Gonçalves Pinheiro.

A ideia, afirma, é expandir a prática para outros municípios. Nessa terça-feira (20), a reivindicação foi bem recebida por uma equipe da gestão de Arnaldinho Borgo (Podemos), incluindo a secretária municipal de Saúde, Cátia Cristina Vieira Lisboa. Além do horário noturno, entre 21h e 3h, a reivindicação é de que o cronograma de aplicação do fumacê nos bairros seja divulgado com 48 horas de antecedência, para que os meliponicultores possam recolher suas abelhas dentro das caixas, reforçando a proteção das polinizadoras.

O encontro foi necessário, explica Adailton, porque, apesar de um acordo informal firmado entre a prefeitura e os meliponicultores, no sentido de avisar com antecedência o local e horário do fumacê, para que os produtores possam proteger suas criações, é muito comum serem surpreendidos com aplicações diurnas e consequentes mortandades generalizadas dos enxames.

“A conversa foi muito boa”, relata o presidente, que aguarda o retorno breve por parte da secretária sobre as medidas que serão tomadas. “A secretária e os assessores demonstraram muito bom entendimento do assunto e ficaram de analisar como poderão colocar em prática o nosso pedido. Foi uma reunião muito amistosa. E um primeiro passo para minimizar os efeitos do fumacê sobre as abelhas e demais polinizadores”.

Cariacica deve ser a próxima prefeitura a entrar no diálogo. Uma reunião com o secretário de Saúde, César Colnago, chegou a ser agendada para essa quarta-feira (21), mas foi suspensa em função do encontro de gestores municipais da pasta convocado pelo governador Renato Casagrande (PSB), para anúncio da Situação de Emergência.

Num momento mais propício, vencida essa fase aguda de incidência da Dengue e até mesmo de eleições municipais, é possível que se criem condições favoráveis para discutir medidas mais eficientes, visto que o fumacê só mata o mosquito durante o voo e não suas larvas, fazendo com que o efeito seja muito curto e limitado, e que não provoquem tantos danos ambientais. Há muitas outras técnicas possíveis, aplicadas com sucesso em outros estados e países, como já mencionaram meliponicultores da Ame-ES em outras ocasiões.

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