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Portugal é logo ali

Eram recebidos de braços abertos, sem uma tocha ameaçando botar fogo na casa

Meyra e Leida se separaram depois de cinco anos de constantes atritos conjugais. Entre tapas e beijos. Seja com brigas ou em procedimento amigável, a separação é sempre dolorosa. Ela vai chorar na igreja evangélica da esquina, ele enche a cara no bar em frente. Ela parou de ir ao cabeleireiro, ele parou de fazer a barba, o que já pretendia mesmo fazer. Coisas de preferências individuais, que a todos acometem vez ou outra. O problema é o que fazer da vida depois do desenlace fatal. Quanto mais longe, melhor, é o acordo derradeiro e inabalável.

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Vou mudar para Portugal, ele informa por e-mail. Uma decisão razoável, visto que todo mundo está indo para Portugal. O Brasil é um caldeirão de raças, e Leida tem ascendência italiana, o que talvez explique a preferência por pizza em qualquer tempo e lugar. Até na festa de casamento, embora o Meyra tenha optado por uma polenta com iscas de fígado. Não querendo ser humilhada pelo ex, Leida decide ir morar na Itália, berço da Mona Lisa.
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Houve um tempo em que, em tais situações, os brasileiros desiludidos dos negócios ou dos amores se mandavam para os States. País onde jorram leite e mel, mas custam caro. A estátua da liberdade só não nos abraçava porque tem que levantar a tocha com a mão direita, e salvaguardar a declaração de independência na mão esquerda – ou a coisa toda desmorona. Lady Liberty, como carinhosamente a chamam os americanos, representa a deusa romana da liberdade, mas não sorri para ninguém. Nem poderia, com a picanha no açougue a R$ 80,00 o quilo.

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Nesses tempos conturbados que vivemos, com a ameaça do Trump atacar o Capitólio mais uma vez, a leva de turistas verde-amarela se voltou para a Europa, e Portugal abriu os braços. Quousque tandem? Lembro ainda de um tempo em que a viagem se dava em sentido inverso – os portugueses invadiam o Brasil sem cerimônia e sem muitas perguntas na alfândega. Vem que tem, era o samba da moda. Eram recebidos de braços abertos, sem uma tocha ameaçando botar fogo na casa.

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Com eles ou depois deles vieram as levas de Italianos, libaneses, alemães, espanhóis, japoneses. Era o pós alguma guerra em algum lugar, que em ninho de cobras não faltam motivos para disputas. A Europa já não é o paraíso dourado dos turistas endinheirados e dos aventureiros insatisfeitos, com as hordas de refugiados tentando se acomodar onde lhes garantam um pouco de respeito. O mundo deixou de ser um melting pot e se transformou num boilling pots.

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Nossa paisagem também vai mudando, e hoje a maioria dos nossos futuros residentes são haitianos e venezuelanos. Esses voltarão correndo se o fruto maduro cair do galho. Ou se, como no Brasil, o resultado das eleições for respeitado. Quanto às discordâncias conjugais, tem gosto pra tudo e jeito pra todos, ou a solidão é boa conselheira. Ao se mudar para o Edifício Portugal, na Praia do Canto, Meyra depara com a Leida, que se mudou para o Edifício Itália, na outra esquina. Beijim pra lá, beijim pra cá, como manda a boa educação. E aí, gostou da abertura das Olimpíadas? Adorei, a França arrasou! Está bem instalada? Sim, mas… tem uma torneira pingando. Posso ver isso pra você.

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