Lançado na última quinta-feira (29) em exibição na Casa Criem, em Colatina, noroeste do Estado, e já disponível para ser assistido no YouTube, o documentário Luz aos Atingidos da Cidade: memórias amargas de um Rio Doce” retrata a realidade e os problemas causados pelo crime socioambiental da Samarco/Vale-BHP em moradores da parte urbana de Colatina, município com mais de 120 mil habitantes que se desenvolveu a partir das margens do Rio Doce, sua única fonte de captação de água para a população hoje.
“Acho que o filme pode contribuir no entendimento dos moradores urbanos enquanto atingidos, porque muita gente pensa que atingidos foram só os pescadores, ribeirinhos, areeiros. A ideia é mostrar que nós, cidadãos urbanos, também sofremos impactos, mostrando em vários momentos como estamos sendo atingidos. Serve de prova, são depoimentos muito verdadeiros, então acredito que seja uma boa ferramenta de luta”, afirma o diretor do filme, Nico Dias, que ressalta que a obra foi construída por várias mãos, desde pesquisadores que ajudaram a selecionar os entrevistados, que apresentam falas contundentes, até a equipe de filmagem e de pós-produção.
Em 32 minutos, a obra audiovisual escuta desde cidadãos comuns e ativistas até um advogado de defesa dos atingidos, o presidente do Comitê de Bacias do Rio Doce e o prefeito de Colatina, Guerino Balestrassi (MDB). “São pessoas que estão na luta há muito tempo, muitos deles desde o início, quando ocorreu o rompimento da barragem há nove anos”, destaca o diretor. As imagens mostram pessoas que até hoje buscam encher galões com “águas alternativas”, vindas de nascentes e não oriundas do Rio Doce, para abastecerem suas famílias.
As narrativas lembram também dos momentos seguintes ao crime, quando as empresas distribuíam água em alguns pontos da cidade, o que gerava grandes filas, conflitos e dificuldades para as famílias. A insegurança sobre a qualidade da água, que ainda persiste, mesmo que a empresa busque apresentar laudos de que estaria apta para consumo, e a preocupação com problemas de saúde que aconteceram, acontecem e podem vir a acontecer, são algumas das tônicas principais do documentário.
Depois da primeira exibição pública, o diretor optou por já deixar a obra disponível gratuitamente para o público pela internet, para que possa alcançar mais pessoas, incluindo recursos de acessibilidade como legendagem e, em breve, libras. A obra ainda deve ser inscrita para participar de festivais e distribuída para secretarias municipal e estadual de Educação, cineclubes e outras instituições culturais.