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Extrativistas em Rio Novo do Sul são os primeiros beneficiados. Município prepara a 3ª Festa da Juçara

Divulgação

A terceira edição da Festa da Palmeira Juçara de Rio Novo do Sul, no sul capixaba, a capital estadual da Juçara, chega neste mês de maio celebrando um crescimento importante da economia, das pesquisas científicas e das ações de conservação da espécie, a Euterpe edulis, ainda ameaçada de extinção em toda a Mata Atlântica, bioma do qual é endêmica.

A 3ª Festa acontece entre o próximo dia 31 e 2 de junho, feriado de Corpus Christi, com uma programação que inclui espaço gastronômico com a culinária da Juçara, shows regionais e nacionais, concursos fotográfico e de beleza e caminhadas ecológicas. “As inscrições para a caminhada que acontece dia 26 de maio acabaram em menos de 24 horas. São 500 vagas!”, comenta a médica-veterinária Ana Paula Alves Moreira, coordenadora da Sala do Empreendedor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Rural, Industrial e Meio Ambiente, como exemplo do sucesso do evento e de toda a economia e cultura da Juçara, que cresce no município.

Outro destaque é o almoço típico do domingo seguinte (2). “Costelinha de porco com molho barbecue de juçara, acompanhado de mousselini de aipim com legumes salgados”, descreve. No mais, todos os expositores de alimentos irão apresentar ao menos um produto feito à base de juçara, mostrando a diversidade da gastronomia feita com o fruto.

Desde a primeira festa, em 2022, quando o município foi oficialmente reconhecido como capital capixaba da Juçara, a movimentação é intensa em vários setores. “A feira da agricultura familiar, que passamos para as sextas-feiras à tarde, aumentou as vendas em 70%. Muito por conta da juçara. Tem sorvete, picolé, macarrão, casadinho, muitos produtos à base de juçara. E são eles, principalmente, que os turistas procuram quando visitam o município”, pontua.

Outro ponto turístico importante é a Confeitaria Cantinho do Bolo, instalada em um casarão de 1930, que vende vários pratos à base de juçara, além da Cajuçara, uma cachaça que leva um pouco de polpa de juçara em sua composição. “Levamos para um seminário nacional em Friburgo e vendeu tudo, não teve para quem quis”, conta.

Assim como os eventos, as pesquisas também se multiplicam, acrescenta Ana Paula. “Estamos desenvolvendo pesquisas com o coquinho da Juçara. Porque depois da despolpa, a quantidade de resíduo é muito grande, é um problema. Tem uma agroindústria produzindo um pó para bebida, como chá ou café e também para usar em bolos e biscoitos. A Esalq de São Paulo [Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo] e uma empresa, a Grão Juçara, pesquisam a utilização em ração animal, pelo elevado percentual de proteína”, elenca.

Um projeto turístico em gestação já foi premiado, ficando em primeiro lugar em um concurso do Sebrae. “Vamos implementar em breve. É uma rota da juçara, com caminhada, visita a agroindústrias, mirantes. Tem um mirante na propriedade de uma produtora que coleta a juçara na mata, despolpa, processa e produz os bolos, várias receitas”, pontua.

O potencial da rota é grande. Somente na parte alta do município, conta Ana Paula, “são mais de 200 propriedades e quase todo mundo tem juçara”. Ao lado de toda essa prosperidade econômica, existe um ganho ambiental importantíssimo, que é sustentar, com a geração de renda, a conservação da planta, que é classificada como Vulnerável nas listas brasileira e capixaba de espécies ameaçadas de extinção.

“Nós temos trabalhado na secretaria o fomentar ao plantio. Tivemos um seminário no mês de abril, que faz parte da festa, o Seminário da Palmeira Juçara, onde trouxemos vários palestrantes, que falaram sobre o plantio. Temos uma parceria com o programa Reflorestar, do Estado, que incentiva os plantios de juçara em consórcio com lavouras”, relata. “É uma palmeira ameaça de extinção. Se a pessoa corta para vender o palmito, acabou. A juçara não perfila como o açaí, da amazônica. Cortou, acabou, ela não rebrota. Mas se mantém a palmeira viva, todo ano colhe o fruto. A gente espera que esse trabalho ajude a tirar a juçara da ameaça de extinção”.

Ela explica que a extração hoje é feita basicamente em árvores nativas. “Elas foram ficando nas propriedades. São poucos os que têm plantios grandes. Mas muitos já estão enxergando o benefício financeiro de manter a palmeira, porque tem garantia de venda. Já é um complemento da renda importante e isso sem custo quase nenhum com manutenção. Não tem gasto com adubo, são poucos os tratos nas árvores”.

