Figura histórica do MDB, Valadão também foi líder estudantil, vereador e deputado estadual e federal
O governador Renato Casagrande (PSB) decretou, nesta quarta-feira (22), luto oficial de três dias por conta do falecimento de Roberto Valadão Almokdice, ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, e liderança histórica do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Ele tinha 85 anos e estava internado em um hospital do município para tratar um quadro de anemia que se agravou nos últimos meses, por causa da idade avançada. O velório está marcado para as 12h, e o sepultamento, para as 17h desta quarta, em um cemitério localizado no bairro IBC.
Roberto Valadão era viúvo e tinha cinco filhos. Ao longo de sua trajetória política, esteve em duas oportunidades à frente da Prefeitura de Cachoeiro, de 1983 a 1988 e de 2005 a 2008. Ele também teve um mandato como vereador, de 1973 a 1979, outro como deputado estadual, de 1979 a 1983, e dois como deputado federal, de 1991 a 1999.
O ex-prefeito nasceu em Colatina, no noroeste do Estado, em 20 de setembro de 1938. Em Cachoeiro, na segunda metade dos anos 1960, fez cursos de Técnico em Contabilidade e de Ciências Jurídicas e Sociais. Foi nesse período, também, que se tornou uma liderança estudantil em meio à ditadura militar, tendo sido eleito presidente da Casa do Estudante.
“Nessa época, já tinha um movimento nacional, chamado movimento estudantil. E nós aqui de Cachoeiro fizemos esse movimento também. […] A ditadura, nas reuniões da Casa do Estudante, mandava um espião, às vezes era até gente daqui mesmo, que tinha alguma relação com a ditadura” relembrou Roberto Valadão em 2019, em depoimento para um documentário sobre o Centro Operário e de Proteção Mútua.
Arildo Valadão, irmão de Roberto, é um dos desaparecidos políticos que atuaram na Guerrilha do Araguaia, no norte do País. De acordo com informações da Comissão Nacional da Verdade (CNV), sua morte teria ocorrido em 23 ou 24 de novembro de 1973, em uma emboscada armada pelo Exército. O próprio ex-prefeito sobreviveu a um atentado na década de 1970, tendo sido atingido por tiros quando estava no então conhecido Bar Alaska.
Da militância estudantil, Roberto Valadão tornou-se vice-prefeito na primeira gestão de Hélio Carlos Manhães, de 1970 a 1973, e seguiu uma trajetória ascendente na política a partir de então. Foi um dos fundadores do MDB e ocupou cargos de liderança do partido tanto a nível local quanto nacional. No ano passado, no seu aniversário de 85 anos, recebeu uma homenagem do ex-presidente Michel Temer.
Em 2008, nos últimos meses de mandato como prefeito, Valadão foi afastado judicialmente do cargo por denúncias de irregularidades envolvendo a desapropriação de um terreno, mas o processo acabou anulado. Anos depois, ele e seu filho, o ex-secretário municipal Glauber Borges Braga, foram condenados por improbidade administrativa em outro processo envolvendo a contratação de agentes de endemias sem concurso público. Nos últimos anos de vida, o ex-prefeito esteve recluso devido aos problemas de saúde.
“Cachoeiro hoje se despede de sua maior liderança política…combateu a ditadura. Lutou pela Democracia. Acolheu sempre as pessoas…valorizou o funcionalismo publico. Incentivador da Educação Pública de Qualidade e na valorização do Magistério. Com sua voz mansa e forte, sempre esteve ao lado do povo, caminhando junto para buscar soluções políticas e públicas que alcançassem a todos”, pronunciou-se o presidente do diretório municipal do MDB, Rogério Athayde, acrescentando que figuras nacionais da sigla também enviaram condolências à família.
“Lamento profundamente o falecimento do ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, ex-deputado estadual e federal, Roberto Valadão. O Espírito Santo e a política capixaba perdem um grande nome. Meus sinceros sentimentos à família e amigos neste momento de dor. Em sua homenagem, o Estado estará de luto oficial por 3 dias”, declarou nas redes sociais o governador Renato Casagrande. O atual prefeito de Cachoeiro, Victor Coelho (PSB), também lamentou a perda de Roberto Valadão nas redes sociais e anunciou luto oficial de três dias na cidade.
O deputado estadual e também ex-prefeito de Cachoeiro Theodorico Ferraço (PP), adversário histórico de Valadão, escreveu em suas páginas na internet que “Valadão contribuiu com o desenvolvimento do Espírito Santo como deputado estadual, como deputado federal e para o progresso de Cachoeiro de Itapemirim”, e desejou forças à família e amigos.
O vice-governador, Ricardo Ferraço, filho de Theodorico e presidente estadual do MDB, foi outro que lamentou a perda. Na sessão ordinária desta quarta-feira na Assembleia Legislativa, também foi feito um minuto de silêncio em homenagem ao ex-prefeito.