Grupo sairá do Centro Cultural Triplex da Resistência, na noite deste domingo, para Juiz de Fora (MG)
Uma caravana de ativistas políticos do Espírito Santo vai participar da Marcha da Democracia em memória dos 60 anos do golpe de 1964 que instalou a ditadura militar no Brasil, neste 1º de abril, em ato no qual está previsto o encontro de participantes com a família do ex-presidente João Goulart e com a de outros personagens da época. A manifestação, que pede a punição dos envolvidos, sem anistia, é organizada por representantes da sociedade civil com a participação de vários estados.
Um ônibus com mais de 40 pessoas sai de Vitória, em frente ao Centro Cultural Triplex da Resistência, na noite deste domingo (31), para a cidade mineira de Juiz de Fora, de onde, há 60 anos, saíram as tropas comandadas pelo general Mourão Filho em direção ao Rio de Janeiro, então capital da República, instalando a ditadura, que durou 21 anos, com vários mortos e desaparecidos.
A marcha é organizada por entidades como Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ( MST); Associação Brasileira de Imprensa (ABI); centrais sindicais; e os partidos PT, PCdoB, PSB, PV, Unidade Popular, PCB, Psol e Rede Sustentabilidade.
Caravanas partirão de várias cidades para o ato, como parte da marcha reversa à realizada pelo general Mourão, que, em 1964, cercou o Palácio do Catete, então sede do governo, com tropas e tanques, ganhando a adesão da maioria das Forças Armadas, das classes dominantes e de sistemas religiosos. Era o início de uma das fases mais cruéis vividas no Brasil, com assassinatos, censura à imprensa, tortura e corrupção. No ato está prevista a entrega do título de doutor “honoris causa” póstumo ao ex-presidente João Goulart pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
A Marcha da Democracia fará duas paradas para atos simbólicos em memória dos perseguidos políticos na ditadura. A primeira será em frente ao palácio Quitandinha, na entrada de Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade onde está localizada a Casa da Morte, um dos principais centros de tortura na ditadura.
A segunda será sobre a ponte do Rio Paraibuna, na antiga divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais. Em abril de 1964, as estruturas da ponte foram preenchidas com dinamites pelas tropas do general Mourão Filho para inibir qualquer reação ao golpe.
Em Vitória, além da marcha, tem sido realizada uma série de eventos relacionados à ditadura militar, cobrando a punição dos envolvidos. No Triplex da Resistência, na última quinta-feira (28) foi realizado um ato pelos mortos e desaparecidos na ditadura, seis do Espírito Santo.
“Para lembrar e refletir sobre os 60 anos do golpe militar de 64, exibimos o filme O que é isso, companheiro?, a história real de um grupo de jovens que ousou enfrentar a ditadura”, diz Perly Cipriano.
Nesta quinta-feira (4), também haverá, no local, o lançamento do livro 60 anos do golpe – Gerações em luta, organizado pelo ativista e ex-preso político Francisco Celso Calmon. A obra terá o lançamento oficial nesta segunda (1º), em várias capitais, sendo em Vitória às 10 horas, na Associação dos Docentes da Ufes e às 19 horas na Biblioteca Pública do Estado. Reúne textos de 60 sobreviventes da ditadura, que deixa um saldo de mortos e desaparecidos de mais de 434 militantes, de acordo com dados oficiais.
“A eles devem se somar pelo menos 8.350 indígenas e 1.196 camponeses assassinados, de acordo com levantamentos das próprias comissões e posteriores estudos acadêmicos”, lembra a jornalista Mariluce Moura, que assina um texto no livro. Lançamentos simultâneos estão confirmados no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Goiânia, Aracaju, Curitiba, Florianópolis e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.