Apesar dos aparentes ventos de bonança divulgados por Ricardo Ferraço, grupos seguem em sentido contrário
O “MDB autêntico, raiz, independente, já tem lado definido”. A frase se torna mais ouvida à medida que vão se aproximando as datas de definições de candidaturas estabelecidas pela Justiça Eleitoral, nos meses de julho e agosto, quando serão formalizadas alianças e parcerias. Mas em Vitória e também em parte do interior, o MDB, partido de destaque no cenário político, permanece em estado de crise.
Apesar dos aparentes ventos de bonança divulgados pelo vice-governador, Ricardo Ferraço, presidente da comissão provisória da legenda no Estado, por conta de articulações do círculo do governador Renato Casagrande (PSB), um “MDB paralelo” se movimenta nos bastidores de modo independente.
Ao contrário da direção já anunciada pelo Palácio Anchieta de apoio às pré-candidaturas de João Coser (PT) ou de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), essa fatia do partido tende a juntar-se para fortalecer a reeleição do atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Um cenário negativo, porque amplia a divisão para o maior partido do Estado em número de filiados, em baixa desde a desfiliação do então governador Paulo Hartung, em novembro de 2018, deixando à míngua auxiliares e aliados de longa data. Conta-se, entre eles, o ex-deputado federal Lelo Coimbra e o hoje vice-governador Ricardo Ferraço.
Esse contexto é real, em que pese o retrocesso que a reeleição de Pazolini represente, e vale lembrar uma cena registrada na época de sua eleição, em 2020: o prefeito eleito chegou ao seu comitê por volta das 18h45, acompanhado de Erick Musso, então presidente da Assembleia Legislativa, atual presidente do Republicanos, e de Lelo Coimbra, que havia sido exonerado da secretaria de Desenvolvimento Social do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os laços partidários configurados nesse fato permanecem, aponta o meio político, com ramificações que extrapolam o Espírito Santo e alcançam, entre outros, o poderoso estado de São Paulo e o governador Tarcísio de Freitas, um “novo Bolsonaro, com a diferença de saber usar os talheres”. Ele desponta como postulante à sucessão do presidente Lula em 2026 e tem sua base, como aqui, no reduto evangélico totalmente dominado pelo fascismo da teologia do domínio, com suas pautas de costumes e falso moralismo.
“O MDB autêntico, raiz, independente, está com Pazolini”, reitera um antigo emedebista, seguidor do bolsonarismo, ao falar da movimentação paralela à atuação de Ricardo Ferraço, que reuniu, no último dia 15, em Cariacica, 23 pré-candidatos a prefeituras, 30 pré-candidatos a vices, e chapas proporcionais em 75 municípios para disputar as câmaras de vereadores, de acordo com o balanço oficial.
A parceria, confirmada em 2020 com algumas candidaturas à Assembleia de egressos do MDB já em outras legendas, continua por meio de cargos comissionados na gestão municipal. Uma forma de ampliar elos partidários e fortalecer a tendência pró-Pazolini e, em consequência, a ala bolsonarista mais aceita pelas elites dominantes, embora, na prática, não haja muitas diferenças.
Um quadro desanimador para a parte do eleitorado que busca uma gestão voltada para a redução das desigualdades sociais, o desarmamento, a luta contra a pobreza e que possa dialogar com a sociedade de forma franca, a fim de ouvir e entender suas demandas.