Oito casos foram identificados da doença, transmitida pelo “maruim” ou “mosquito pólvora”
O Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/ES) confirmou, nesta terça-feira (23), a circulação da Febre do Oropouche (OROV) no Espírito Santo. Foram identificados oito casos até agora, após análises feitas desde o dia 1º deste mês em 1,8 mil amostras, por meio de exames de RT-PCR. A positividade para a doença, no entanto, ainda é considerada baixa (0,42%).
Dos casos confirmados, cinco são de Colatina, noroeste do Estado; um de Vitória; um de Sooretama e um de Rio Bananal, ambos municípios da região norte.
O vetor da Febre do Oropouche é um inseto de um a três milímetros, popularmente conhecido como “maruim” ou “mosquito pólvora”, com coloração que varia de cinza a castanho escuro e possui asas curtas e largas. Está geralmente associado a regiões com maior umidade e presença de matéria orgânica e tem elevado potencial de transmissão e disseminação, com capacidade de causar surtos e epidemias em áreas urbanas.
“É uma doença que não apresenta letalidade, até o momento, e tem sintomas muito parecidos com os da dengue – febre, dor no corpo e dores nas articulações. É essencial o diagnóstico laboratorial para um acompanhamento efetivo dos casos, bem como as ações de vigilância epidemiológica municipais para monitoramento da situação”, destacou o subsecretário de Estado de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso.
Os casos agudos evoluem com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados, cometimento do sistema nervoso central (meningite asséptica e meningoencefalite), especialmente em pacientes imunocomprometidos, e com manifestações hemorrágicas (petéquias, epistaxe, gengivorragia), também podem ocorrer.
Parte dos pacientes pode apresentar recidiva, com manifestação dos mesmos sintomas ou apenas febre, cefaleia e mialgia após uma a duas semanas a partir das manifestações iniciais. Os sintomas duram de dois a sete dias, com evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves. Não há relatos de óbitos associados à infecção pelo OROV.
As picadas do vetor costumam causar bastante incômodo e reações alérgicas. Não existe tratamento específico para a doença, nem vacina. Os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico.
Até o momento não há evidência de transmissão direta de pessoa a pessoa. Após a infecção, o vírus permanece no sangue dos indivíduos infectados por dois a cinco dias após o início dos primeiros sintomas. O período de incubação intrínseca do vírus (em humanos) pode variar entre três e oito dias após a infecção pela picada do vetor.
Análise molecular
A identificação do vírus faz parte de uma estratégia de análise molecular para arboviroses que são testadas simultaneamente a partir de uma única amostra, por meio da RT-PCR realizada pelo Lacen.
Amostras com suspeita de arboviroses, normalmente encaminhadas para detecção de Zika, Dengue ou Chikungunya, são inicialmente testadas utilizando-se a técnica de RT-PCR, mesma utilizada para diagnóstico do Covid-19 e demais vírus respiratórios. Caso sejam consideradas negativas para Zika, Dengue ou Chikungunya, protocolo ZDC, a amostra então é submetida a uma segunda rodada de RT-PCR, na qual são testadas para a presença dos seguintes arbovírus: Mayaro, Oropouche e Febre do Nilo.
As oito amostras identificadas pelo Lacen passaram pelo mesmo protocolo ZDC, sendo consideradas negativas e então retestadas para presença dos demais arbovírus. “Além, disso por existirem alíquotas de amostras no Lacen, podemos executar uma caracterização desses vírus por meio do sequenciamento genético”, explicou o diretor do Lacen, Rodrigo Rodrigues.
Prevenção
O habitat em que o vetor se desenvolve varia de espécie para espécie. De modo geral, três elementos são necessários: umidade, sombra e matéria orgânica.
Dessa forma, as medidas para a prevenção da febre de Oropouche envolvem o manejo mecânico do ambiente e medidas de proteção individual. No manejo mecânico é necessário manter árvores e arbustos podados, de forma a aumentar a insolação no solo, retirar o excesso de matéria orgânica (folhas, frutos); manter terrenos baldios livre de matos, dependendo da situação, e o plantio de grama pode ajudar a manter a população de maruins sob controle; e manter os abrigos de animais (aves, suínos, bovinos e outros) sempre limpos.
Com relação às medidas de proteção individual, o uso de repelentes e roupas compridas pode ajudar a diminuir as picadas. Já o uso de telas em portas e janelas, como barreiras físicas, recomendados em alguns casos, não surtem muito efeito devido à necessidade dessas telas terem uma gramatura muito pequena, e esse fato acaba por reduzir a circulação de ar dentro dos imóveis.