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Coletivo fará manifestações contra capacitismo na Ufes nesta quarta-feira

Estudantes denunciam caso de reprovação de aluno autista em edital de Iniciação Científica

O Coletivo Neurodivergentes, que atua em defesa dos direitos de neuroatípicos e Pessoas com Deficiência (PCDs) na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), vai realizar duas manifestações no campus de Goiabeiras nesta quarta-feira (31). A primeira será às 13h, no prédio da Reitoria. A outra, às 18h, no Restaurante Universitário (RU). O coletivo aponta capacitismo na reprovação do estudante André Luís Fazzolo no edital de Iniciação Científica como voluntário.

Durante as manifestações, também serão abordadas diversas pautas pelas quais neuroatípicos e PCDs têm lutado dentro da instituição de ensino. Em ambos os protestos, haverá panfletagem, afixação de cartazes e apresentações culturais.

O universitário é autista e, no projeto, seria orientando do professor do Centro de Educação, Douglas Ferrari, que tem deficiência visual. André Luís, que cursa História, faria uma pesquisa sobre a educação voltada para os cegos nos séculos XVIII, XIX e XX e a trajetória do Instituto Benjamim Constant (IBC).

Ligado ao Ministério da Educação (MEC) e criado por Dom Pedro II, o IBC é uma instituição de ensino voltada para pessoas com deficiência visual. Contudo, embora o estudante tenha tirado boa nota no pré-projeto, o comitê avaliador, informa André Luis, afirmou que a escrita do projeto apresentava problemas quanto à norma culta, não contemplava as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) no objetivo geral, e o texto está na primeira pessoa do singular, “levando a crer que o estudante não tem orientador”. 

O estudante lamenta o ocorrido. “O problema é que na Ufes a voz é do professor, o aluno é uma formiguinha que o professor pisa como se fosse um lixo”, diz, recordando que tentou fazer um projeto de iniciação científica com docentes de seu departamento, mas que nenhum se prontificou a orientá-lo por causa da neurodivergência.
A estudante Kael Miguel Lopes, que integra o Coletivo Neurodivergentes, aponta que o fato de André Luís ser autista foi determinante para sua reprovação. De acordo com ela, muitas pessoas neuroatípicas têm dificuldade na escrita, portanto, a universidade deveria disponibilizar tanto para o estudante quanto para seu orientador, que tem deficiência visual, uma monitoria para auxiliar na elaboração do texto. Esse tipo de monitoria, na graduação e na pós-graduação, será uma das reivindicações dos protestos desta quarta.
As demais dizem respeito ao Restaurante Universitário (RU) e à Perícia para avaliar se de fato os estudantes podem ingressar na universidade por meio de cotas para PCDs.

No que diz respeito ao RU, os universitários reivindicam a reabertura do “RUzinho”, um espaço que se encontra fechado e que, conforme apontam, se reaberto diminui o barulho no ambiente, o que é importante para pessoas neuroatípicas. Outras reivindicações são identificar PCDs e pessoas neuroatípicas com uma coloração diferente no cartão do RU para ter prioridade na entrada no restaurante; disponibilização de pessoas nas portas laterais para possibilitar a entrada dos cadeirantes, já que elas ficam fechadas e é preciso aguardar muito tempo até que alguém apareça para abrir; e distribuição de protetor auricular.

Também consta entre as demandas, no caso de fornecimento de marmitas, possibilitar que os alunos se sirvam, porque algumas pessoas neuroatípicas não comem se um determinado alimento encostar no outro. Ao poder fazer a própria marmita, o estudante, portanto, tem a possibilidade de escolher os alimentos.

Em relação à Perícia, a reivindicação é que seja feita por especialistas em neurodivergência e que a Secretaria de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade (Siac) acompanhe o processo.

Essas iniciativas, acreditam os universitários, evitariam problemas como o ocorrido no início do primeiro semestre letivo de 2024, quando a Perícia da Ufes não reconheceu que as estudantes Alice Martins Guedes e Letícia Assunção Ramos são autistas. Após protestos, elas passaram por uma nova Perícia, que reconheceu, mas elas acabaram não podendo efetivar matrícula no curso de Medicina por meio de cotas para PCDs. A alegação da universidade foi de que a quantidade de vagas já estava completa.

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