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Alunos da Ufes defendem que aulas devem ser retomadas somente com RU aberto

Estudantes fecharam prédios da universidade e realizam plenárias para ampliar o movimento

“Sem RU, sem aula”. Esse é o lema dos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que iniciaram piquetes nesta quarta-feira (24). O grupo fechou o Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN); o ED I e o ED II, no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE); e os prédios 9, 1 e 2 do Centro Tecnológico (CT). No decorrer do dia, haverá plenárias com alunos do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) e do Centro de Artes (CAr) para deliberar sobre o fechamento também desses prédios.

O RU está fechado, de acordo com a Ufes, porque em todos os campi os restaurantes entraram em manutenção no dia 15 de julho. A instituição alega que essa atividade é programada anualmente para ocorrer no período de recesso acadêmico, que teria início neste mês de julho. “No entanto, em função da greve dos servidores docentes e técnico-administrativos, e da necessidade de reformulação do calendário, que alterou a data do recesso, a manutenção coincidiu com o período em que as atividades acadêmicas ainda estão sendo realizadas”, aponta. 

A universidade destaca, ainda, que para manter a oferta de refeições aos usuários, foi realizada a contratação de empresas para o fornecimento de marmitas durante o período da manutenção, e que a previsão de reabertura do RU é na próxima semana. 

De acordo com a diretora de Comunicação do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Bianca Gomes, os estudantes defendem que enquanto o RU estiver fechado, não deve haver aulas, uma vez que a alimentação não tem sido garantida para todos. As alternativas apresentadas pela Ufes para possibilitar a alimentação, destacam os universitários, são falhas.

No campus de Goiabeiras, informe Bianca, estavam sendo destinados R$ 30,00 por dia. O valor foi reduzido, conforme anúncio feito pela Ufes nessa terça-feira (23), para R$ 20,00 por dia. A janta é uma marmita oferecida pela instituição de ensino, que deve ser solicitada pela internet. Os estudantes apontam que R$ 20,00 é um valor pequeno para a alimentação e que a quantidade de marmitas adquiridas pela universidade não tem atendido à demanda. 


No campus de Alegre, sul do Estado, o valor é de R$ 30,00 para as duas refeições diárias. De acordo com a universidade,  no caso de Alegre, “não houve empresa apta para o fornecimento de marmitas no campus para o almoço e para o jantar”. O valor também é considerado insuficiente pelos alunos.

Nesse campus, os alunos destacam, ainda, o fato de ser em um local isolado, sem facilidade de acesso a estabelecimentos onde possam se alimentar. O mesmo acontece em São Mateus, no norte, que fica a cerca de 12 km do Centro. No campus de Maruípe, onde só é fornecido almoço, a universidade, relata Bianca, disponibiliza marmita até 12h30, porém, quem faz estágio no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), sai às 13h.


No que diz respeito ao fornecimento das marmitas, a Ufes, por meio da Diretoria de Gestão de Restaurantes (DGR), afirmou que os agendamentos com antecedência “são necessários para que as empresas fornecedoras tenham dimensão das quantidades a serem fornecidas, mas informa que todos os estudantes que procuram o RU, mesmo sem agendamento, têm sido atendidos”. 

Isso tem sido possibilitado, segundo a instituição, “porque os excedentes, provocados pela não retirada de refeições agendadas, têm sido gerenciados e disponibilizados de maneira controlada para estudantes que não realizaram o agendamento, a fim de atender aos interessados e reduzir desperdícios”.


As aulas chegaram a ser suspensas pela Ufes em Goiabeiras nessa sexta-feira (19), nos períodos matutino e vespertino, pois um dia antes, informa a universidade, a empresa fornecedora de marmitas para o almoço comunicou que, “por razões técnicas, não poderia manter o fornecimento das refeições”. Ainda segundo a Ufes, “como não houve alteração no fornecimento de marmitas para o jantar, as aulas do período noturno foram mantidas”. 

