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Projeto para revitalizar praça de Itaúnas será discutido em nova reunião

Proposta defendida pela Prefeitura de Conceição da Barra é apontada como prejudicial ao patrimônio

Divulgação

A Prefeitura de Conceição da Barra, no norte do Estado, realizará uma nova reunião, nesta sexta-feira (19), para debater o projeto de revitalização da praça da Vila de Itaúnas. O encontro está marcado para acontecer na escola municipal Benônio Falcão de Gouvea, a partir das 19h, e contará com a presença do secretário de Estado do Turismo, Philipe Lemos (PDT).

Nas redes sociais, o prefeito de Conceição da Barra, Mateusinho do Povão (PTB), convoca a população. “Atenção Itaúnas, nessa sexta-feira, às 19h, na escola Benonio, temos um encontro marcado. Estaremos junto com secretário de Turismo do governo de Estado, Philipe Lemos, em uma reunião muito importante para apresentação do Projeto da Praça da Igreja. Sua presença é muito importante”, afirmou.

A realização da reunião é considerada uma conquista pela parte dos moradores que é contrário ao projeto apresentado, por considerar que a revitalização, na forma como se pretende fazer, trará prejuízos para o patrimônio material e imaterial da vila. Para esse grupo, a mobilização para ampliar o debate está sendo bem-sucedida.

Entretanto, a informação é de que os ânimos estão acirrados em Conceição da Barra. O projeto é defendido pela gestão de Mateusinho do Povão, e grande parte da comunidade considera a intervenção necessária para o “progresso” da vila, tendo em vista que o espaço não passa por reformas há vários anos.

O anúncio da presença de um representante do governo do Estado na reunião também não é um fato casual. Mateusinho é aliado do governador Renato Casagrande (PSB), e os recursos para a realização das intervenções deverão sair dos cofres estaduais.

O projeto proposto foi apresentado pela primeira vez aos moradores em uma reunião no último dia 5 de abril. Entre as propostas, está a colocação de um piso de concreto em frente à histórica Igreja de São Sebastião e embaixo do Mastro de São Benedito. Outra intervenção é a criação de duas passarelas de madeira com pergolados no meio da praça. Também está prevista a instalação de equipamentos de lazer e esportes, com um parquinho infantil e uma quadra de areia.

A arquiteta responsável pelo projeto, Patrícia Madeira, afirma que não houve questionamentos durante a primeira reunião de apresentação, apenas uma única sugestão foi encaminhada. Também não está prevista, em seu entendimento, nenhuma intervenção contra o patrimônio histórico, e todas as características foram mantidas. Além disso, segundo Madeira, trata-se de um “estudo” arquitetônico, e não um projeto pronto.

“Criamos alguns elementos com acessibilidade, porque tem pessoas que andam de cadeira de rodas, como eu. Cadastralmente, na verdade, nem é uma praça, é uma rua. Não vai ser mexida em nada em relação à vegetação. O que vai no entorno dela, para não alagar, é uma calçada para as pessoas passearem em volta, como em qualquer outra praça”, comenta a arquiteta.

Apesar disso, pessoas ligadas às tradições populares de Itaúnas consideram que os elementos do projeto não favorecem as práticas comunitárias. Esse é o caso de Wanderlea Campos da Paixão, a Dequinha, integrante da Associação de Folclore de Conceição da Barra.

“Eu sou brincante, participo do Jongo e do Ticumbi, e aquele piso ali vai impossibilitar nossas práticas. E as passarelas, além de estranhas, vão atrapalhar as brincadeiras também. Um exemplo é o Alardo [manifestação secular que simula uma luta entre mouros e cristãos], que precisa de uma área grande para acontecer”, comenta

Dequinha, que mora em Itaúnas desde que nasceu, também diz ser contra a retirada de uma feira livre que acontece às quintas-feiras na praça, conforme foi colocado na reunião. Ela é a favor de melhorias na praça, mas questiona a forma como a prefeitura apresentou o projeto.

“Tiveram quatro anos e meio para apresentar o projeto e não fizeram, agora vão querer que a gente engula uma pracinha que eles não vieram discutir com a gente, vieram para mostrar um projeto pronto. Falam que vão aceitar sugestão, mas não vão aceitar coisa nenhuma, querer fazer isso logo para a verba entrar”, critica.

O arquiteto e urbanista Genildo Coelho, especialista em patrimônio histórico, foi acionado por moradores logo após a apresentação do projeto. Para ele, a proposta divide a praça em três, inviabilizando as práticas culturais da comunidade, e esconde a igreja da cidade. Ele afirma que é possível, sim, colocar itens em benefício dos moradores, como o parquinho, e é necessário também tornar o espaço mais acessível, mas é preciso respeitar as características locais.

“É um projeto muito equivocado, não tem o mínimo de respeito com a paisagem local, que ‘gourmetiza’ um espaço popular. Você não pode propor uma intervenção que desrespeita a ambiência urbana”, comenta Genildo Coelho.

Por outro lado, Rafhael Brandão, presidente da Associação de Folclore de Conceição da Barra, defende que a intervenção é necessária e que ainda não há um projeto definitivo. Ele tem participado da mobilização visando a realização de reuniões comunitárias para debater a proposta.

“Apenas uma apresentação do projeto feito pelo Executivo foi levado para discussão em uma primeira etapa. Acho positiva a reforma, já que a nossa praça está abandonada há mais de 20 anos. Vejo com bons olhos, desde que respeite as tradições do lugar. O que não pode acontecer é a praça ficar do jeito que está, jogada”, argumenta.

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