Política de Garantia de Preço Mínimo (PGPM)

A venda garantida agora é potencializada com preço justo também, com a entrada dos extrativistas na Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por meio de uma iniciativa do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Com a PGPM-Bio, o extrativista recebe um bônus, por meio de subvenção direta, quando comprovada a venda do produto por preço inferior ao mínimo fixado pelo governo federal. Além da juçara, essa política pública contempla outras 16 espécies, de diversos biomas brasileiros, que têm a atividade extrativista como auxílio na conservação: açaí, andiroba, babaçu, baru, borracha extrativa, buriti, cacau extrativo, castanha-do-brasil, macaúba, mangaba, murumuru, pequi, piaçava, pinhão, pirarucu de manejo e umbu.

No Espírito Santo, o trabalho de assistência aos produtores começou a ser feito em Rio Novo do Sul, mas a intenção é estendê-lo a outros municípios onde há a atividade, como Iconha, Castelo, Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins e Vargem Alta. “Quinze extrativistas da juçara de Rio Novo do Sul já foram contemplados com recursos da PGPM-Bio no ano passado”, afirma a extensionista do escritório do Incaper do município, Hanny Pereira.

A meta é ampliar o número de beneficiários ainda em 2024. “A remuneração melhorou. Em 2023, cada extrativista poderia receber até R$ 4 mil de subvenção, que é paga para que se atinja o valor de referência. Este ano, os ganhos extras podem chegar a R$ 5,5 mil por produtor”, compara.

A safra de juçara teve início em março e vai até outubro. O Incaper explica que os extrativistas que venderem o produto por valor inferior ao estabelecido pelo governo federal (R$ 4,04 por quilo, atualmente) podem procurar os escritórios locais do Instituto para cadastrarem a solicitação de subvenção à Conab.

Há 30 anos, por acaso

Técnico agrícola na prefeitura, Marcus Vinicius Oliveira de Castro lembra que a comercialização da polpa da juçara teve início no município há mais de trinta anos, na propriedade de Pedro Bortoloti. “Um amigo do filho dele, do Pará, viu a palmeira juçara e disse que era uma fruta muito saborosa. Os meninos então decidiram colher para experimentar, bateram no liquidificador e fizeram um suco. Seu Pedro decidiu começar a vender aqui nos mercados a polpa, mas falava que era açaí, porque ninguém conhecia a juçara”, conta.

Mas com o tempo, a identidade da palmeira da Mata Atlântica foi se sobressaindo. “Quando, depois de um tempo, ele contava que tinha a juçara, o pessoal já sabia diferenciar o sabor e pedia a ele que queria só a juçara, porque os fregueses constavam mais. O açaí é mais terroso, sabor mais forte. A juçara é mais roxinha, mais doce. E tem quatro a cinco vezes mais antocianina, que é um antioxidante que previne câncer, problema de coração, um monte de benefícios para a saúde”.

Com o tempo, o irmão de Seu Pedro abriu uma outra agroindústria e hoje os dois são os principais produtores de polpa de juçara no município. “Ele começou com um freezer em casa, hoje cada um tem uma câmara fria com capacidade para mais de 150 toneladas de polpa”.

Conservação, emprego e renda

Um dos extrativistas que vende para a família Bortoloti é o agricultor Diego Menegardo, cuja propriedade de banana e gado de corte tem visto a extração da juçara conquistar espaço e importância na vida e na renda da família.

“Eu comecei a tirar juçara há uns sete, oito anos, extrair o açaí da juçara. Porque aqui na minha comunidade tem a fábrica do Pedro Bortoloti, que faz a polpa da juçara. Como aqui na minha propriedade tem muita mata, então tem bastante pé desse palmito juçara. Ano passado a Hanny do Incaper entrou em contato comigo porque tinha esse programa do preço mínimo e ela inseriu a gente nesse programa. Tivemos uma ajuda de custo ano passado e foi bom para complementar o valor que a gente recebeu da fábrica. Foi uma ajuda bastante razoável”, conta.

A colheita hoje gira em torno de sete toneladas por safra, calcula Diego. Na comunidade como um todo, acrescenta, o benefício econômico também é visível. “Na nossa comunidade deve ter mais ou menos umas 20 pessoas trabalhando na fábrica, e fora os produtores que levam seus produtos para lá”.

Aliado a tudo isso, há à satisfação de contribuir com a proteção da natureza. “A gente fica muito feliz de estar preservando. Antigamente, essa palmeira juçara o pessoal cortava para vender o palmito e fazer dinheiro, hoje a gente preserva e ela serve de alimento para outros bichos também, porque a gente não extrai todos os cachos. Então é muito bom, porque ela dá o retorno financeiramente, e a gente consegue ainda preservar um palmito da Mata Atlântica, que está em extinção”.

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