Com menos cinco dólares, mas não tive que ir buscar em Caratoíra
Enquanto todos falam nas Olimpíadas – seja para elogiar ou criticar – eu me dedico a investigar em profundidade a escassez da água de coco na economia informal. Pois não faz tanto tempo assim, a gente se deparava com um vendedor do produto, em copinhos ou garrafinhas, aboletados em cada esquina da cidade presépio. Era uma festa!
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Os coqueiristas estão tão arraigados à paisagem urbana que são usados como pontos de referência – Fica na esquina do Josias, não tem erro. Me encontra no ponto do Sêo Maneca, o da carrocinha azul. Fazem também serviços de utilidade pública – Alô, achei sua carteira cheia de dólares num ônibus para Caratoíra. Muito obrigada, amigo! Faz o favor de deixar com o Janjão, na esquina do Tiffany. Pega uma notinha de cinco pelo favor! E não é que a carteira estava lá? Com menos cinco dólares, mas não tive que ir buscar em Caratoíra.
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Antigamente tinha carrocinhas de pipoca em todas as esquinas. Antes delas vinham os vendedores de quebra-queixo, badalando um sininho. Não quebravam o queixo de ninguém, mas desastrosos para os dentes. Antes deles vinham os verdureiros, os leiteiros, os engraxates. Pelé foi um deles! O progresso é um mágico maldoso, fez tudo isso desaparecer do cenário urbano. Os coqueiristas terão a mesma sina?
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Talvez algum desastre ecológico os assalte – Os coqueiros foram devorados pelas palmeiras, mais elegantes e ornamentais, mas não dão frutos com água dentro. Pode ser que minhas pesquisas nada revelem, mas percebo um vazio pelas esquinas da cidade – tem dias que não consigo comprar minha garrafinha de água de coco por mais que ande e procure. Um bom exercício físico, mas desidratada. Quando encontro alguma delas, tenho que esperar meia hora porque o coqueirista está no outro lado da rua, onde atende uma banca de capinhas de celulares.