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PF investiga pré-candidato de Cachoeiro por possível pesquisa falsa

Vereador Léo Camargo teria divulgado levantamento em que aparece como líder na corrida para a prefeitura

Divulgação/PL

A Polícia Federal (PF) está com um inquérito de investigação em andamento contra o vereador de extrema de direita Léo Camargo (PL), de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, por possível divulgação de pesquisa fraudulenta. Camargo é pré-candidato a prefeito de Cachoeiro nas eleições municipais de outubro deste ano.

A informação sobre a existência do inquérito (nº 0600062-73.2024.6.08.0048) consta na página de Processo Judicial Eletrônico (PJE) do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – a última movimentação é de sexta-feira (19), mesmo dia em que o presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, esteve em Cachoeiro para um encontro da sigla. Porém, não foram divulgados detalhes sobre o que motivou a abertura do inquérito.

Em abril, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) entrou com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contra Léo Camargo, alegando que o vereador divulgou em suas redes sociais uma suposta pesquisa eleitoral em que aparece na liderança em intenção de votos para prefeito de Cachoeiro. O levantamento de opinião, entretanto, não teria sido registrado na Justiça Eleitoral.

O juiz Roney Guerra, da 2ª Zona Eleitoral de Cachoeiro, acatou liminarmente o pedido para que Léo Camargo apagasse a divulgação da suposta pesquisa, e a imprensa de Cachoeiro publicou notícias sobre o deferimento da liminar. Mas, posteriormente, a ação movida pelo PDT foi julgada improcedente – Século Diário não teve acesso ao teor da decisão.

Ainda em abril, Léo Camargo fez postagens nas redes sociais nas quais classificava como “fake news” as notícias de que teria sido “punido” pelo TRE. O diretório municipal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) pediu, na ocasião, punição ao vereador por causar “desinformação no eleitorado”, ao desqualificar as matérias jornalísticas. Já a defesa de Camargo “se insurgiu”, dentro do processo, contra as notícias veiculadas.

O Colegiado do TRE, porém, rejeitou os dois pedidos, conforme acórdão publicado no último dia 3. O PSDB entrou com um recurso, novamente negado (processo 0600031-53.2024.6.08.0048). “Registro que, para a seara eleitoral, o conteúdo da postagem do recorrido na rede social não possui potencial desinformativo, além de não atender aos requisitos de notoriedade e repercussão ou interferência negativa no pleito”, afirmou em seu voto o juiz relator do processo, Renan Sales Vanderlei.

“Isso porque”, continua o relator, “a desinformação a qual a Justiça Eleitoral busca se debruçar é aquela que decorre de acusações político-eleitorais de natureza grave, com a consciência da falsidade ou intencionalidade lesiva, capazes de causar danos ao equilíbrio da eleição, à honra e dignidade daqueles que participam do pleito ou à higidez e integridade do processo eleitoral o que, conforme demonstrado, não restou configurado na hipótese dos autos”.

Em relação às manchetes das matérias que motivaram a reclamação de Léo Camargo, o juiz afirma que, de fato, não correspondem totalmente à verdade do ponto de vista técnico, tendo em vista que não foi o “TRE” que “puniu” o candidato, e sim o juiz eleitoral que deferiu uma liminar. De qualquer forma, não é o caso de tratar as reportagens como falsas, segundo o relator.

“A despeito de citadas notícias ostentarem chamada sensacionalista e/ou tecnicamente inadequada, não configuram inverdades inequívocas, eis que o ‘homem médio’, assim entendido como uma pessoa comum, de cultura mediana, que reside no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES, é capaz de entender que a notícia ‘TRE pune pré-candidato da extrema direita por fraude’ refere-se à decisão do juiz eleitoral da cidade (‘TRE’) que proferiu uma ‘punição’ ao pré-candidato, consistente em uma determinação de suspensão de divulgação de pesquisa eleitoral”, diz o relator.

O PDT e o PSDB são da base do atual prefeito Victor Coelho (PSB) e deverão compor a aliança representada pela candidata governista Lorena Vasques (PSB), e Léo Camargo é um notório opositor da gestão atual do Poder Executivo cachoeirense. A notícia de que a PF está investigando o vereador representa, no entanto, um aprofundamento do caso para além da disputa eleitoral em si.

De acordo com o TSE, foram registradas sete pesquisas eleitorais sobre o cenário de Cachoeiro de Itapemirim para as eleições 2024, entre 8 de abril e a última sexta-feira (19). Três delas realizadas pela empresa Leia Pesquisa e Marketing LTDA, duas pela Directa Consultoria e Publicidade LTDA, uma pela Direta Eventos e Propaganda, e uma pelo Instituto Verita LTDA.

A postagem de Léo Camargo que o cita como líder na corrida eleitoral em Cachoeiro coloca, segundo a exposição do advogado do PSDB no processo, o Instituto Paraná Pesquisas como autor – ou seja, uma empresa que não registrou levantamentos eleitorais em Cachoeiro neste ano.

A última pesquisa divulgada até a tarde desta segunda foi realizada pela Leia Pesquisa e Marketing. De acordo com o jornal Folha do Espírito Santo, Theodorico Ferraço (PP) aparece como líder de intenção de votos (39,98%), seguido por Diego Libardi (do Republicanos, com 29,89%), Léo Camargo (11,07%), Carlos Casteglione (do PT, com 6,19%) e Lorena Vasques (2,44%).

A Folha do Espírito Santo é de propriedade do jornalista Jackson Rangel. Ele ficou preso durante um ano, entre 2022 e 2023, acusado de milícia digital privada, denunciação criminosa, ameaças e atos antidemocráticos, em um inquérito comandado pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Rangel também foi condenado no ano passado em um processo movido pelo prefeito de Cachoeiro por difamação.

Divulgação/PL

Visita de Valdemar

A vinda de Valdemar Costa Neto a Cachoeiro na última sexta-feira tem sido encarada no mercado eleitoral como uma demonstração de apoio a Léo Camargo, em meio a boatos de que ele poderia desistir da candidatura a prefeito.

Camargo foi indicado como o pré-candidato do PL na disputa majoritária após os conflitos que resultaram na saída do também vereador Júnior Corrêa (Novo) – que alegou que deixaria a política para se tornar padre, mas que, posteriormente, se tornou vice na chapa de Theodorico Ferraço (PP).

Além de Valdemar, participaram de um encontro do PL na cidade outras lideranças da sigla no Estado, como o senador Magno Malta, o deputado estadual Callegari e pré-candidatos de outras cidades do sul do Espírito Santo.

Sem respostas

Questionada sobre o inquérito envolvendo Léo Camargo, a Polícia Federal informou, em nota, que não comenta sobre eventuais investigações em andamento. O vereador de extrema direita também foi procurado por Século Diário, mas não deu retorno até o fechamento desta matéria.

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