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Um trem para o inferno

“Feita por americanos para os americanos!”

O homem, autodenominado senhor de um universo que não domina nem conhece, é por natureza intrinsecamente bom ou mau? Todo mundo é bom, mas as prisões estão superlotadas. O vizinho é uma ótima pessoa, mas foi embora e largou uma montanha de lixo no meu quintal. Os registros históricos também não nos favorecem e um triste exemplo foi a construção da estrada de ferro ligando o leste ao oeste do mapa americano.

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Em 1863 teve início a construção da ferrovia dos sonhos – hoje desativada. Obra faraônica, tal como imaginamos que as pirâmides foram construídas: com o suor do trabalho escravo. Ou quase. Em nome do progresso, os 3.075 km de trilhos que uniram o Atlântico ao Pacífico arrastaram um tsunami de horrores, a começar pelos milhares de búfalos sacrificados – a principal fonte de subsistência de muitas tribos indígenas. A seguir: ocupação ilegal de terras indígenas.

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Os trabalhadores enfrentaram precárias condições de subsistência sob intenso frio nas montanhas e tórrido calor nos desertos: muitos morriam congelados ou desidratados, ou sob as constantes avalanches. Obviamente, mão de obra escrava, ou negros libertos recebendo ínfimos salários. Mas não deram conta da grande empreitada, e a empresa pôs anúncios por toda parte – Precisam-se cinco mil trabalhadores – no experience necessary!

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Assim chegou a salvação da lavoura – 20.000 chineses fugindo da Guerra do Ópio na China e sonhando com o paraíso americano. Foi pular da frigideira para cair no fogo. Recebiam $27 a $30 dólares por mês, descontando comida e acomodações em tendas comunitárias – os trabalhadores irlandeses recebiam $35 sem descontos. As condições eram tão precárias que eles fizeram greve – logo abafada pela falta de comida. Hoje se diz que os chineses ‘inventaram’ a greve nos Estados Unidos.

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Seis anos depois a rodovia ficou pronta – e os chineses sumiram do mapa. Segundo a mídia da época, “Uma ferrovia feita por americanos para os americanos!” Em todas as fotos publicadas não aparece um único chinês. Os descendentes desses heróis anônimos lutaram anos para terem seus antecedentes reconhecidos como o suporte em cujas costas foi construída a ferrovia dos pesadelos. Não há registros públicos confiáveis, mas a estimativa é de que cerca de mil chineses morreram na árdua empreitada.

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