Familiares de professor de capoeira assassinado em Itaúnas esperam que júri popular marque o fim da árdua luta por justiça
O julgamento de Tiago Passos Viana, o “Aranha”, assassino do professor de capoeira Cuarassy Pedro Medeiros Del Nery, será na quarta-feira (5), em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo. O advogado que atua como auxiliar do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Israel Domingos Jorio, avalia que “há grandes possibilidades de condenação do réu”, uma vez que o crime “não foi legítima defesa, e sim um assassinato frio”. Familiares da vítima se mobilizam para acompanhar o júri popular e esperam que o resultado concretize o fim da árdua luta por justiça.
O crime ocorreu em dezembro de 2020, na vila de Itaúnas. Cuarassy foi assassinado a tiros dentro de uma pousada. Israel relata que há muitas testemunhas que afirmam que a ação de Tiago, ao contrário do que o acusado tenta alegar, “não foi para preservar a própria vida”.
“A vida de um jovem foi tirada de modo estúpido, é algo que não se pode deixar passar em branco”, enfatiza o advogado. Embora haja muitas testemunhas, por ser apenas um acusado, a expectativa é de que o julgamento não dure mais de um dia.
Thiago, que permanece preso, irá a júri popular após dois anos da sentença proferida pelo juiz Leandro Cunha Bernardes da Silveira, que não acatou a tese de legítima defesa. Na decisão, o magistrado afirmou que há “provas suficientes nos autos para levar o acusado ao Tribunal do Júri, considerando os depoimentos prestados, laudo pericial, mídia anexada e o próprio interrogatório do réu”. Ao todo, foram ouvidas 11 testemunhas.
O crime
Tiago Aranha jogou a arma em um rio para impedir a perícia, dificultando as investigações e a produção de provas, como apontou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPES). O assassino fugiu do local do crime, apresentando-se à Delegacia Regional de São Mateus somente no dia seguinte. Em depoimento à Polícia, afirmou que adquiriu a arma, sem registro, cinco dias antes, e passou a andar com o armamento em local público.
“A vítima trabalhava em uma loja. Na ocasião, o denunciado chegou, os dois iniciaram uma discussão e entraram em luta corporal. Mesmo com moradores pedindo que o acusado se afastasse, ele foi ao interior de uma pousada e, após pegar uma arma de fogo, atirou contra a vítima, que morreu no local”, relatou o Ministério Público.
A Promotoria considerou o homicídio por motivo fútil, “já que Tiago tinha uma rixa anterior com uma pessoa, de quem a vítima teria tomado as dores. Essa situação foi relatada pelo próprio denunciado em um áudio enviado por aplicativo de celular a uma pessoa não identificada, logo após o crime, que foi juntado aos autos. Ele confessa que, além de ter cometido o homicídio, iria apagar do aplicativo a mensagem em que relata esses fatos”.
Tiago chegou a ser preso no mesmo mês em que cometeu o crime em São Mateus, mas foi libertado em janeiro de 2021, por ato do juiz Diego Franco de Santanna, que alegou excesso de prazo previsto para a conclusão do inquérito policial e sua entrega espontânea à Polícia. O magistrado não considerou, porém, o período de dez dias em que ele deixou de se apresentar após a decisão judicial que determinou sua prisão, publicada um dia após o crime e amplamente divulgada pela imprensa capixaba.
Em fevereiro de 2021, o mesmo juiz decretou a prisão preventiva de Tiago, que após meses foragido da Justiça, foi preso em julho do mesmo ano, em Colatina, noroeste do Espírito Santo.