Manifestações

As manifestações dos estudantes começaram a se intensificar nessa segunda-feira (22), quando o valor do almoço não foi pago. O estudante Romes Marques Moreira chegou a ser preso na Penitenciária de Segurança Média II (PSME II), em Viana, após quebrar as vidraças da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (Propaes). A confusão ocorreu quando o universitário foi ao local pedir explicações sobre o porquê de o auxílio alimentação emergencial não ter sido pago aos estudantes.
Romes recebeu alvará de soltura nesta terça-feira (23). O defensor público Antônio Ernesto, que acompanhou o caso, informa que o jovem terá que cumprir medidas cautelares, devendo comparecer em juízo mensalmente. O próximo passo, afirma, é aguardar o fim do inquérito policial e a decisão do Ministério Público Federal (MPF). O processo se encontra em segredo de Justiça. Em entrevista a Século Diário, o noivo de Romes, Vinícius Silva e Souza, relatou que, além de não ter recebido o auxílio, por falta de acesso à internet estudante não conseguiu solicitar a marmita da janta, o que o motivou ir até a Propaes.
Vinicius relata que Romes se encontra em situação de vulnerabilidade social. Ele foi dispensado do estágio, na Propaes, onde recebia uma bolsa no valor de R$ 700,00. O argumento utilizado pela universidade para isso foi a greve dos professores, que se encerrou no início de julho, após quase três meses de movimento. Por isso, ele ficou somente com a bolsa permanência, que é de R$ 550,00, a qual utiliza para pagar aluguel e outros gastos com moradia, como água e luz.

Ainda segundo Vinícius, por causa das dificuldades financeiras, Romes ficou sem se alimentar no último final de semana. Além disso, informa, o rapaz é neurodivergente e se alterou quando, em meio a uma discussão na qual pedia explicações aos servidores da Propaes, foi tocado por alguns deles e com a chegada da Polícia Militar (PM), acionada pelos trabalhadores da Pró-Reitoria.


Por meio de nota, a Ufes anunciou que a Propaes não abriria as portas nesta terça, “devido à necessidade de limpeza e reorganização”, e manifestou solidariedade aos servidores da Pró-Reitoria, em especial à diretora de Assistência Estudantil, Déborah Nacari, “que foram intimidados, ameaçados e agredidos por um estudante que invadiu o prédio onde funciona a Pró-Reitoria, no campus de Goiabeiras, e, de forma inesperada, quebrou móveis, equipamentos e vidraças do local”. A universidade acrescenta que, “durante a ação ocorrida na manhã desta segunda-feira, 22, o estudante ameaçou e agrediu verbalmente a diretora, que se manteve calma e tentou estabelecer um diálogo com o aluno”.

A Ufes afirma que uma ambulância do Samu esteve no local, mas após avaliação feita pelos profissionais de saúde, constatou-se não haver necessidade de socorro para nenhuma das pessoas envolvidas. Déborah Narcari também foi à delegacia, acompanhada por representantes da Reitoria, onde prestou depoimento e realizou exame de corpo de delito. “A Administração Central da Ufes reafirma seu repúdio a toda forma de agressão, intolerância, manifestação ou expressão que atente contra valores sociais e humanitários. Reforça ainda que todo e qualquer ato de violência ocorrido dentro de seus campi será apurado, a fim de que sejam adotadas as providências previstas em lei, sempre que necessário”, finaliza a nota.

A garantia de alimentação na universidade, inclusive com garantia também da qualidade da comida, é uma reivindicação antiga dos estudantes e sempre motiva mobilizações. Em maio de 2023, o que inicialmente seria apenas um protesto no RU no horário do almoço e do jantar, culminou em uma ocupação na Reitoria. No almoço, os alunos bloquearam a roleta do RU e o acesso ao restaurante foi possibilitado a todos pela porta, como forma de se manifestar contra as ameaças de processo administrativo contra quem pula roleta por não ter condições de pagar pela refeição, que custa R$ 5,00. A universidade, então, não abriu o RU no jantar e informou que não abriria em nenhum horário no mesmo dia, o que motivou a ocupação.

Em 2022, quando as aulas presenciais voltaram após pandemia da Covid-19, os estudantes denunciaram problemas na logística do RU, que, naquele momento, funcionava por meio de agendamento. Alunos que precisavam ficar no campus o dia todo reclamaram que, muitas vezes, ficavam com fome porque não conseguiram agendar a refeição com pelo menos 24h de antecedência, como é exigido pela instituição. Eles denunciaram que o sistema de agendamento era muito burocrático e que muitos não encontravam mais opção de reserva, demonstrando que havia limite de vagas.

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